METAMORFOSE

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Já é de noite. As únicas coisas que eu ouço é o grilo cricrilando no jardim em frente ao meu quarto e o farfalhar das folhas das árvores. O relógio do computador marca 2:47. Fiquei o dia todo escrevendo. Meus olhos estão cansados. Fecho o programa de escrita e desligo o computador.

Vou até o banheiro para escovar os dentes. Pego a escova e a pasta dental e a levo até a boca, fazendo movimentos circulares e depois de vai e vem, depois pra cima e pra baixo, depois circulares de novo. Quando cuspo a espuma, vejo que minhas mãos estão diferentes. Antes, eram brancas. Agora estão escurecendo, indo do marrom ao preto e ao mais preto muito rapidamente. Olho para a outra mão e ela também está mudando. Largando a escova na pia, levanto as mãos, que agora começaram a alongar os dedos, criando pontas afiadas, parecidas com garras.

Olho no espelho e o que vejo me assusta: meu corpo também se modificou: agora ele está maior, mais largo. A camisa rasgou, deixando visível meu peito escuro, com as costelas visíveis. Olho para baixo e vejo que as pernas estão mais compridas, mais magras, quase só o osso. Meus pés também estão pretos, as unhas dos dedos afiadas.

Sinto minha coluna curvar, os joelhos dobrarem. Olho no espelho de novo e vejo que meu rosto continua o mesmo.

Aos poucos, ele se transforma: fica marrom, depois mais escuro e por fim num preto igual ao céu da noite. Igual à escuridão total. Igual à morte. Depois, o cabelo cai e dois chifres crescem, cada um apontando para uma direção. As bochechas foram sujadas, me deixando com uma aparência cadavérica. A concavidade dos olhos tinha a cor ainda mais escura do que a pele, a boca era um buraco gosmento, sem dentes, mas enorme. Quando a abro, sinto um arrepio percorrer minhas costas.

Vejo que não tenho mais pele, apenas os músculo e veias empretecidas. Posso ver alguns ossos em algumas partes, ainda brancos.

Sinto meu corpo ficar mais alto. Encosto a cabeça no teto e me curvo mais.

Sinto algo passando por mim, como se fosse uma descarga de energia, uma força fluindo pelo meu corpo, me enchendo de vivacidade e prazer.

Me olho no espelho e sinto que a transformação está completa.

Saio do banheiro e olho para o relógio na sala: 2:58.

A hora está quase chegando.

A hora em que tudo mudo.

A hora em que eu me liberto.

MonstrosDonde viven las historias. Descúbrelo ahora