O sonho (im)perfeito

│Você é o meu sonho│

Do lado de fora, a chuva começava a cair e a se misturar com minhas lágrimas. Por que sempre chove nessas horas? Talvez seja o céu se lamentando pelas minhas escolhas ruins. Se vovó ao menos ainda estivesse viva, poderia me mandar de volta, para eu consertar tudo, fazer ser diferente.

- Anna... - Disse, assim que ela me atendeu no telefone.

- Mia onde está? Athena e eu já chegamos aqui, Cristian está louco a sua procura!

- Estou no apartamento de Leonard. - Ela ouviu meu choro, e murmurou um palavrão.

- Passe o endereço por sms, estou indo te buscar.
Ela chegou em alguns minutos, junto com Athena que me abraçou o caminho todo de volta para casa, sem se importar com o quão encharcada estava. Expliquei o ocorrido em poucas palavras, mesmo que não quisesse tocar no assunto, esconder algo tão importante assim delas era quase impossível.

- Vamos arrumar outro vestido para você. - Anna disse, assim que chegamos em casa. Eu apenas concordei, indo rapidamente para o chuveiro. Teria que deixar meus sentimentos destroçados de lado e me concentrar nessa noite. Havia perdido Leonard, mas não perderia aquela escola.

- Viu, foi até bom isso acontecer, esse vestido é muito mais bonito que o anterior. - Comentou Anna. De fato, o outro era bem mais formal liso sem muitos detalhes, já esse que Anna comprara as pressas em uma loja no caminho até aqui, era um vermelho brilhante, longo e saia bufante,
parecia ter saído de um conto de fadas.

- É claro, um vestido bonito cobre toda a vontade de chorar por ter perdido o amor da minha vida. - Respondi com certa acidez, mas Anna nem ligou, pelo contrário, ela riu alto, me fazendo rir também.

- Ainda é um vestido bonito e você vai me emprestar depois. - Piscou, colocando o último grampo no meu cabelo, preso por um coque alto. Refiz minha maquiagem na força do ódio, sendo o tempo todo apressada pelas inúmeras ligações de Cristian que estava mais louco do que eu quando descobri que tinha viajado no tempo.
Quando cheguei no salão da escola entendi o porque do seu desespero. Estava lotado. Uma felicidade absurda tomou conta de mim, era possível salvar a escola.
Passeei pelos cantos, cumprimentando colegas antigos e funcionários que se prestaram a ajudar no banquete da festa. Era muito bom ver toda uma comunidade unida para salvar suas lembranças, seu passado, sua história.

- Confesso que você me surpreendeu. - O cheiro de álcool invadiu minhas narinas deixando-me um pouco tonta. Whitlock. - Não achei que fosse conseguir transformar uma escola decadente em um dos assunto mais comentados do Twitter.

- É eu sei bem que você não acredita na minha capacidade profissional. - Disse no mesmo tom, de cabeça erguida. Um garçom passou por nós e Whitlock pegou duas taças de champanhe.

- Vamos brindar a sua "capacidade profissional". - Me estendeu uma das taças, com aquele sorriso ridículo.

- Não, obrigada. - O sorriso se perdeu. - Você não me controla mais, camarada.
Era estranho, mas após isso, senti como se alguma corrente fosse quebrada dentro de mim. Como se a nova e a velha Mia finalmente se entendessem e estavam em harmonia.

- Mia Hoods? - Um homem alto, de cabelo grisalho veio até nós, com um sorriso simpático que eu prontamente retribuí. Aquele cara era nada mais nada menos que Minato Takahashi, o famoso escritor e editor chefe do jornal oficial de Tóquio, e ele estava aqui na minha frente!
Não é hora de desmaiar, Mia.

- Senhor Takahashi! - Me curvei, em reverência sabendo que tinha pronunciado o nome dele errado. - É uma honra conhecê-lo pessoalmente! - Nos cumprimentamos com um aperto de mão e senti que estávamos deixando Whitlock de lado.