O devoto e o agnóstico

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   Sett limpava o rosto usando um pano úmido, que lentamente ia tornando-se vermelho, enquanto seu acompanhante permanecia de olhos fechados, com a face voltada ao sol, ombros caídos e relaxados, assim como sua expressão.

   Nem parecia que havia feito o Chefe de saco de pancadas mais uma vez. Era a quarta em apenas uma semana!

   Aqueles que trabalhavam no coliseu estavam cada vez mais curiosos, cochichando pelos cantos e especulando pelos meios; era, no mínimo, intrigante a relação que ambos haviam desenvolvido dentre o último mês.

   Brigavam como cão e gato durante o dia, porém, sob a luz do luar os olhares conseguiam brilhar mais que os vaga-lumes da floresta, sorrisos pequenos eram trocados e alguns juram já ter ouvido risos por parte do lutador.

   Soltando seu próprio pano sujo, Aphelios pegou o vasilhame descansado entre as pernas e o levou um pouco acima do nariz sendo seguido pelos olhos curiosos de Sett. Era a primeira vez que sentia-se confortável para fazer aquilo defronte outra pessoa.

   O veneno da Flor de Noctum queimou seu corpo, corroeu suas cordas vocais, fez suas mãos tremerem, os olhos chorarem e o Chefe se espantar.

   Naquele dia, entendeu o sacrifício do lunari sem ao menos precisar ouvir sua história. Afinal, Sett também sacrificava sua vida por alguém. Ambos eram escravos das pessoas que amavam, mas ao mesmo tempo se tornariam a liberdade um do outro.

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