1. the echo and the window

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       A noite nas ruas desta cidade é como uma massa negra devorando qualquer coisa que vê pela frente, sem dó nem piedade. É o terror de qualquer um andar por aqui depois que o sol vai para cama, os postes de luz sequer fazem seu trabalho devidamente; a maioria é tão preguiçosa que apenas pisca. Sem falar na distância de um para o outro, andar entre estes pontos é como arriscar tudo e ter a chance de alguma criatura demoníaca te puxar pelo esgoto em direção ao submundo. 
   
       E, bem, qualquer pessoa com bom senso estaria em sua casa prestes a ir dormir. Mas cá estou eu, caminhando a passos largos por esse labirinto deserto e faminto, sendo acompanhado apenas pelo eco incessante. É o ambiente perfeito para um serial killer de filme de terror, um assaltante ou forças sobrenaturais malignas; se eu gritar ninguém virá me socorrer. Se eu correr, irei me perder, mesmo que a cidade seja pequena. Mas eu preferia que este fosse o meu destino, a última coisa que quero é chegar em casa. E se ele ainda estiver acordado, esperando por mim? 
   
       Amanhã eu tenho aula, então ele não pode fazer muita coisa sem que isso chame a atenção quando chegar na escola, certo? Eu não posso faltar mais um dia ou a diretora irá chamá-lo lá para discutir sobre isso. E, bem, seria uma sentença de morte. 
   
       A ponta de meus dedos estão congelando por conta do frio de início de madrugada, e esfrego uma mão na outra a fim de tentar me aquecer. Será que devo achar algum banco na praça para passar a noite? Mas eu carrego uma mala e meu celular, não preciso ser roubado na situação atual em que me encontro. Se a mãe de Gregory não fosse uma vadia egoísta, eu poderia voltar apenas quando as coisas com meu pai estivessem melhores. Mas seria um milagre se isso realmente acontecer algum dia.

       — Mas, querido, ele já está aqui há dois dias! — sussurrou a mãe de Greg, enquanto terminava de lavar a louça. Meu amigo chacoalhou a cabeça em completa descrença, fuzilando a própria mãe com os olhos. Eu observava tudo pela escada, tentando ser o mais discreto possível para não chamar atenção. 

       — Ele é meu amigo, mãe! Amigos se ajudam quando há necessidade — ele retrucou mais alto do que deveria, e sua mãe fez um gesto de silêncio em completo desespero. 

       — Fique quieto ou ele vai nos ouvir! 

       Não quero ser um fardo para ninguém, muito menos para o meu amigo e causar uma briga em sua família. Se estou causando incômodo, prefiro ir embora do que ouvir essas coisas e fingir que está tudo bem, porque a sra. Collins é uma falsa que acha que irá para o céu fazendo essas coisas. Naquela hora, voltei para o quarto de Greg, que estávamos dividindo, e refiz a minha mala. Não é como se as minhas coisas estivessem espalhadas pelo quarto, nesses dois dias eu tentei ao máximo parecer invisível, não comendo muito e estou tomando banhos rápidos. Nem mesmo lavava as minhas roupas, as acumulei em uma sacola para fazer isso quando chegasse em casa. Mas parece que o pouco que eu comi e a pouca água que gastei foi o suficiente para surgir reclamações. Mas está tudo bem, eu peguei a minha mala e desci as escadas a fim de sair sem dar satisfações. Seria bem óbvio ir embora depois daquela discussão.

       Greg me viu passar pela porta da cozinha, e entendeu o que estava acontecendo. Seus olhos escuros e redondos caíram como os de um cachorro culpado, ele levantou da cadeira num pulo a tempo de agarrar o meu pulso para murmurar um pedido de desculpas quase inaudível. E a escrota de sua mãe ao ver o movimento secou suas mãos depressa e colocou um sorriso imenso e completamente fingido no rosto. 

       — Oh, Marshall! Você já vai? Está escurecendo e o jantar está quase pronto! — ela sabia que eu escutei a conversa, seu sorriso falhava no lado esquerdo e mesmo assim ela não o tirava da boca. Naquele momento, eu não quis xingá-la ou responder à altura, por mais que eu estivesse no meu direito. Eu só... estou cansado, de tudo e todos. Retrucar não vale a pena, sem falar que não quis magoar Gregory. Ele tentou me ajudar ao máximo que pôde e sou muito grato por isso. 

Dark Nights (Gay/Yaoi)Onde histórias criam vida. Descubra agora