Lembranças

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ANO 293 APÓS A GRANDE QUEDA
Os tremores começaram a cerca de um ano, sempre que estou muito nervosa ou muito feliz algo começa a cair. Eu demorei a enxergar o que de fato eu sou, uma poderosa, é como chamam. Eles não existem mais, ao menos não deviam existir, vivo cada dia com medo de perder o controle.
-Cassie querida, precisa tentar manter a calma. – Era a única coisa que meu pai conseguia dizer, enquanto tentava se segurar. Com muito esforço consigo fazer o tremor parar.
-Estou melhorando. -Afirmo.
-Sim querida e a cada dia estará melhor, logo encontrarei algo que possa nos ajudar a entender como isso aconteceu.

ANO 300 APÓS A GRANDE QUEDA
A lembrança dos treinos com meu pai me vem a cabeça enquanto corremos pelo túnel, eu não faço ideia de como iremos conseguir sair daqui sem sermos notadas. E menos ideia ainda de como iremos encontrar esta pessoa que meu pai descobriu, é impossível não pensar no risco que ele está correndo.
-Mar, você acha que vão matá-lo?
-Não acredito que farão isto alteza, não importa o que tenha feito, ele ainda é o rei. Mas não pense nisto agora, precisamos apenas sair daqui no momento.
-Sinto muito não ter te contado, mas meu pai disse que isso poderia colocar você e seu tio em perigo.
-Não se preocupe. – Diz ela tentando soar o mais tranquila possível. -Mas me conte, quando isto começou?
-A cerca de sete anos atrás, desde então venho treinando para ter controle, nada de combate ou algo do tipo, apenas controle.
-Entendo, imagino como deve ter sido um choque, mas o que exatamente você pode fazer? – Pergunta ela enquanto avança em minha frente.
-Os tremores são causados por uma força que sinto internamente, já tentei algumas vezes e se me concentrar consigo expulsar essa força e destruir o que estiver na minha frente.
-Interessante, já li sobre algo parecido com isso. -Diz ela em um tom tranquilo.
-Olha! – digo apontando para uma porta.
-Achamos nossa saída. – Ela analisa todo o perímetro que está atrás daquela porta e conclui que estamos na área dos empregados, sua sugestão é que saiamos.
-Mar, acho que não é a melhor opção.
-Precisa confiar em mim vossa alteza, iremos sair e nos trocar, logo a frente tem algumas cestas com roupas.
Ela então desbrava em frente e se certifica de que não há ninguém, todos os empregados devem estar passando por interrogatório, o rei Reinard com certeza iria se certificar pessoalmente de que nenhuma informação passasse despercebida.
Nós saímos e vejo que estamos na lavanderia, esta completamente vazia, mais que depressa Mar me entrega algumas roupas, são simples demais e isso era  ideal no momento, ela retira suas joias e eu faço o mesmo, prendemos nossos cabelos e nos voltamos a pensar.
-A saída mais próxima apenas a alguns metros, estaremos na área dos veículos dos empregados.
-Mar, será que isso é uma boa ideia?
-Infelizmente é a única que eu tenho no momento alteza, precisamos de um veículo, a pessoa que seu pai encontrou mora no fim do reino, próximo a divisa com Gales.
-Certo.
Com cuidado avanços até a saída e damos de cara com alguns carros, Mar com a ajuda de uma pedra consegue quebrar uma janela e em segundos já estamos dentro. Com toda maestria ela liga a máquina e partimos em direção aos portões.
-MAR! – Grito apontando para a quantidade de guardas preparados para atirar. Eu sei o que preciso fazer, antes mesmo que ela peça, me concentro o máximo possível e consigo fazer uma explosão de poder sair de dentro de mim e acertar precisamente a parede de homens a nossa frente, nem mesmo o portão é forte o suficiente para aguentar.
-Muito bem princesa. – Diz ela comemorando, assim como eu está carregada de adrenalina.
Nos dirigimos ao centro de Creta e o encontramos completamente vazio, o sinal de ameaça estava ligado, ninguém nos ajudaria, estávamos sozinhas.
-Vamos! – Exclamou ela ao avançar pela rua deserta. – Precisamos sair do alcance das câmeras, já estão a nossa procura, tenho certeza de que enviarão os melhores soldados do reino.
-Psiu, psiu... – esse som vinha de algum lugar muito perto, alguém chamava por nós.
-Alex? – Mar o reconhece. -O que está fazendo? – Diz entrando mais ainda para dentro do beco.
-Mar, o que aconteceu? O reino todo está em alerta, boatos dizem que um poderoso estava na festa do rei. – Questiona ele, pelo visto passei despercebida por seus olhos, afinal não se espera encontrar uma princesa nesses trajes.
-É uma longa história Alex e preciso de sua ajuda. – Diz ela olhando pra mim, ele entende o recado.
-Não pode ser... – Ele fica sem palavras, como qualquer outro.
-Alex, precisa me ajudar, as guardas estão trancando o reino por isso ainda não chegaram, preciso de um carro e preciso que finja que nunca me viu aqui hoje ou poderia ser acusado de traição.
-Mar, eu não... não posso. – Ele gagueja, não pode ajudar uma poderosa, poderia perder a vida por isso.
-Está ajudando a mim, uma humana. Mas não precisarão saber, você é o melhor mentiroso que conheço.
-Tudo bem. – Diz ele enquanto entrega uma chave a ela, o carro está a apenas uma rua de distância, chegamos ate ele rapidamente e assim que Mar o liga vemos as luzes nas nossas costas, os guardas estão próximos.
Ela acelera o carro e implora que ele ande mais rápido.
-Precisamos nos livrar deles ou nunca chegaremos ao local. -Afirma ela de forma determinada. – Escuridão, precisamos de escuridão- Afirma ela. E eu sei o que significa, logo a nossa frente esta a floresta de Creta, tão escura quando a noite, tudo parece tão distante, o baile, tudo parece ter sido a vários dias, mas foram a apenas alguns minutos. Por alguns segundos me perco em minha mente e quando meu dou conta estamos em meio dentro da floresta, e sob nós uma chuva torrencial começou a cair.
-Acho que estamos livres deles por enquanto. – Afirma ela aliviada.
-São corajosos, mas encarar a floresta em meio esta chuva seria suicídio.
-Sim. -Concorda ela. -Vamos esperar um pouco e voltaremos para a estrada, antes do amanhecer estaremos seguras. – Diz ela tentando parecer forte, mas acho que não acredita muito nisso.

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