Capítulo 3 - ROSAS

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FLASHBACK

Atualmente, a Família Jiang possuía três grandes hospitais localizados em Xangai, Pequim e Chongqing, e estão planejando abrir mais dois no próximo ano.

Podemos dizer que Wei Ying teve sorte de ter sido adotado por uma família de doutores. Seu pai, Jiang FengMian, era neurologista e sua mãe, Madame Yu, era oncologista, porém os dois tinham se aposentado como praticantes da medicina e agora seu pai ficava responsável por gerenciar, modernizar e desenvolver os hospitais da família e sua mãe era a representante de todos eles, então viajava sempre que precisava fechar contratos, ir em eventos importantes ou aparecer na mídia.

Yanli não quis estudar medicina, pois seu interesse era mesmo fazer companhia, ter mais contato e cuidar dos pacientes, não realizar procedimentos cirúrgicos, por isso optou pela enfermagem. Cheng não gostava nem um pouco da área de saúde e decidiu cursar advocacia. E Wei Ying sempre foi apaixonado com a parte criativa da vida, por isso escolheu o design gráfico.

Na época, Jiang FengMian ainda era neurologista, quando Wei Ying apareceu em seu hospital, o Xangai-Li. A criança estava extremamente ferida, inconsciente e toda ensanguentada, tinha sido encontrada em um beco, sem ninguém do lado, não possuía guardiões e por ser muito pequena, por volta de seis a oito anos de idade, também não tinha identidade ou digital reconhecida. Ele tratou do menino, que demorou três dias para acordar e quando o fez, ele não pronunciou nenhuma palavra, parecia perdido e tinha sintomas de perda de memória já que não entendia alguns comandos que o médico lhe passava.

A criança não falava, não chorava mesmo quando parecia sentir dores intensas, principalmente na cabeça, porém ela se assustava com facilidade, não permitia toques e toda vez que alguém chegava perto ela mordia, atacava ou fugia.

Com o tempo, seus enfermeiros foram percebendo que alguns barulhos específicos a faziam ter ataques de pânico e dores intensas na cabeça chegando a causar uma síncope, como barulhos de um molho de chave e o som do zíper fechando a mochila.

Jiang FengMian visitava seu quarto todo dia de manhã para conferir seu estado. Madame Yu todo dia de tarde para se certificar que ele havia comido, tomado água e se banhado.

Eles também o entretinham com jogos e atividades para sua mente voltar a se desenvolver. No início ele teve dificuldades, mas com o tempo passou a realizar tudo com maestria para uma criança com tão pouca idade. Ele era perfeccionista e muito inteligente.

Quase sempre também o visitavam a noite, antes de irem para casa, para contar-lhe alguma história para dormir já que ele tinha dificuldade. Com isso meses se passaram e a criança sempre ficava ansiosa para quando os Jiangs vinham o visitar, assim passou a confiar neles. Eles se conectaram e inconscientemente se tornaram seu porto seguro.

Eles respeitavam muito seus limites, com isso o garoto começou a não se assustar mais com pequenos toques, como em sua mão e em seu ombro. Cerca de sete meses depois ele passou a receber beijinhos de boa noite dos Jiangs em sua testa também e dois meses depois disso eles se emocionaram ao se abraçarem pela primeira vez.

Eles ainda acreditavam que ele era mudo, até que um dia o casal terminou mais um livro de histórias, desta vez tinha sido "O Pequeno Príncipe" e na hora do beijinho de boa noite ouviram uma voz rouca e baixa.

"As rosas realmente nos machucam?"

A surpresa foi tanta que os dois só olharam para ele assustados, então apontou para o livro na cômoda do lado do seu leito.

"É loucura odiar todas as rosas porque uma te espetou." Ele tinha gravado a frase de maneira perfeita e repetiu: "As rosas realmente nos machucam?"

"Sim, elas possuem espinhos, meu bem" Respondeu Madame Yu já que o Jiang ainda estava atônito, "Por isso muitas vezes elas podem nos ferir."

O menino pensou um pouco, assentiu devagar e comentou quase que em um sussurro, "Eu tinha entendido errado."

"Como tinha entendido?" Dessa vez foi FengMian que falou.

"Eu pensei que o livro estava fazendo uma metáfora e as rosas, na verdade, representavam pessoas."

~

Naquela noite, Madame Yu dormiu com ele, enquanto o Jiang foi para casa cuidar de Yanli e Cheng. Eles transferiram o garoto para um quarto V.I.P assim que ele melhorou as dores de cabeça e reações traumáticas, então o lugar era silencioso e confortável, mesmo não deixando de ser todo branco e cheirar hospital.

Madame Yu na verdade não conseguiu dormir, ficou pensando a noite inteira na criança que estava em seus braços e o quanto ela havia sido machucada.

Ela não se emocionava com facilidade, mas meses atrás quando tinha recebido os relatórios dos machucados dele, ficou horrorizada. Decidiu juntamente com o marido de serem os guardiões daquela criança, cuidar de seus machucados, entender suas atitudes, respeitar seus medos, tratá-lo com carinho e mesmo que esse tempo tenha passado muito rápido, o amor tinha se desenvolvido de forma graciosa e imperceptível, sendo assim ela também esperava ansiosa para quando ia vê-lo ao entardecer.

Agora aquela criança, que já tinha uma parte do seu coração, parecia ainda mais forte do que ela pensou depois de associar as rosas à pessoas que machucam, ele realmente devia ter enfrentado muitas situações difíceis.

Pensar sobre isso fez seu coração se apertar e ela chorou baixinho por imaginar o que ele passou. Ainda soluçando, sentiu-o mexer no abraço e se virar para ela.

"Você está bem?" Seus olhinhos azuis procuraram os dela.

Ela rapidamente limpou as lágrimas e concordou dando um sorriso triste. "Eu estou, me desculpe, eu te acordei?"

"Eu tenho o sono leve, não se culpe por isso."

Ela riu, era engraçado ver uma criança falando de maneira formal, ainda mais uma que até pouco tempo era muda.

"Você está bem também?"

Ele assentiu.

"Não me deixe preocupada, se sentir qualquer coisa me fale."

Ele assentiu mais uma vez.

"Vamos dormir então?"

Ele sorriu e concordou, os dois se ajeitaram e quando ela fechou os olhos, ouviu: "Wei Ying."

"Hm?"

"Meu nome é Wei Ying."

KILL ME HEAL ME - WangXianOnde histórias criam vida. Descubra agora