Capítulo 2

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POV – Rosé

Foi suficiente apenas uma pequena fresta na janela do dormitório para me acordar. A faixa de luz solar queimava minha retina e me presenteava com uma dor de cabeça lancinante.

O pior foi quando tentei me mover e percebi que meu corpo todo estava dolorido. O que aconteceu noite passada? Será que eu tinha esquecido a parte em que eu havia sido atropelada por um caminhão, cinco carros e três motos? Porque essa era a única explicação plausível para toda aquela dor muscular.

Tentei me levantar protegendo a vista daquela fresta, que agora eu odiava mais que tudo, e gemi em protesto.

Deixei meus olhos se adaptarem ao quarto parcialmente escuro e forcei para enxergar onde estava a amiga que dividia o quarto comigo. Sua cama estava vazia e arrumada. Será que ela não tinha vindo dormir aqui?

Antes que eu pudesse me preocupar, a porta se abriu de forma estrondosa, com uma Jennie bem humorada atrás dela.

– Bom dia, flor do dia! A rosa mais linda do meu jardim! – Ela já estava completamente vestida e sem olheiras. Na verdade, sem qualquer outro indício que denunciasse seu mau estado na noite passada.

– Como isso é possível? – Fiz um gesto que abrangesse todo o seu entusiasmo não justificado.

Ela jogou os cabelos para o lado, como quem se gabasse e abriu um sorriso.

– Eu tenho meus segredinhos.

Jennie tirou da bolsa um vidrinho e balançou, para que eu identificasse seu conteúdo. Fazia sentido.

Estendi minha mão e ela despejou dois comprimidos para dor de cabeça e enjoo.

– Delícia. – Ironizei.

– Ácida, como sempre.

– Eu tenho motivos. Eu sou jovem demais pra ter ressaca, por Deus...

– Acho que você pediu por isso. Meu bem, você misturou de um tudo naquele bar. – Jennie veio maternalmente com um copo d'água em minha direção.

Dizer que Jennie era uma colega de quarto era um eufemismo muito grande. Ela era minha melhor amiga desde sempre. E o que compartilhávamos de interesses, divergíamos na mesma medida em personalidade. A garota era muito mais que uma amiga ou irmã, era uma alma gêmea. As nossas diferenças simplesmente faziam com que nos encaixássemos de uma maneira única.

– Como chegamos aqui, afinal?

– Nem me pergunte. Certas coisas a gente não precisa saber, só agradecer ao universo mesmo. Agora vamos, baby. O semestre mal começou e você já vai chegar atrasada na aula. Bora, bora! Trouxe café. Hoje é outro dia! – Ela dizia isso enquanto se movimentava pelo quarto como um furacão, arrumando minha cama, juntando peças de roupa e jogando uma calça e uma blusa em minha direção.

Tinha certeza que ela havia tomado esses comprimidos com energético.

Enquanto caminhávamos para o mesmo prédio, que ficava do outro lado do campus, aproveitei para perguntar mais sobre a noite passada.

– Jennie, você sentiu alguma coisa estranha?

– Como assim?

– Ontem. Você sentiu algo estranho? Tipo como se estivesse sendo observada, não sei.

– Ah, nossa o tempo todo! – Senti um alívio profundo por ter alguém que compartilhasse da mesma sensação que eu, me achei menos estranha. Ela prosseguiu: – Tinham uns caras nojentos olhando pro meu decote naquela hora que a gente tava no balcão, sabe?

Do Outro Lado Daqui ~ ChaelisaOnde histórias criam vida. Descubra agora