— Espera um pouco, eu preciso achar as minhas chaves.
Encostei minhas costas na parede de tijolinhos onde havia uma grande porta de ferro verde decorado que Hayley apoiava o joelho para dar sustentação à sua bolsa enquanto procurava as chaves, fazendo um baque audível e soltando um suspiro longo. Passei as minhas mãos pelos meus cabelos, jogando-os para trás, e olhei para o céu: não havia sequer uma nuvem encobrindo-o.
Desde o momento que começamos a nos beijar no camarim daquele bar no centro da cidade velha de Praga, nós não tínhamos ficado mais que alguns segundos com nossos corpos desgrudados. Mesmo no táxi que pegamos para chegar na casa dela (numa região definitivamente mais residencial da cidade) os beijos permaneceram. Confesso que foi um pouco estranho estar dentro daquele carro tentando me controlar para não beijá-la com muito entusiasmo enquanto o homem ao volante nos lançava olhares estreitos pelo retrovisor de tempos em tempos.
Eu não entendia muito bem como tínhamos administrado não apenas sair do camarim do bar, mas também pegar minhas coisas na chapelaria e devolver a pulseira de créditos. Tudo parecia ter acontecido em apenas segundos diante dos meus olhos, passeando por aquele ambiente caótico de vozes altas e corpos se balançando no ritmo das músicas que tocavam. Até mesmo porque eu estava muito mais preocupada em não desgrudar os olhos da mulher que estava me guiando por ali. Eu tinha certeza que não sentiria frio por causa da mistura de álcool e outras coisas que invadiam o meu corpo em ondas. Mas eu ainda precisava da vestimenta se não quisesse ficar doente ou quando todo aquele alvoroço passasse. Hayley saiu tomando a dianteira de tudo, levando-me com ela; e agora eu estava ali, parada na porta do prédio onde ela morava.
Era um edifício de no máximo cinco andares, pelo que pude contar ao olhar para cima mais uma vez. A fachada era de tijolos vermelhos no térreo, e erguia-se com paredes claras e com os tijolos sendo usados para decoração. Cada andar era um pouco mais recuado que o anterior, formando varandas com várias portas e janelas quadradas pintadas de branco. A luz da rua deixava tudo num tom amarelado, confortável de se olhar. Ouvi um estalar de metais rangendo e virei meu corpo ainda encostado na parede, mas dessa vez na direção de Hayley, projetando-me para ela.
— Finalmente achei essa merda. Vem logo!
A sua voz soou urgente e divertida ao acenar com a cabeça em direção ao interior do hall. Passei por ela rapidamente, deixando minha mão em sua cintura e puxando-a de volta para mim, fazendo com que ela risse e batesse aquela porta de metal. Nossos corpos foram se batendo juntos pelas paredes da escadaria conforme ela me guiava, em uma típica cena de filme, onde dois amantes se agarram desesperadamente — finalmente unidos depois de passar por provações dos seus sentimentos.
Quatro andares depois, lá estávamos nós contra uma porta de madeira pintada de vermelho, com nossas mãos em urgência passando uma pelo corpo da outra — mais especificamente, as minhas mãos passando pelo corpo de Hayley, enquanto ela tentava colocar a chave na fechadura da porta apenas com o tato para não ter que se virar de costas e separar nossos lábios novamente. Fiquei surpresa quando ela conseguiu realizar a tarefa sem levar muito tempo; abriu a porta, então, e fez-nos girar para dentro do apartamento. Hayley mordeu meu lábio inferior anunciando mais uma pausa no beijo. Fitei-a passando a mão pela parede para acender a luz do lado de dentro e, logo em seguida, Hayley trancou a porta para o corredor da área comum do andar. Ela tirou seus casacos, ficando apenas de camiseta, e pendurou-os em ganchos de madeira atrás da porta. Também tirou o tênis e colocou-o também em um canto perto da porta, onde pude observar vários outros pares de calçados amontoados numa bagunça organizada, e identifiquei os pares. Repeti os mesmos gestos que ela com os meus pertences e continuei seguindo-a, esperando pelos próximos passos.
— Ah!... Bem-vinda à minha casa. Não sei o que falar, desculpa. — Ela riu alto e sozinha. Não estávamos exatamente em um momento de conversas, então também não me preocupei; mas não pude deixar de sorrir ao observar como ela mexia suas mãos com rapidez, sem esconder o nervosismo. — Pode deixar suas coisas aí na porta ou onde você preferir. — Ela fez um gesto amplo com os braços, girando o corpo em alguns graus como se apontasse para o apartamento todo de uma vez.
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Chemical Swims
FanfictionNovas lentes, cidade, novos ares - Praga parece ser uma boa ideia para Lindsey Byrnes alcançar esses objetivos. Fotógrafa profissional e recém-separada de um longo relacionamento, Lindsey viaja até Praga para captar o cotidiano e a essência de uma c...