3. Isso realmente importa?

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Fazia pouco mais de 15 minutos que eu tinha encostado o meu corpo na parede lateral do palco e deixado minhas costas suadas escorregarem por ela até me sentar no chão. Apesar de ser pouco tempo, para mim ainda parecia uma eternidade. Eu me sentia tonta sem saber se era pelo álcool ou pelo completo nervoso que eu me encontrava. Uma mistura de felicidade e realização egoísta por ter finalizado o meu desejo inicial, com um fundo de vergonha por ter me comportado de maneira obsessiva. Eu ainda não conseguia racionalizar sobre sabe-se lá o que estava acontecendo comigo ou o que ocorreria num futuro muito próximo.

Ela estava finalmente se despedindo para cantar a última música (tocaram mais quatro desde que me guiei para o backstage). Era minha primeira vez vendo um show daquele ponto de vista, o que me deixava completamente extasiada, e consegui entender de modo quase material como os performers se sentiam, afinal, como conseguiam superar o medo e a vergonha de estarem tão expostos a tanta gente? O público dali de cima era incrível: comportavam-se como uma massa que pulava e dançava em sincronia com a música que era gritada por algumas vozes, como se fossem um metrônomo vivo para os músicos, em uma retroalimentação inexplicável.

Eu via que era isso que alimentava aquela mulher loira (que naquele ponto eu finalmente tinha descoberto seu nome, após ela se apresentar como "Hayley. Miss Williams, if ya nasty" para a platéia). A resposta do público foi conquistada música após música, mesmo aqueles que não conheciam um verso sequer. Ela estava no lugar dela, e quando ela olhava adiante, ou para os seus colegas de banda, seus olhos não eram como se fossem de vidro, com um brilho fixo que poderia cegar alguém. Eles brilhavam e não havia como negar; porém, brilhavam de um jeito diferente: puro, cheio de divertimento. Iluminava o ambiente.

Eu pensei várias vezes em levantar e simplesmente ir embora, fazer o mesmo caminho que tinha feito horas mais cedo, deitar na minha cama, deixar de ficar pensando em estranhas e levantar no dia seguinte apenas para fotografar por horas seguidas. Era para exatamente isso que eu tinha entrado no avião, em primeiro lugar. Eu sabia que era a coisa certa a fazer e até podia escutar uma vozinha esgarçada no fundo da minha consciência concordando com meus pensamentos. Levei as mãos ao meu rosto me colocando na escuridão para tentar escutar o que mais pudesse se passar pela a minha mente.

— Vamos? — Eu estava tão imersa nos meus pensamentos, com os olhos fechados para aguentar o nervosismo e imergir em outro lugar, que nem ao menos percebi quando o show acabou, apesar de uma música continuar a ecoar alta no ambiente. Fui acordada não só pela voz alta que me chamava, mas também por um chutinho de leve em um dos meus pés; e então lá estava a mão dela entendida em minha direção, me oferecendo apoio.

— O camarim fica ali atrás. Lá não precisamos gritar.

Apoiei as minhas mãos na parede atrás de mim e levantei sozinha, recusando a ajuda antes oferecida. Pude ver Hayley fechando a palma da mão estendida e apertando o punho contra o próprio peito como se estivesse se repreendendo pelo gesto anterior, levando o olhar para os próprios pés e depois para minha direção. Entendi que ela precisava de uma resposta, se eu iria com ela ou não, e apenas acenei com a cabeça, ainda sem saber como me portar, não conseguindo entender de onde tinha vindo aquela petulância repentina. Talvez fosse apenas um jeito de tentar fingir alguma coragem naquela situação.

Hayley tinha uma toalha branca pendurada no ombro, e a usou para secar o suor que escorria do seu rosto com um pouco de força e rapidez. Com o movimento pude observar que a base de sua maquiagem tinha sido arranhada, revelando a pele natural por baixo. A toalha também foi arrastada por cima de seus olhos fechados, borrando completamente aquela mistura de cores que agora se estendiam pela suas bochechas. Ela deu as costas para mim, mas não sem antes fazer um movimento com as mãos para que eu a acompanhasse, juntamente aos dois homens, seus companheiros de banda. Apoiou uma mão no ombro de cada um deles em um sinal de companheirismo e voltou a cabeça novamente para minha direção.

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