│O sonho perdido│

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Chegamos no apartamento de madrugada e nem o frio cortante de Nova Iorque podia se comparar ao gelo do meu coração nesse momento. Contei em detalhes a conversa e o que tinha acontecido com Leonard sem conseguir acreditar que justo ele havia feito aquilo comigo. Pelo jeito que Connor tinha falado no dia da reunião, apenas eu mudara tanto e para mal, e eu também, até ontem acreditava nisso. Leonard não era mais o garoto que eu amava?

— O que você vai fazer agora? - Cristian me perguntou.

— Eu sinceramente não tenho ideia. Tem tanta coisa que eu preciso concertar. - Esfreguei meu rosto, cansada.

— Vamos com calma. - Athena segurou minha mão, pensativa. — Primeiro vamos descansar, amanhã com calma nós vemos o que fazer, está bem? - Assenti, pegando minha mala. Estávamos todos morrendo de sono, de cabeça cheia e eu, de coração partido.

Sozinha no meu quarto, deixei as lágrimas caírem livremente. Deitada na cama, abraçada a um travesseiro, julguei a mim mesma, pelos erros que cometi no passado e pelos que eu insistia continuar fazendo.

Por que quando deixei Leonard no aeroporto não sofri tanto? Talvez porque agora, eu estava em uma posição diferente. Talvez porque agora, eu o amava de verdade. Talvez porque agora, eu sabia amar.

Uma sequência de bipes vindo no meu celular, tirou minha atenção dos devaneios de minha mente. peguei o aparelho com certa fúria e só piorou quando vi que eram mais mensagens do meu "querido" chefe, me apressando para o tal show que eu deveria fazer, com uma figurinha ridícula de uma mulher bêbada. Ele acha mesmo que colocando pressão, ameaçando minha carreira, iria me fazer beber ao ponto de repetir o que eu supostamente fiz ano passado.
Não saber das coisas que a outra Mia fez é frustrante!

Precisava mostrar, não só para o meu - babaca - chefe, mas também para mim mesma, que eu podia ser uma pessoa melhor, que eu era uma pessoa melhor. Levantei-me da cama, passando as mãos pelo meu cabelo desgrenhado, jogando a ideia de tentar descansar de lado. Meu coração gritava pelo de Leonard e minha cabeça me julgava por isso.

— Sabia que não estava dormindo. - Athena disse em um tom de reprovação, parada no batente da porta do meu quarto, vestindo uma camisa que ia até abaixo de seus joelhos, como fazia de costume ao ir dormir na minha casa na época da escola.

— Não consigo parar de pensar em Leonard. - Confessei, minha voz tão baixa quanto um sussurro. — Sei que sentir saudades dele, nunca será o suficiente. Não é como se isso fosse o suficiente para escrever o nosso destino. - Minha cabeça começava a doer com meus pensamentos controversos. — Eu havia gritado com ele, me magoado pela enganação e sido hipócrita o suficiente para esquecer do que tinha feito ele passar.

— Pelo que eu saiba Leonard não tinha prometido nada a você, até porque a um dia atrás Joshua estava no meio.

— Mas ele iria me beijar, eu tenho certeza! Ele foi todo fofo comigo, me dando esperanças quando tinha outra pessoa. E também não negou quando eu o acusei de querer me magoar, de querer vingança.

— E aí Leonard disse que não era nada disso. - Ela rebateu. — Eu não estou defendendo ele, só estou querendo dizer que talvez ele tenha uma explicação.

— Eu estou aqui, dividida entre a saudade dos braços dele e querer enforca-lo! - Athena soltou uma risada curta.

— Eu posso dar a você mil conselhos, Mia. No final quem decide o que vai fazer, é você.
O problema é que eu não sabia o que fazer. Athena acabou adormecendo na minha cama, após algumas horas conversando comigo sobre seu trabalho. Ela parecia animada, feliz como nunca, e quando questionei o motivo, a resposta atingiu meu coração em cheio.

— Porque já fazia muito tempo desde que conversamos até a madrugada, e eu estava com saudade. Saudade de você. - Fora o que ela disse. Saudade. Essa palavra circulou pela minha mente até chegar em minha boca, onde fiquei repetindo o som de sua pronuncia várias vezes.
Eu sentia saudade de Leonard, dos meus amigos, da minha família. Consegui de alguma forma, recuperar cada um deles, porém, ainda sentia saudade de algo.
Sentia saudade de mim mesma. Peguei um papel e uma caneta, jogados em cima de um escrivaninha perto a janela do quarto e ali coloquei meus sentimentos. Enquanto colocava as palavras no papel, sentia novamente a saudade, dessa vez de escrever.
Passei a madrugada ali, me redescobrindo naquelas frases.
Logo bem cedo de manhã, lá estava eu naquela enorme cozinha preparando o café da manhã, as mãos na massa de bolinhos e o meu celular na orelha, onde escutava minha irmã tagarelar sobre seus amigos. Embora não tivesse dormido quase nada, estava animada para colocar minha vida de volta aos trilhos, e conseguir a antiga relação que tinha com Marie era uma prioridade.

O sonho (im)perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora