"Talvez não seja hora de falhar
Estou sendo obrigada a tentar
[...]
Quero ser quem sou
Eu quero muito mais"— Abre a porta! Ana Luna abre essa porta! — Ele gritou pela quinta vez, esmurrado a porta do meu quarto.
— O que você quer João?
— Abre logo!
— Fala o que você quer.
— Eu to carente me da atenção.
Revirei os olhos, sem conter o riso abri a porta e sai do quarto.
— Oi, como você ta?
— Acabei de chegar do cabeleireiro, me da um aí biscoito vai.
Parei pra analisar meu melhor amigo, ele tinha retocado o dourado das pontas de seus cachos crespos e refeito o raio na lateral da cabeça (inspirado no cantor Jão, que ele amava) ele estava de fato lindo.
— Como eu estou?
— Uma versão mais bonita do Jão.
Ele abriu um sorriso largo, mostrando seus dentes perfeitamente alinhados.
— Agora só me explica o fato de você estar usando minha jaqueta amarela?
João Victor riu.
— Porque ela fica bem mais bonita em mim! — Ele fez pose.
Realmente, naquela cor sua pele retinta parecia reluzir, mas eu não ia admitir isso pra ele, que ja sabia que eu morria de inveja da tonalidade uniforme da sua pele.
— Vai ter que me emprestar sua blusa florida pro próximo rolê. - Falei.
— Qual delas?
— A que tem um trecho da Guilia Be estampado, de Chega.
— "Deixa ou não deixa, eu que vou me permitir." — Citou. — Beleza te empresto sim, mas agora senta pra eu te contar, o cabeleireiro que me atendeu era muito gato...
— Você deu em cima do cabeleireiro João? — Ri me sentando com ele no sofá.
— Não! Quer dizer defina dar em cima... eu apenas dei a entender?
— Sei...
— Mas escuta, eu cheguei la pra retocar as pontas e o raio ne? Ai quando falei da referência ele falou assim: "Ah você quer seu cabelo igual o do Jão!" E eu fiquei todo bobo por ele. — Suspirou.
— Isso é tão você! Mas como exatamente você "deu a entender"? — Fiz aspas no ar.
— Falei do Jão e de como eu tinha um leve crush nele, dai a gente foi conversando e eu perguntei como quem não quer nada, se ele ta solteiro. E se beija garotos. — Riu
— Anem João Victor! — Ri — O que ta acontecendo com você, cê nunca foi tão atrevido assim.
Ele sabia que eu estava certa, João sempre foi tímido, pra não dizer antissocial, embora fosse um cara da cidade grande.
— Eu nem to tão atrevido Nalu.
— Flertou com mais de duas pessoas na semana, ja é bem mais do que você faria um mês atrás.
— De onde você tirou o "Mais de duas pessoas na semana?" Foi só o Rodrigo, que é o nome do cabelereiro. — Completou.
— E aquela menina que você trouxe aqui anteontem?
— A Mel é só uma amiga que eu conheci no último Sarau. Super gente boa aliás.
— Mel é? Me fala mais sobre ela.
Ele pegou o celular e me mostrou uma foto.
— Melina, vinte e três anos e estuda ciência política.
— Bonita... ela também é bi?
— Ana Luna!
— Que foi? — Ri.
— Eu to brincando, a gente não teve nada sério.
— Mas ela veio aqui aquele dia...
— Digamos que ela queria testar uma coisa.
— Ok, se você ta dizendo. — Brinquei
Ele riu.
— Mas falando serio, vou apresentar vocês, ela é uma garota incrível.
— Eu disse aquilo só pra implicar com você, cê sabe que eu não quero me envolver agora.
— Mas Ana, você anda muito na sua, a gente ta em uma cidade nova, em outro estado, com um monte de gente legal pra conhecer, e uma monte de gente bonita, pro seu caso, garotas bonitas.
— João cê sabe que a gente não veio pra cá pra se divertir, quer dizer EU não vim pra cá pra me divertir.
— Sim você veio pra estudar e eu pra ficar de olho em você.
— Ficar de olho em mim? Achei que era porque você tava louco pra sair da casa dos seus pais... Ou porque você me ama demais e não ia aguentar a distância. — Provoquei.
— Amo mesmo! — Ele riu. — E também queria sair da casa dos meus pais, mas também pra garantir que você ia ficar bem e se alimentar direito.
— Então agora eu sou uma frágil garota de quatro anos de idade?
— Você é uma frágil garota de vinte e três.
Revirei os olhos.
— Mas ja que você tocou nesse assunto Ana, cê não acha que ta se matando demais?
— Claro que não João Victor! Se eu quiser passar em arquitetura tenho que esforçar, as coisas não caem do céu.
— Luna, você realmente quer cursar arquitetura?
— Sim uai, porque essa pergunta do nada?
— Porque eu acho que você não quer isso de verdade. Você só PENSA que quer, sei la isso nunca foi um desejo seu, sempre foi um desejo dos seus pais.
— Se é dos meus pais, também é meu.
— Não necessariamente Ana, olha eu só to te pedindo pra pensar direito, desde que a gente se mudou você não sai de dentro do quarto, só fica com a cara nos estudos e nem come direito.
— Quanto drama João, eu só...
— Você não pode se esquecer da sua alma de artista que você vive tentado deixar de lado, seu ukulele ta cheio de poeira lá no quarto, cê se lembra da última vez que desenhou?
— Agora me pegou — Pensei. — Não.
— Viu só? Seus estudos são sim importantes mas você não pode deixar sua essência de lado por causa deles, principalmente pra suprir as especulativas dos seus pais.
— Mas...
— Olha não to falando pra você desistir do vestibular nem nada disso, apenas quero que você pense se realmente quer isso.
Fiquei em silêncio.
— Não precisa me dar uma resposta agora, porque a gente não sai um pouco pra se distrair?
— Hoje eu não posso...
— Ok. — Ele suspirou. — Que tal no fim de semana? Vai ter um luau super legal na praia, a gente podia ir e tocar lá, ou só curtir mesmo.
Mesmo não estando tão afim, decidi concordar, mais por ele do que por mim.
— Fechado!
— E pensa no que eu te falei.
— João...
Ele se levantou e beijou meu rosto.
— Eu te amo Ana Luna, e eu quero seu bem!
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Ana's
RomanceUm romance sáfico inpirado nas músicas do álbum "Ana" da Ana Gabriela.