12- Slippery

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Às vezes Drew se perguntava se tinha algo errado com ele.

Era só que... todo mundo parecia experimentar atração por alguém em algum momento da vida. Era um tema que estava em livros, na televisão, em músicas e literalmente ao seu redor. Mas não Drew. Nunca ocorrera com ele.

Nem mesmo durante a puberdade, na qual seus hormônios deviam estar enlouquecidos e a única coisa que sua mente de garoto adolescente deveria estar pensando era sexo. Mas não. Ele não se imaginava assim com ninguém.

Não era que ele não notasse a beleza de outras pessoas; havia personalidades famosas que ele admirava, é claro, e objetivamente ele sabia que seus amigos eram bonitos, todos de jeitos diferentes, o que era meio legal. Mas ainda assim, não havia... atração.

No vestiário da escola, após o treino de futebol, o assunto que geralmente predominava era, é claro, garotas: como eram atraentes e como eles queriam ter uma chance com elas, especialmente as líderes de torcida, especialmente aquelas com quem nunca nem haviam trocado uma palavra sequer. E as coisas que eles fantasiavam com elas... Drew simplesmente não conseguia. Eram praticamente desconhecidas, por Deus – como eles conseguiam se imaginar intimamente com alguém que nem conheciam, só por causa de sua aparência? Não fazia sentido para ele.

Certa vez, Drew chegou a pensar que talvez se sentisse desconfortável porque os garotos do vestiário falavam exclusivamente de garotas. Ele refletiu se o problema era que o sexo oposto não atraía – afinal, ele sabia que Jay gostava de caras, e Ellen gostava dos dois; era uma possibilidade. Mas depois de uma certa pesquisa, concluiu que não era isso. Drew simplesmente não se sentia atraído por ninguém, não importava o gênero.

Então ele simplesmente decidiu. Romance não era uma de suas prioridades, de qualquer jeito. Ele tinha futebol e tinha seus amigos – o que mais poderia pedir? Era confortável assim. Um relacionamento só atrapalharia sua vida. Drew deduziu que quando a pessoa certa aparecesse, a tal atração se revelaria (mesmo que para ele fosse uma ideia completamente absurda se atrair por alguém que ele teria acabado de conhecer).

Talvez houvesse, de fato, algo errado com Drew. Mas nunca havia lhe causado problemas até agora, então ele só deixava estar.

———

Apesar do que todo mundo pensava, Drew não era tão denso assim.

É fato que ele não notava os sentimentos dos outros imediatamente, porque às vezes não ligava o jeito como uma pessoa agia ao jeito como ela provavelmente poderia estar se sentindo. E ainda havia o grande problema de quem preferia fingir e dar voltas e fazer joguinhos. Se todo mundo fosse direto, o mundo seria um lugar mais fácil. Pessoas eram tão complicadas.

Mas ainda assim, depois que ele passava a conhecer melhor alguém, Drew se tornava perceptivo a o que suas expressões e gestos poderiam significar. Atualmente, ele diria que conseguia interpretar seus amigos bastante bem – até Victoria, com quem ele vinha passando mais tempo.

Drew sabia que Jay fazia um bico e um drama imenso se estava só brincando, mas quando o garoto estava magoado de verdade, tentava esconder a todo custo, se afastando dos outros. Drew sabia que Ellen não ficava com raiva facilmente, mas caso acontecesse, era melhor deixá-la em paz por algum tempo até que tudo se acalmasse. Drew estava aprendendo que Vic tinha, sim, sentimentos tão intensos quanto o resto deles, talvez até um pouco mais, porém ela não sabia lidar muito bem com eles, então era mais fácil reprimir e manter a expressão neutra.

A última vez que Drew não soube interpretar as emoções de Ellen foi quando Vic chegou ao prédio e se juntou ao grupo deles. Jay teve que explicar que o motivo pelo qual Ellen subitamente agia estranho era porque ela gostava de Vic. Drew havia ficado confuso porque nunca vira a garota agir assim, mas depois seu comportamento fez sentido.

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