11- Disgusting

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Jay queria poder dizer que a história de como ele e Ellen se conheceram é dramática e emocionante, visto que levou a uma amizade que, literalmente, mudou sua vida – muitas coisas não teriam acontecido se eles não tivessem se tornado amigos.

No entanto, Jay mal se lembra de como aconteceu. Ele se lembra de ter 8 anos e seus pais lhe falarem que chegara um casal novo no prédio, com uma filha da sua idade. Ele se lembra de brincar no parquinho do prédio (que na época era novinho em folha) e de ser a criança mais velha (se sentia tão adulto). Ele se lembra de, certo dia, avistar uma garota do seu tamanho em um dos balanços e de pensar, ei, talvez agora eu consiga brincar na gangorra direito.

O resto é história.

———

Jay e Ellen logo se tornaram inseparáveis, o que era de se esperar de crianças da mesma idade com personalidades muito compatíveis que aconteciam de morarem no mesmo prédio. 

Eles nunca chegaram a estudar na mesma escola – se não fosse por isso, provavelmente ficariam juntos por todas as horas do dia, exceto quando dormiam. Sendo assim, eles aproveitavam o tempo livre da melhor forma possível.

As tardes sempre foram deles e exclusivamente deles. Não importava se tivessem tido um dia ruim na escola (o que eram seus maiores problemas na época); no prédio, aqueles corredores eram seguros, os apartamentos tinham brinquedos e televisão e doces, o parquinho era seu território e eles eram rei e rainha.

Jay sabia que Ellen era a melhor amiga que ele poderia ter. Os dois estavam sempre na mesma página, em sintonia, e nunca nem mesmo brigaram sério.

Mas ele não negava que foi muito, muito estranho quando ele um dia ouviu seus pais conversando, em tom de brincadeira, sobre como ele e Ellen um dia acabariam juntos.

Juntos, tipo, juntos. Como namorados.

No auge de seus 14 anos, ele descartou a ideia imediatamente. Ele sabia que talvez devesse pensar em garotas a essa altura, e sabia que baseado na quantidade de tempo que ele passava com Ellen talvez fosse compreensível que outras pessoas fizessem essa conexão, mas...

Ele não pensava em Ellen assim, de jeito nenhum.

(Ou em qualquer garota, mas ele não notou isso de primeira.)

Jay gostava de conversar, de videogame, de estudar por conta própria (mas é segredo, ok?), de yakisoba, de fenômenos químicos e de sua melhor amiga Ellen. Ênfase no melhor amiga. E era isso. Sua vida era completa.

Por isso, foi uma surpresa quando um dia, enquanto ele estava vendo uma comédia romântica qualquer com Ellen (os dois largados no sofá com um pacote de biscoitos recheados), a garota perguntou, durante a cena em que o casal se declarava:

— Jay, você já beijou alguém?

Era o assunto mais quente entre a sua turma da escola. Talvez entre todas as turmas dessa idade. Ainda assim, Jay estranhou.

— Não, né, Ellen – deu de ombros – Eu teria te contado. E eu não gosto de ninguém, também.

Ellen fez um murmúrio de concordância.

— Por quê? Você já? – ele perguntou de volta, subitamente curioso.

— Não... – ela franziu as sobrancelhas – Mas todo mundo fala que é tão bom, eu queria saber como é.

Na tela, o casal, previsivelmente, trocava um beijo apaixonado. Jay analisou a cena criticamente. Quando ele era menor, parecia esquisito, mas tinha que ter um motivo para as pessoas gostarem tanto, não?

And They Were NeighborsOnde histórias criam vida. Descubra agora