Os dedos longos vestidos com o couro escuro de sua luva retiravam o objeto prateado do carvalho frio, a tez sóbria sustentava consigo o silêncio aterrador que me amedrontava em maior intensidade que as consequências naquele momento. Minhas mãos transpiravam e se prendiam ao meu vestido devido a esperança de amenizar meu nervosismo quando a atenção do homem se dirigiu a mim novamente.
— Creio que devo perguntar o que faz sozinha no quarto de um homem, Srta. Grace? — A voz incisiva expelida devagar vibrava na brisa gélida que estremecia meu corpo pela janela entreaberta.
Seus passos ficavam mais altos à medida que se aproximava, tencionando meu estado imóvel pelo receio. Entreabri os lábios a explicar as circunstâncias que me levaram a prática de tal atrevimento, mas cessaram assim como seus passos a uma distância estreita o suficiente para sentir o perfume dos pinheiros que pareciam fazer parte de quem ele mostrava ser.
Resfoleguei apossada por um torpor que paralisava meus sentidos. Apesar de sua presença incontestável, ressaltando que era alto o suficiente para que não conseguisse ignora-lo, mesmo que eu desejasse desesperadamente que isso acontecesse, o afano permanecia entre seus dedos e seu olhar esperava uma confissão.
— Eu . . . — Mantive firme as mãos em meu vestido, esperando que isso resguardasse o mínimo de coragem para continuar. — Eu sinto muito, certamente não deveria ter feito isso, mas não o faria se não possuísse motivos. — Minha respiração se encontrava desregulada, levantei meu olhar encontrando seu rosto que intransigente enfatizava seu olhar severo.
— E quais seriam esses motivos? — A pergunta insinuava sua predisposição ao me entender, fato que me surpreendeu de o mesmo não ter imediatamente se direcionado as autoridades locais para me depor.
— Eu vivo em um abrigo feminino. — Seu olhar subitamente interessado era sútil, mas atento. — Posso dizer que a situação que nos encontramos não seria das mais encorajadoras já que estamos a um fio de perder nosso lar. — Engoli seco perante ao pensamento aterrador antes de continuar. — Por isso que trabalho nessa espelunca e por isso quê. . . — Minha atenção voltou-se ao objeto luzidio em sua mão. — O restante o senhor já sabe, aceitarei quaisquer consequências por minhas ações. — Aprumei-me erguendo o queixo enquanto aguardava a sentença.
Mantive-me calada por um momento pelo constrangimento acentuado do qual o homem claramente esperava que eu sentisse por tal ação. Pensei que o mesmo pouco pareceu se importar com a informação, mantendo o silêncio, mas notei seu olhar carrancudo ser amenizado por algo discreto e consterno, piedoso em seus trejeitos moderados, pensativo pela quietude.
— É um motivo digno, mas não posso deixar você isenta de certa penalidade. — Proclamou colocado o anel em seu anelar esquerdo, sua voz saía firme, mas do seu próprio modo pacifico. — Volte para casa, Srta. Grace, é perigoso para uma garota caminhar sozinha. — O homem se distanciou, o observei retirar alguns papeis de sua maleta assim como os óculos para leitura. Meus ombros relaxaram ao perceber que a aproximação prévia abdicou-se de ser mais um empecilho. — Resolverei essa questão amanhã, por hora tenho trabalho a fazer. — Proferiu começando a leitura dos documentos em suas mãos.
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A Sociedade Noturna
Loup-garouAnne Grace é uma jovem que vive em um abrigo feminino no pequeno condado de Littlewind. Ao saber que o lugar está sujeito a ser fechado, a garota se vê em apuros ao tentar roubar de um nobre na esperança de conseguir amparar seu lar, o que Anne não...