4.Casa 180

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"Me desmonta
Tua fala
Me aponta
Não me para"

Em casa. Mais uma vez eu tava sozinha comigo mesma, e o pior, me peguei lendo algumas mensagens antigas.
"Mari NUNCA leia conversas antigas" Vitória sempre dizia isso, ela estaria puta comigo agora.
Lembrei de quando eu conheci a Gabriela, e de como Alex me avisou que eu estava apaixonada no momento em que eu sorri quando chegou uma mensagem dela.
Como sentimentos tão profundos, deixam de existir de uma hora pra outra?
Como que um amor tão intenso deixou de existir.
"Só amor não basta Ana, relacionamentos tem mais pilares do que só sentimentos." é o que Vi diria. Foi o que ela disse.
Decidi parar de ler aquelas coisas antes que tivesse algum tipo de recaída e sair do WhatsApp, entrei no Instagram e fiquei um bom tempo rolando aquele feed sem fim.
De repente meu telefone começa a vibrar, anunciando uma chamada de vídeo.
Atendi.
— Oi Mari! — Alex e Vi me cumprimentaram do outro lado da tela, pelo chacoalhar da tela deduzi que estavam no Uber, provavelmente voltando pra casa.
— Ei gente como foi a prova? — Perguntei.
— Eu estou confiante. — Ela sorriu.
— Que bom Vi, e tu Alex?
— Eu também estou sabe, mas amiga ver meu nome social na lista ate me emocionou, eu sei que parece bobo mas, me senti válido.
— Não é nem um pouco bobo Alex, e eu fico muito feliz por você meu amigo. E você é válido, não deixa ninguém te convencer do contrário.
Ele sorriu.
— Mas e você Mari, a gente viu suas fotos, cê curtiu?
— Sabia que tu ia perguntar, Vitória. Foi bom demais.
— Só isso mulher? A gente quer detalhes.
Ri da curiosidade dele.
— Ta, o que vocês querem saber?
— Tudo, como foi, o que você comeu, que músicas tocaram.
— Mas quem quer saber é a Vi ou a minha mãe? — Ri.
— Tu me entendeu mulher, conta.
— Foi super divertido e realmente me fez muito bem sair de casa, e tocou bastante música boa.
— Eu sabia que ia fazer bem pra tu. — Vi sorriu vitoriosa.
— E por acaso tu conheceu alguém por lá?
— Conheci. — Os dois me olharam. — Mas não desse jeito, parem de me olhar assim.
— A gente nem disse nada. — O não-binário riu.
— Mas eu sei bem o que se passa na cabeça de vocês!
— De que jeito então, Mari?
— Do jeito que se conhece uma pessoa legal, sem segundas ou terceiras intenções!
— Tocou no assunto, ja sei que foi uma garota.
Eu odeio esse sexto sentido da Vitória.
— E aí fala mais dela...
— O nome dela é Ana Luna.
— Nome de personagem de livro.
— Cheguei a pensar nisso Vi, devia ter dito pra ela.
— E ela mora aonde?
— Nem perguntei Alex, mas ela é mineira.
— Turista?
— Acho que não exatamente, ela ta morando com um amigo aqui em Salvador, veio pra prestar vestibular.
— Nossa, partidão em Mari. — Riram.
— Para Vi, sem chance mesmo, é sério.
— Ela é hétero?
— Não, nada haver, ela é lésbica.
— Ah então tu perguntou...
— Não! Ela que perguntou e depois acabou falando.
— Olha aí.
Revirei os olhos.
— Ana Marina, eu sei que tu ta dizendo que só conversou com a mina, mas eu preciso te dizer tu tem superar a Gabriela antes de tentar algo com outra pessoa...
— Gente mas eu não posso nem fazer amizades mais?
— Claro que pode amiga, não só pode como deve, o que eu falando é pra tu não tentar sarar a dor de uma paixão com outra paixão.
— Vi, eu sei que tu só quer o meu bem, mas eu estou te falando não tem nada de paixão, eu só conheci e conversei com uma garota legal. Nada além disso.
— Que bom então, tu tem todo o direito de se divertir. — Vi sorriu. — E por falar em diversão a gente na verdade ligou pra falar pra tu se arrumar que a gente vai jantar na casa de Mainha hoje. Bora?
— Mas é claro que sim, vocês vão passar aqui ou vão direto.
— Acho que vamos direto, a gente se encontra lá.
— Beleza até lá então.
Desliguei e fui me arrumar eu adorava a mãe da Vi.

Mais tarde

Nos encontramos na rua da casa da mãe da Vi, corri pra abraçar meus amigos.
— Boa tarde meus queridos, como foi a prova. — Dona Tatiana nos recebeu animada.
Ela era fisicamente parecida com a Vitoria, quer dizer, a Vi era parecida com ela, a pele negra bronzeada, os cabelos castanhos cacheados e os olhos cor de mel.
— Foi ótima. — Ela respondeu ajudando-a com a janta.
Depois de comer, e diga-se de passagem tudo estava delicioso, sentamos no sofá pra conversar sobre a vida.
Dona Tati era muito sábia e nós três adorávamos ouvi-la falar.
— Olha meus filhos eu vou dar um conselho pra vocês, vivam o agora. O que quiserem que fazer façam. E demonstrem seus sentimentos, se alguém quer te ganhar não deve haver disputa.
Essa última parte me fez por algum motivo pensar na Ana Luna. Como uma menina que eu tinha conhecido a tão pouco tempo podia ja ter tanto espaço na minha mente?
— E o que passou deixa passar, quem vive de passado é museu.
Senti que aquela parte do concelho era pra mim, e talvez ela estivesse certa.
Talvez fosse a hora de seguir em frente.

Ana'sOnde histórias criam vida. Descubra agora