o bar

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A visão de Harry ficava inevitavelmente comprometida quando usava aquele chapéu, o boné preto e propositalmente dobrado para cobrir ainda mais seu rosto descansava acima dos cabelos, que como estavam sempre desgrenhados e bagunçados, também ajudavam a cobri-lo.

Ele tinha esse costume de fingir que era outra pessoa, de se misturar em bares que tocavam música alta demais, onde todo mundo estava ocupado com suas drogas recreativas para perceberam que Harry Styles estava ali.

Normalmente, as noites eram agradáveis, Harry bebia, dançava as canções que mexiam com seu corpo, e cantava as canções que mexiam com sua alma. Às vezes, sentia um frio na espinha ao escutar o primeiro segundo de uma música, já sabendo que era sua. Essa era a pior parte da noite, em um instante, lembrava de quem era, e para o que teria que voltar daqui algumas horas.

Já derrotado, aceitando que a noite já estava chegando no fim, Harry disse a si mesmo que era hora de sair dali, tinha sido uma ideia idiota de qualquer maneira.

Ele já estava tirando a carteira do bolso de trás da calça jeans quando viu ele. A primeira reação foi piscar algumas vezes, só para ter certeza que sua mente não estava imaginando coisas. Antes mesmo de se questionar, abriu um sorriso, não tinha dúvida, ele reconheceria aquelas mãos em qualquer lugar, sem falar no pé, que se mexia com o ritmo da música.

Ele tinha uma decisão a tomar, poderia não ariscar sua sorte, que já era grande por não ter sido reconhecido por ninguém aquela noite, pagar pelo o que consumiu, e sair daquele lugar, fingindo que nada aconteceu. Ou ele poderia seguir o instinto que já havia seguido antes, muitos anos atrás, afinal, era Louis, do outro lado do bar, com o mesmo boné e o mesmo receio de ser reconhecido. Harry tinha esquecido que sair e fingir que era outra pessoa não era uma mania dele, e sim, deles.

***

-É você mesmo, eu não acredito.

Louis congelou, aquela voz... fazia pelo menos quatro anos que não a escutava. Virou o rosto delicadamente, se deparando com seu ex-namorado, com um sorriso assustado.

-Harry? – sussurrou ele.

-Hoje sou Edward, mas você se lembra disso.

-Isso só pode ser brincadeira - Louis apontou para o boné, igual ao que usava – parece que velhos hábitos não morrem não é mesmo?

-Se tem algo que posso confirmar com absoluta certeza, é que não, não morrem - o sorriso de Harry aumentou quando viu que a expressão no rosto de Louis não era de terror ou constrangimento, apenas aquele sorriso que conhecia bem.

-Você acredita se eu falar que estava pensando em você a minutos atrás? 

Harry sentiu que se sorrisse mais ia machucar algum músculo.
-Sério?

-Claro Har..Edward... sua música, estava tocando – sussurrou Louis.

-Ah, sim – entendeu Harry, ficando um tanto decepcionado.

Um silêncio pairou pelo ar, Harry não sabia o que fazer, aquilo era apenas eles trombando um no outro, dando meia volta, só para que mais quatro anos se passassem? Ou algum dos dois ia ter coragem para iniciar uma conversa? Harry nem percebeu que estava perdido nos seus próprios pensamentos.

-Calma, sua cabeça vai explodir se pensar com mais força - Louis disse dando uma risada solidaria, Harry percebeu que o ex estava calmo, até demais - não me leva a mal, mas as coisas não são como 8 anos atrás, não sei se é uma boa ideia ficarmos aqui juntos.

-É, você tem razão – falou Harry ficando sério de vez, dando alguns passos para trás, entendendo que o garoto... garoto não, homem, inclusive pai, lembrou, não queria ser visto com ele.

-Então, vamos para onde? – perguntou o mais velho acompanhando Harry, que não entendeu nada, estampando uma expressão de pura confusão – a gente não se vê a quatro anos, acha que vou deixa você escapar? Vêm, já sei onde podemos ir.

A intenção de Louis era pegar a mão de Harry para conduzi-lo até a saída, mas o choque quente que os dois sentiram no primeiro toque foi como se uma lembrança explodisse na palma de suas mãos. Ambos estavam com medo, sabiam que tinham lutado para permanecer afastados, mas o que eles iam fazer? Harry e Louis não eram mais adolescentes, eram dois adultos, dois artistas internacionais, que nunca ficavam muito tempo no mesmo lugar, e mesmo assim, ali estavam eles, no mesmo bar fajuto. Eles não sabiam, mas a tentativa de imitar a atividade que faziam tantos anos atrás era uma maneira de nutrir a saudade que sentiam um pelo outro. E assim eles saíram, sem pensar mais, porque se pensassem, teriam que tomar caminhos separados. 

Two GhostsOnde histórias criam vida. Descubra agora