O Grande Exílio

82 15 41
                                    

Os avisos nas portas são claros: não abriremos hoje
Não estamos bem, se é que um dia estivemos
O silêncio é um grito de desespero
Estamos assustados como crianças
mas não somos puros

Eu pude ouvir você fazendo orações sem som
E seus olhos se encherem de lágrimas
Pela primeira vez,
não há nada de positivo a se pensar*

Cinco mil não é mais um número grande**
eles dizem
São somente 5.000 sonhos que deixaram de ser sonhados
eles dizem
Nossas mãos estão sujas de sangue
mas não reconhecemos,
Pois, só apertamos botões
em uma caixa eletrônica

Eu relutei para postar esse texto, pois escrevi ele no início da pandemia. É difícil eu gostar de algo que escrevi meses atrás (soa estranho?). Eu escrevi essas linhas quando vi minha cidade, pela primeira vez, após o início da quarentena. É sobre sentir a tristeza espalhada, ouvir e reagir às notícias no jornal e reconhecer em qual momento erramos (olá, eleições!). Cada estrofe trata de um assunto. 

*Minha mãe realmente fez isso.

**É uma (triste) referência ao "e daí?" do presidente em relação aos 5.000 mortos pelo coronavírus. 

Há uma ligação com o texto "Exílio". 

As Oscilações do Meu Outro EuOnde histórias criam vida. Descubra agora