Dez

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Sai estava sentado em um muro de uma casa vazia próxima ao colégio. A brisa amena do verão batia em seu rosto, e ele erguia a cabeça de quando em quando para ver o céu ficando alaranjado. Estava sozinho. Pela primeira vez em muito tempo, não tinha ninguém. Ino mal o olhava, ninguém queria estar ao lado de alguém como ele, e Kabuto...

-Você não vai pular, não é? - Naruto gritou para ele lá de baixo.

-Não. Acho que não.

Naruto apoiou as mãos na cintura e olhou para os lados por um tempo, então andou na direção de uma lixeira para subir no muro e se sentar ao lado de Sai.

-Que bom. Seria uma bagunça - ele disse quando conseguiu andar até Sai.

Os dois fitaram o céu por alguns segundos, que mais pareceram uma eternidade.
-Sabe quando a coisa que você mais precisa é a que você menos dá valor? - Sai disse quebrando aquele silêncio - quando você pensa que não tem nada, mas na verdade tem tudo bem na sua frente e não consegue enxergar?

-Você brigou com Kabuto?

-Sim. Não. Não foi bem uma briga. Ele só... Eu sou um idiota, não sou?

Naruto calculou a distância de onde estava até o chão, para ter certeza de que sobreviveria e conseguiria correr se Sai o jogasse de lá.
-Sinceramente, eu te acho um completo idiota. Você sempre soube que Ino apenas te usava, e nunca tentou mudar isso, ou sair do meio dela. Kabuto sempre te seguiu como um cachorrinho, fazendo de tudo por você e guardando suas costas, mas você nunca o notou, ou se importou com seus sentimentos. Mas, sabe... Algumas coisas são assim. Você só nota que precisa delas quando as perde.

Sai deixou a cabeça pender para trás.
-E eu o perdi. Ele vai sair da cidade hoje.

-Você ainda pode mudar isso.

-Eu não iria querer olhar na minha própria cara se fosse o Kabuto.

-Mas não é. E ele está saindo daqui sabendo que nunca vai realmente conseguir ir embora. Você não vai consertar tudo?

Naruto olhou para Sai com um sorriso encorajador, passou o braço pelos seus ombros e se aproximou até quase encostar a boca em seu ouvido.
-Você não o perdeu, mas ainda pode perder. Vai deixar isso acontecer? - ele  se afastou e pulou do muro, caindo em pé.
Sasuke, que estava passando por ali - coincidentemente - foi ao seu encontro.
-O que vocês estavam falando?

-Nada - Sasuke o olhou com aquela cara de "se você não me contar, eu vou te castrar" e Naruto se encolheu - nada com que você tenha que se preocupar, apenas sobre Kabuto e essas coisas. Não faça essa cara, quer um sorvete? Eu pago.

A camisa de Sai estava encharcada de suor quando ele chegou ao aeroporto. Gotas de suor escorriam pelo seu rosto. Várias pessoas o olhavam enquanto ele andava de um lado para o outro, tentando descobrir onde Kabuto poderia estar.
Não tinha dinheiro para pegar um táxi e havia corrido o trajeto inteiro para chegar ali. Não acreditava que estava mesmo fazendo aquilo. Depois de ser tão cruel e imaturo rente aos sentimentos de Kabuto, ele poderia ser perdoado? Ele tinha esse direito?

Kabuto estava em pé olhando pela vidraça que dava para a pista de decolagem, meio desolado. Sai não precisou o chamar ou sequer chegar perto para que Yakushi soubesse que ele estava lá. Quando se virou e viu aquele homem que tanto amava coberto de suor e com o cabelo todo desgrenhado, sentiu muita vontade de rir.
Sai estava ridículo. Completamente ridículo. E mesmo assim, tão lindo e com um olhar tão determinado.
E quando seus olhos se encontraram, Kabuto teve de se segurar com força na mala para não cair. Ele prendeu a respiração e tentou dizer algo, mas Sai o interrompeu:
-Me desculpe. Me desculpe por ser um cretino. Me desculpe por não perceber antes.

-Perceber o que?

-Que eu te amo - mas essas últimas palavras saíram altas demais, e todos aí redor dos dois os encararam com certa expectativa.

Os olhos de Kabuto se encheram de lágrimas, e Sai avançou sobre aquele curto espaço que os separava para abraça-lo. E Yakushi teve de se segurar em sua camisa com toda sua força, porque suas pernas tremiam e ele ainda considerava cair no chão uma grande possibilidade.
-A passagem foi cara. Você vai ter que me pagar.

Sai sorriu e o apertou mais ainda, sentindo seu cheiro doce e passando as mãos pelos seus cabelos.
-E você está suado, não encoste em mim. Além disso, todo mundo está olhando.

-Cala a boca.

-Você diz que me ama e me manda calar a boca? O que mais pode estragar esse ótimo clichê?

Sai segurou seu rosto com as mãos e o ergueu:
-Você é irritante pra caralho.

-Eu te amo.

-Eu sei. Seu boiola.

-A passagem foi muito cara. Você não vai conseguir pagar nem se trabalhar até o fim da sua vida.

-Dá para você calar a boca e me beijar?

Ele e Eu『Narusasu』☆Concluída☆Onde histórias criam vida. Descubra agora