Dark Nights (Gay/Yaoi)

2. the blood in the window

       Com a mão saudável, tento desenroscar a mala de mim para jogá-la para dentro e facilitar minha entrada dolorosa. Ele ainda me paga. Não é porque eu tenho seu sangue que isso seja um passaporte para me torturar, seu desgraçado.

       A mala cai no chão com um baque surdo, deve ter sido em cima de uma pilha de roupas. Felizmente a mão perfurada é a esquerda, e infelizmente eu terei de jogar todo o meu peso nela para poder entrar sem ferir a outra. A lua continua ali, só me olhando e agradecendo por não estar na minha pele. Assim como Greg estaria. Aposto que ele está jogando em seu videogame caro, deitado em sua cama macia e quente, ou conversando com sua namorada e trocando fotos sensuais. Aposto que todas as outras pessoas da minha sala estão fazendo o mesmo, aproveitando sua adolescência fútil e perfeita como em qualquer filme americano idiota.

       E mesmo achando tudo isso fútil, eu gostaria de estar fazendo a mesma coisa. Eu queria ter coisas caras, responsabilidade reduzida a somente não bater o carro em qualquer poste por aí por estar bêbado com os meus amigos em uma festa, ou então postando fotos ostentosas para ganhar likes e seguidores em redes sociais. Eu queria apenas me achar bonito, mas eu sou o completo oposto desses caras da minha escola. Com seus bronzeados artificiais laranja, seus cabelos loiros em um topete gigante e modelado, os olhos azuis como o céu do verão, os músculos que não são nada proporcional à suas idades.

       Mas o que sou eu? Um fracassado magricela da cor de um fantasma que levou um susto. Sim, um fantasma que levou um susto. Meus olhos são fundos e cheios de olheira por causa das noites mal dormidas, meus cabelos estão longos o suficiente para me chamarem de emo e oleosos como se eu pulasse em uma piscina de fritura a cada dois dias. Meus lábios são uma coisa horrorosa e meus dentes de baixo são tortos como os de uma criança. Os garotos da minha escola têm sorriso de personagem de comercial, alguns deles até foram para a cidade grande fazer cirurgia de harmonização facial.

       Já eu, estou com a mão presa na porra de um arame. Ainda bem que é arame, se fosse prego eu poderia rasgar um nervo e perder o movimento dela. Felizmente os cortes são rasos, ainda que bem doloridos. Com a raiva que estou sentindo agora, pular para dentro foi a parte mais fácil até agora. Mas a barra esquerda da minha calça se prende à armadilha idiota do meu pai e rasga um pouco do tecido. Ótimo, eu quase não tenho roupas, elas sempre estão manchadas ou rasgadas e a única calça decente agora acaba de se tornar mais uma.

       Minhas costas estão pulsando de dor, como se uma multidão de cavalos de corrida tivessem me pisoteado várias e várias vezes. Mas isso não importa, eu estou aqui dentro, eu consegui.

       O sangue consumiu minha mão completamente, até pinga no chão algumas vezes. Mas essas façanhas do meu pai não me surpreendem mais. Quando mais novo, ele tentou me largar no meio da estrada, mas um carro aleatório apareceu de repente e seu plano falhou miseravelmente. Ele 'só parou de tentar me abandonar quando viu que poderia me fazer de empregado particular, ou melhor, um escravo. Porque eu só recebo comida, um teto sujo e mal iluminado e socos.

       — Vejo que você chegou — ao ouvir sua voz rouca e emaranhada pela bebida, minha espinha recebe um choque intenso. Os pelos do meu corpo se arrepiam como se o Nosferatus estivesse atrás de mim, não o meu progenitor. — Eu sabia que não ia durar muito. O filho pródigo sempre retorna ao lar, hein?

       Ainda de costas, tento estancar o sagramento que ele mesmo causou. Só consigo pensar em como está sua cara, se é ódio ou deboche que ocupa sua expressão. Porra, eu devia saber que essa era uma das possibilidades ao entrar em casa. Meu pai não vai deixar isso barato, ele nunca deixa. Por que eu simplesmente não fui dormir no estacionamento da escola? Ou atrás de algum comércio fechado? Eu não teria incomodado ninguém e...