Ás de Copas

Carta IV

Maputo, 1 de outubro de 2020

Saudações, Ayana! Espero que estejas bem de saúde e que nada te esteja a faltar na vida que tens vindo a levar. Aliás, na verdade, espero que eu seja o que te está em falta, apenas.

Espero que a carta que te escrevo hoje seja para reconfirmar a saudade e o amor meus que giram ao redor da escultura que tu és, minha linda flor. Espero que me respondas esta carta e as outras e me digas como está a ser Nevada, tenho muitas curiosidades: esse nome tem a ver com neve mesmo ou nem por isso? Sabe de uma coisa, eu sempre quis conhecer os EUA, quis sempre ver se tudo o que vejo nos filmes e programas de TV existe realmente. Eu acho que estás a gostar dos EUA: pelo clima, custo de vida, pela gastronomia, pelas luzes e, em geral, pelo estilo de vida. Queria saber como é acordar nos EUA a saber que os maiores astros da mídia vivem a menos de 5.000 Km de mim e que é possível os alcançar indo de machimbombo (risos).

A propósito disto tudo, tenho uma novidade para te contar. Estive a pensar seriamente na distância que nos separa e se é mesmo justo desejar que tu voltes a Moçambique, aos meus braços; acho ser um pensamento muito egoísta da minha parte. Cheguei a uma conclusão meio que louca, mas que a considero justa: Que tal se no lugar de tu voltares, eu fosse até Las Vegas. Espera, não me julgues tão já, deixa-me contar-te o meu plano e o que está detrás do mesmo. É assim:

As pessoas aqui em Maputo são muito confusas e cheias de tabú, temem sair da caverna e aceitar as novas tendências que, curiosamente, têm gerado muito lucro aos que as seguem. Tal é o caso da prostituição, consumo de drogas etc. Estive a fazer umas pesquisas sobre locais onde são óptimos para se viver levando a vida de prostituta que escolheste, locais em que poderias ser vista com bons olhos e não terias de fugir da polícia sempre que esquinasses a tua mercadoria.

Acalma-te, já a seguir te conto a bomba.

Achei um local perfeito para vivermos. Aliás, acho que tu achaste-o primeiro. Sim! Isso mesmo. Descobri que o estado de Nevada, nos EUA, não possui uma legislação que proíbe a prática da prostituição. Isso não é incrível? É muito bom para nós dois. Mas as novidades não param por aqui... Sabes da poupança que eu fazia? Somei o valor todo ao lucro do negócio de venda de camarão com o fornecedor zambeziano que me indicaras uma vez. O dinheiro é muito, mas muito mesmo.

É dinheiro suficiente para, esta semana mesmo, pegar um voo para Las Vegas. E mais, sobra dinheiro para iniciar uma vida e acho que vai dar para achar um trabalho que nos sustente a vida e os sonhos. É tudo uma questão de organização, não achas? É, foi o que eu pensei. Eu não queria te contar isto tudo, queria te fazer uma surpresa, mas não se brinca com este tipo de coisa. Então decidi avisar. Ainda bem que a fofoqueira Amara, que queria que eu te julgasse, deixou-me com o teu cartão de visita, assim sei onde poderei te achar.

Nossa... como a vida é cheia de viradas! A Amara, na tentativa de nos estragar o destino, sem saber, impulsionou as chances do nosso reencontro e construção de uma vida conjunta. Realmente, há males que vêm para bens!

Eu não te julgo pela vida que levas. Eu amo-te de qualquer jeito, não me importa o que tu faças. A tua profissão não dita a tua vida pessoal. Nada poderá me tirar da cabeça a ideia de que nós nascemos um para o outro.

Então... É isso que te queria contar, meu amor! Finalmente, ficaremos juntos, depois de tanta poeira.

Abraços e beijos para ti, minha Ayana! Vemo-nos brevemente.

Las Vegas que me aguarde!

De Akil, teu escravo.