Ao primeiro toque do despertador, já levanto apressada, parece que estou sempre ligada no 220v. A verdade é que a rotina de ser mãe solteira e administradora, não é nada fácil. Eu tenho todo um cronograma todos os dias, e se algo sai diferente do que foi planejado, já me atraso e meu dia vira uma confusão. Vou em direção ao banheiro e começo a tomar meu banho para me arrumar para mais um dia, e só após estar arrumada, é que vou acordar Luquinha.
Luquinha, é meu filho de 6 anos, e todos os dias preciso acordá-lo um pouco antes do horário, porque sei toda a dificuldade que ele tem para acordar cedo, então, é todo um processo, um tanto, quanto lento. Assim, todo dia de manhã ao acordá-lo, espero ele completar seus 3 estágios. Você deve estar se perguntando: estágio? Como assim estágio?
Pois bem, vou até ao quarto de Luquinha e começo a acordá-lo.
- Luquinha, meu amor, acorda já está na hora - digo de modo paciente, porque já sei como ele é todas as manhãs.
- Não, mãe, está cedo. Me deixa dormir mais um pouco, não está na hora ainda - responde ele de modo sonolento. (E esse é o estágio um, a negação).
- Meu filho, se estou te chamando é porque não está cedo, está no horário de você levantar.
- Não mãe, me deixa dormir.
Respiro fundo, para ter paciência, porque conheço meu filho e sei que essa é a rotina de todas as manhãs.
-Levanta Luquinha, para não nos atrasarmos - Continuo insistindo.
-Não mãe, eu não vou para a escola hoje, eu não quero ir, eu não gosto da escola- diz que ele choramingando. (E esse é o segundo estágio, a birra).
Suspiro novamente, e ele sabe que a minha paciência está começando a querer me deixar.
-Luquinha, levanta logo, antes que eu comece a me aborrecer de verdade - digo em um tom mais sério.
- Tá bom, vou levantar - diz ele, secando as lágrimas que nem se quer existem em seus olhos. (E finalmente, esse é o terceiro e último estágio, a aceitação).
E esse é só o início da minha rotina de todas as manhãs.
Enquanto ele está no banho, estou preparando seu café, e já pensando nas coisas que tenho que fazer na loja hoje. Tenho uma loja de perfumes nacionais e importados, não fica muito longe da minha casa, mas preciso deixar Luquinha na creche e em seguida ir para a loja.
- Bom dia, mamãe - diz Luquinha saindo do banheiro
Sim, ele só acordou de verdade agora.
- Bom dia, meu filho. Toma seu café, para sairmos, e depois pegue sua escova para eu pentear seus cabelos
- Tá bom.
Luquinha toma seu café, eu penteio seus cabelos, e saímos de casa para nossas tarefas do dia.
Estamos andando em direção onde deixo meu carro estacionado, quando encontramos D. Rosa, a minha querida vizinha fofoqueira, que está mais interessada em minha vida do que eu mesma.
- Bom dia, D. Rosa. Como a senhora está? Cumprimento de maneira educada.
- Oi, minha querida, eu estou bem e você? Vi um rapaz bonito, parando de carro no seu portão esses dias. É seu namorado? Pergunta ela de maneira inconveniente.
Fico parada um tempo, tentando entender de que rapaz D. Rosa está se referindo. Afinal, não lembro quando foi a última vez que tive um encontro. Na verdade desde que Fernando, meu ex marido, me deixou, eu só tive dois encontros, e isso em um período de 4 anos.
Mas, voltando a minha vizinha fofoqueira... ela está parada na minha frente, me encarando, esperando minha resposta, para em seguida espalhar para o bairro todo. É quando finalmente me dou conta de quem D. Rosa, está se referindo, e tenho que me controlar para não revirar os olhos. O rapaz bonito, que ela mencionou, é o motorista do Uber, que tive que chamar esses dias, quando meu carro deu problema. Não sei se choro porque não tenho um encontro a muito tempo, ou se acho graça da situação, afinal li em algum lugar, que o segredo da vida é saber dar risada dos próprios problemas.
- Não sei de quem a senhora está falando D. Rosa, a senhora não deve ter enxergado direito, ou me confundiu com outra pessoa, as vezes acontece né?
Respondo, com um sorriso amigável, e sei que agora a deixei mais curiosa ainda, e tenho vontade de rir por causa disso. Nada mais engraçado, do que deixar um fofoqueiro, intrigado e sem respostas. Mas, não vou dar satisfações da minha vida pessoal para minha vizinha enxerida.
-Hum, claro, deve ter sido isso - responde ela de maneira desconsertada.
- Bom, deixa eu me apressar, para não chegar atrasada. Até mais D. Rosa.
Saio deixando minha vizinha para trás, para não correr risco de render assunto.
Estou a cinco passos do meu carro, quando perco o equilíbrio e quase caio de cara no chão.
-Puta que pariu, meu salto quebrou.
- O que disse mamãe?
Ai, droga, achei que tinha apenas pensado, e não xingado em voz alta. Evito ao máximo, xingar perto de Luquinha, ele está naquela fase "papagaio" em que tudo que escuta repete, e eu não quero dar mal exemplo. Já que sempre brigo com ele, dizendo que não pode falar palavrão.
-Nada filho. Eu disse, quase que caí, porque meu salto quebrou.
Ele me olha e olha para os meus pés tentando entender o que aconteceu. Contenho minha irritação e a vontade de falar outro palavrão. Não acredito que meu salto quebrou. Vou arrastando meus pés até o carro, pois sempre deixo um chinelo dentro ali dentro, para os momentos de emergência, tipo o que está acontecendo agora.
Entro no carro, e sigo para a creche de Luquinha.
- Chegamos filho, comporte-se e tenha um bom dia. Obedeça sua professora - digo a ele.
- Eu sempre me comporto mãe - responde ele, me dando um beijo de despedida.
Sigo em direção a minha loja. Aproveito o caminho para pensar sobre a minha vida amorosa, ou a falta dela, na verdade.
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A essência do amor
RomanceSinopse Nathália foi mãe jovem. Casou cedo e (virgem) sim, casou virgem no século XXI. Ok, não façam essa cara de espanto. Nathy tinha apenas 18 anos, quando resolveu se casar, então, não foi tão difícil conseguir se controlar. Assim, casou-se com...