5.X

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"Como é o nome do seu novo amor?
Ainda mora no interior?
Aí ta frio ou ta calor?"

— Foi legal não foi? — João perguntou, se jogando no sofá, assim que chegamos em casa.
— Foi lindo! — Admiti me sentando do lado dele.
— Olha o que eu vi. — Ele me entregou um panfleto.— Vai ter um show da Ana Gabriela aqui mês que vem, a gente podia ir.
— Minha deusa, a gente precisa ir nesse show João.
— Também acho, ia até te mostrar isso lá, mas te vi conversando com uma menina e achei que cê podia ta de flerte.
— Que? Nada haver com flerte João, mas eu acho que fiz uma amiga.
— Uma amiga Ana Luna? Sei...
— Sem chance, sério mesmo, ela ta sofrendo pela Ex e...
— E ela ainda é sáfica? Nalu, Nalu eu te conheço.
— Para com isso João Victor! Cê sabe muito bem que eu não tô com cabeça pra relacionamento, e mais, beijar na boca da muito trabalho.
Ele riu.
— Ai Nalu, mas me fala sobre essa garota então, nome, signo, cantora favorita...
— Ela se chama Ana Marina, e é muito fã da Carol Biazin.
— Um ótimo gosto.
— E o signo dela é escorpião.
— Hum, escorpião é o oposto complementar de touro...
— Joao!
— Ta bom parei. E qual a sexualidade dela?
— Lésbica e Assexual.
— E qual espectro?
— Demiace.
— Comida preferida...
— Estrogonofe de camarã... porque essa entrevista toda?
— Pra eu saber com quem minha melhor amiga esta se envolvendo.
— Ja falei que não tem envolvimento nenhum.
— Nalu da pra ver nos seus olhos que essa moça te encantou.
— Sim mas foi só isso, qual é a gente se conheceu num evento legal, conversou sobre amenidades e dançou um pouco.
— Dançaram também? Ana você não chama qualquer pessoa pra dançar.
— Joao, eu chamo literalmente qualquer mulher bonita pra dançar se eu estiver num ambiente confortável e tocar uma música legal!
— Beleza então, vou parar de te encher, é que eu só acho que você devia se dar essa chance de conhecer gente nova e tal.
— E desde quando conhecer envolve se relacionar amorosamente?
— Qual é cê me entendeu.
— Entendi, mas eu só quero focar no que eu tenho que fazer, no caso estudar.
— Olha Ana Luna, eu nem vou tocar no assunto desses seus estudos de novo porque não quero brigar.
— Então vamos falar de outra coisa, cê conheceu alguém no sarau?
— Beijei umas pessoas mais nada além disso, assim como você eu não to afim de me envolver... em nada raso, no caso.
— Como assim?
— To querendo namorar sabe, e isso demanda tempo.
— Tava demorando cê vim com essa sabia?
— Você me conhece, sabe que eu gosto de relacionamento sério.
— Mas você ja superou seu Ex? — Joguei em tom de piada.
Eu ja sabia a resposta, falei só pra implicar com ele.
— Eu ja, agora quem parece que não superou a Ex aqui é você. —  Retrucou.
— Fazem quase seis anos João!
— Exatamente. — Ele riu. — Na última vez que nós estivemos namorando, nem do armário tínhamos saído!
Gargalhei com a lembrança.
— Como eu amo essa história, pode falar eu sou uma gênia!
— Você é, a ideia de fingir que o Victor era seu namorado e que a Carol era minha namorada foi genial.
— Ate hoje eu não acredito na nossa cara de pau.
— Eu acredito.
— E por falar neles, como será que estão hoje em dia? Será que algum deles ta namorando?
— Não sei, mas esses dias me peguei questionando se ele ainda mora naquele fim de mundo.
— Santa Luzia nem é fim de mundo João.
— Todo interior tem um pouco de fim de mundo Luna.
— E também não é interior. — Ri. —  Esses nascidos em metrópole não sabem o que é interior de verdade.
— Falou igual minha mãe agora.
— E por falar em mãe, a da Carol me odiava lembra?
— Acho que odiava é forte demais, ela só não ia com a sua cara.
— Porque eu "Fiz a filha dela virar lésbica" — Revirei os olhos fazendo aspas no ar. — Coitada não sabia de nada.
Rimos.
— Me deu saudade de casa, será que por lá ta frio? Nessa época costuma fazer um friozinho gostoso.
— Nem fala, mas eu to gostando tanto daqui.
— É, eu também, agora eu sei porque o Gabriel Gonti escreveu Menina Salvador, tudo aqui é apaixonante.
Quando ele mencionou a música do Gonti, a imagem de Ana Marina surgiu na minha mente.
"É, essa garota realmente me encantou, mas nada além disso." Pensei. "Eu espero."
— Nalu?
— Ah? Me distraí, foi mal.
— E fez cara de apaixonada...
— De novo esse assunto João Victor?
— Desculpa, mas se você tivesse visto o sorriso que acabou de abrir, concordaria comigo.
— Não fala bobagem.
— Cê que sabe, mas depois me apresenta a garota que você conheceu... Ana também ne?
— Isso, depois a gente vê.
— Ta, vou comprar nossos ingressos pro show da Ana Gabriela antes que esgote.
— Ah cê vai pagar?
— Dessa vez é por minha conta, o próximo cê paga. Comprar um extra pra caso cê queira levar alguém...
— Ou você ne?
— Eu não tenho ninguém na mira.
— Nem eu.
— Se cê ta dizendo.
Dei um tapa no braço dele aos risos. Mas por dentro eu estava preocupada, será que era verdade o que meu amigo dizia?
Bem lá no fundo, uma parte bem pequena de mim desejava que sim.

Ana'sOnde histórias criam vida. Descubra agora