Capítulo Quatro

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Acredito que passei todo o restante do dia sentada no sofá, olhando fixamente para a porta, esperando Anabely chegar.

A garota, a tal Ambrósia, fora embora... O cheque jazia dentro do meu bolso. Parecia ter espinhos do tanto que me incomodava.

Tive tempo, estando ali parada, de pensar se fiz errado ao aceitar a grana. Mentalmente enumerei os motivos pelos quais aceitar e pelos quais recusar educadamente. Sentia-me como uma prostituta sendo paga por ter feito sexo com alguém, mesmo sabendo que aquele era um sentimento infundado. Ambrósia deixara bem claro que não fora nada daquilo.

Meus pais reprovariam imediatamente como agi.

Contudo, só em pensar na quantia generosa um grande alívio me inundava... Seria mais uns meses de aluguel e despesas da casa. Definitivamente eu não podia recusar. Quem ligava para a decência em um momento daqueles?

Eu não.

Então, por algumas horas a fio, fiquei ali sentada. Soube o exato momento que Anabely chegava, pois seus passos sempre a denunciavam. O barulho das chaves. A maçaneta girando. A porta abrindo... Ela entrando.

De inicio não percebeu minha presença ansiosa sentada no sofá, o que lhe causou certo estranhamento quando virou, vendo-me.

─ Graças a Deus você chegou ─ abordei-a imediatamente, porém, sem conseguir levantar. O cheque em meu bolso parecia pesar tanto quanto uma bigorna.

Anabely me olhou enviesado, intrigada, de certa forma.

─ Pois é, cheguei. ─ Devagar ela se encaminhou até o sofá menor. Sentou, meu olhar a seguindo todo o momento. ─ Você está estranha, Frésia. ─ Observou. ─ Aconteceu alguma coisa?

Aquiescei debilmente, ainda encarando-a.

─ Você está começando a me assustar. O que houve? Desembucha!

─ Anabely ─ comecei ─, lembra-se daquela história com o cara compremetido do final de semana passado? ─ Ela anuiu. ─ Tu não vai acreditar, velho! Nem eu tô conseguindo digerir essa maluquice.

─ Pelo amor de Deus, Frésia, fala logo! ─ Mandou de forma brusca.

─ A moça, namorada do cara... Apareceu aqui hoje.

Por aquilo Anabely não esperava mesmo! Seus olhos esbugalharam de uma forma cômica, que teria me feito rir, se não fosse tão sério.

─ O que ela queria? Caramba, como conseguiu te achar? ─ Ela estava incrédula.

─ Eu quase morri engasgada com o sanduiche quando a vi na porta! ─ Exclamei, finalmente conseguindo expressar o que sentia. Eu estava eufórica! ─ Pensei que ela tinha vindo pra acertar as contas comigo por ter ajudado ao namorado a colocar um chifre na cabeça dela!

─ E não foi pra isso que ela apareceu?

─ Cara, sem noção o que vou te mostrar agora, mas peço que tenha a mente aberta.

Ela fez um rápido movimento positivo com a cabeça. Tirei o papel do bolso e entreguei para ela. Analisei seu semblante enquanto se dava conta do que era.

─ Ela te deu isso?

─ Acredite se quiser. Disse que era um "agradecimento" por ter a feito ver quem realmente era o namorado.

─ Mas isso é muito dinheiro, Fré... ─ seu tom abaixou algumas oitavas, os olhos ávidos sobre o cheque.

─ Eu sei disso! Por favor, não pense que sou uma mulher fácil por ter aceitado a grana, Anabely... Eu precisava desse dinheiro e, pelo que ela fez questão de expressar, não faria nem cocegas em sua conta bancaria.

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⏰ Última atualização: Oct 13, 2020 ⏰

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