Canção de Ninar

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Olá,aqui quem fala é Mama Emma de Gracefield, número 63194.
Fazem muitos anos, não?
Ah, se eu soubesse o que aconteceu com eles... Algo em mim diz que meus amigos estão mortos, mas lá no fundo, eu os queria vivos, queria que tivéssemos escapados vivos e felizes.
Tolice, Emma. Diria a GrandMother, muito provavelmente. Sou a sucessora da GrandMother Isabella, eu não posso vacilar. Mas vamos lá... eu era uma menina normal da fazenda de Grace Field, tinha irmãos, ou amigos.. Éramos felizes, até eu e Norman descobrirmos sobre a real intenção das fazendas: Alimentar demônios com crianças de boa qualidade.
Há muitos anos foi feito um trato que dividiu o mundo entre humanos e demônios, nós somos os humanos que vivem no lado dos demônios, os alimentando, vivendo como presas, mas as minhas crianças ainda tem sorte, acredito que, muita sorte. Elas podem viver uma vida feliz e quase normal até os 12 anos, e aí , morrem... vi muitas crianças partirem, 4,5,6,7,8,9,10,11,12 anos... nenhuma escapa. Essa palavra me lembra um sonho bobo que eu tinha quando era criança: Escapar.
Mas para onde, Emma? Não sei, apenas sei que há um outro mundo em algum lugar por aí. Quando éramos crianças, quase conseguimos escapar, primeiro Norman, abalando a equipe, depois Gilda, Tom, e no fim Ray, lembro até hoje do abraço que ele me deu, com força, como se não quisesse me largar, e então ele sorriu de canto, fingindo não estar assustado, e me disse:
— Fica bem, Emma. Cuida deles.
Essa foto... Ray tinha uma câmera, tirou uma foto minha e do Norman.

Eu não sei o que aconteceu com Norman

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Eu não sei o que aconteceu com Norman. Mas Mama Isabella já me disse uma vez: Ele está bem, assim como você.
Ray era filho da Mama Isabella, um menino esperto e audacioso, Norman era inteligente e calmo, eu era o coração, o sentimento, a motivação do grupo muitas vezes.
Imagino o que eles me diriam hoje em dia, acho que aquela Emma se perdeu junto com a sua dignidade, se tornando uma Mama. Mas não é mau trabalho, é gratificante criar as crianças, vê-las sorrirem, fazermos preces, cantar uma canção de ninar para elas... a canção que a Mama Isabella me ensinou nas noites frias do treinamento, sozinha numa cela, às vezes ela me visitava, e antes de me mandar, ela me ensinou a sua canção... lembro de quando cantei para a primeira criança que peguei no colo.
Eu olhei, cabelos ruivos, ou quase, olhinhos azuis, uma cara de quem nunca esperaria que em menos de 12 anos iria morrer. Eu segurei o choro, lembrei de quando fazia aquilo, ajudava a Mama a colocar meus irmãozinhos para dormir, e então comecei a cantar.
— Deixe-me cantar uma canção de ninar... enquanto você fecha seus olhos... e quando você está caindo no sono, espero que os sonhos que você encontra sejam brilhantes.
Seus olhinhos iam se fechando, com a doce melodia, ele ia se aconchegando, mal esperava pelo seu futuro, me senti tão culpada, mas lembrei: Seu trabalho é dar a eles uma boa vida.
E então continuei.
— Amor podemos nos encontrar em breve novamente, no mais azul dos céus. Onde um amanhã espera por nós... então me abrace forte novamente, mas não me dê um beijo de despedida...
Senti a vontade de chorar, mas olhei mais uma vez para o pequeno Natsuki, aproveitando o colo e a música, não posso deixar que nenhum deles descubra. Será melhor.
— Nos veremos do outro lado.
Eu continuei cantando..
E então ele adormeceu, levantei da cadeira e continuei cantando enquanto o levava até o berço, meu coração se enchendo de calor, afeto por aquela criança, por todas elas.
— Vou pensar na nossa música, quando as noites são muito longas... vou sonhar com você, pois é onde eu pertenço.
Coloquei o bebê no seu berço, repetindo o mesmo processo com todos eles, uma canção de ninar, e então peguei o lampião no fim, abrindo a porta e saindo caminhando pelos corredores escuros, todos na cama. Eu estava indo atualizar meu diário para a GrandMother.
Mas ainda cantava a música... lembro-me do olhar da Mama. Doce, acolhedor, mas deprimido, lá no fundo. Uma Mama não pode deixar seus sentimentos transparecerem.
— Amor, podemos nos encontrar novamente em breve, no mais azul dos céus... só em meus sonhos, nos encontramos de novo..
Eu cantava baixo, para mim mesma, enquanto entrava no cômodo secreto e me sentava na cadeira para enviar a mensagem para ela, Isabella.

The Promissed Neverland [História Alternativa]Onde histórias criam vida. Descubra agora