5- Blade

5 1 6
                                    

Ellen olhava concentradíssima para as cartas em suas mãos, franzindo a testa sem perceber. Ela precisava desesperadamente de um 7 de ouro para completar seu jogo, mas com ele com certeza ganharia. Seria uma questão de sorte agora se ela tiraria a carta antes de Victoria, ou se a outra não baixaria um jogo e ganharia a partida antes dela.

Deu uma espiada na garota à sua frente, as duas sentadas no chão da cobertura com cartas de baralho entre elas. Como de costume, a cara de Vic não deixava passar absolutamente nada.

Por incrível que pareça, Ellen não achava que a quase permanente expressão reservada de Vic fosse uma coisa ruim. Era estranhamente reconfortante, na verdade, saber que ela poderia fazer ou falar quase qualquer coisa com Vic sem perturbá-la. Ela se mantinha uma constante, e em meio ao furacão que Ellen às vezes sentia que era, um pilar sólido era algo que ela apreciava.

E é claro, toda a sua aura inabalável só fazia com que Ellen valorizasse mais ainda as vezes que conseguia tirar dela um sorriso ou mesmo uma risada.

Ah, ela estava tão ferrada. Mas tudo sob controle, é claro.

Quando chegou sua vez, Ellen estendeu a mão para pegar a carta do topo do monte. Trazendo-a para seu campo de visão, ela percebeu, eufórica, que era o 7 que ela precisava.

Nem conseguiu esconder o sorriso que imediatamente se abriu, com um toque de malícia, enquanto arrumava as cartas em suas mãos.

— Você acabou de ganhar, né? – deduziu Vic, com tanta emoção quanto sempre.

— Espetacularmente! – Ellen baixou seu jogo vencedor com orgulho. Estava admirando o jeito como as sobrancelhas de Vic se ergueram em surpresa e seus lábios se curvaram em um movimento mal disfarçado quando sentiu a primeira gota em seu nariz.

— O quê... – piscou, aturdida. Então viu a segunda gota cair sobre seu jogo, e logo a terceira, a quarta, a quinta...

Quando deu por si, ela e Vic já tinham guardado tudo de maneira apressada e estavam correndo em direção à porta que levava para o lado de dentro do último andar, onde estava o elevador; ao redor delas, a chuva caía, tão forte quanto repentina.

— O que foi? – Ellen perguntou, tendo que elevar a voz para ser ouvida, não entendendo porque Vic não abria a porta logo. Elas estavam paradas sob a média proteção oferecida pelo não tão grande teto que se estendia um pouco à frente da porta; todo o resto da cobertura era ao ar livre.

— Tá trancada! – Victoria respondeu no mesmo volume, mas soando frustrada.

— Ah, não, mentira. – riu sem humor – Sério mesmo? Trancaram a porta com a gente aqui?

— É sério. – a outra confirmou, tentando inutilmente girar a maçaneta. – Espera aí.

A chuva ainda estava muito forte, e apesar do teto, as garotas estavam sendo atingidas por respingos. Ellen observou com curiosidade Vic largar a mochila que trouxera (para acomodar os diversos jogos que as entreteram a tarde inteira) no chão, ajoelhar-se ns frente dela e revirá-la, até retirar um objeto de dentro.

— O que é isso aí? – Ellen questionou, abraçando a si mesma em um movimento instintivo de proteção.

— Canivete – Victoria falou brevemente antes de apertar um botão, o qual fez revelar-se uma pequena lâmina.

Os olhos de Ellen saltaram.

— Você anda com um canivete? – quase gritou, enquanto a outra levava a lâmina para o trinco da porta – E sabe arrombar portas?! Que droga, Vic, você é tão legal! – terminou, sofridamente.

And They Were NeighborsOnde histórias criam vida. Descubra agora