Capítulo Três

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Era domingo. Anabely não trabalhava, então passava o dia em casa comigo. Arrumamos o apartamento inteiro, colocamos a roupa suja para levar e assistimos seriados. Bem, tentamos. Não encontramos um titulo que agradasse a ambas.

Mas nos divertimos, apesar de não chegar a uma decisão. Fizemos pipoca, o que ao final não pareceu uma boa ideia, já que sujou a sala toda.

─ Acho que vou sair amanha para procurar trabalho ─ falei para ela enquanto varria a sala, juntando as pipocas.

Anabely, sentada no sofá com as pernas cruzadas, fitou-me.

─ Eu queria poder ajudar mais, Frésia. Sustentar tudo até que você termine a faculdade. Mas...

─ Nada disso, viu! Não tem sentido você bancar tudo quando sou saudável e perfeitamente capaz de arrumar um emprego. ─ Parei com o que fazia, sustentando meu queixo ao cabo da vassoura. ─ Sei que ainda tenho alguns meses do seguro desemprego, porem pensei bastante essa noite e talvez seja melhor começar a procurar emprego. Talvez não seja correto deixar para fazer isso só quando o dinheiro acabar.

Ela assentiu.

─ Se eu conseguisse algo para você lá na empresa ─ murmurou.

─ Com todo o respeito pelo seu trabalho, amiga, mas eu não quero trabalhar lá.

─ É um ótimo emprego, viu. ─ Ela fez um biquinho.

─ Ah, eu sei que é. Pra você que gosta.

Anabely era nutricionista. Ela trabalhava numa empresa que fornecia alimentação para os trabalhadores de uma fabrica de calçados. Eu mais cozinha era uma soma que, definitivamente, não dava certo.

Ao fim daquela noite conseguimos assistir algo do inicio ao fim. Não percebi que estava tão cansada e acabei dormindo no sofá.

Pela manha quando acordei Anabely já tinha saído para trabalhar. E como prometido, depois de me arrumar, também saí, com a folha dos classificados em mãos.

Na hora do almoço comi um cachorro quente na rua, em pé sob a sombra de uma arvore no parque da cidade.

Até aquele momento a busca por um emprego estava sendo frustrada. E eu nem era tão exigente, mas por algum motivo, os poucos lugares que tinha vaga, eu não era adequada.

Seria a crise? Maldita crise.

Eu estava realmente cansada, então decidi voltar para casa e continuar no outro dia.

Já no conforto do meu quarto, fiz algumas copias do meu curriculum para distribuir na manha seguinte. Enquanto olhava o arquivo, percebi com tristeza que o único trabalho que tive na vida foi de caixa de supermercado.

Não era um bom currículo, mas era o que eu tinha, infelizmente.

No dia seguinte voltei para casa no fim da tarde, com uma sensação de extrema derrota. Desde quando ficara tão difícil conseguir um trabalho?

Quando cheguei, Anabely ainda nao tinha retornado, o que era ótimo, pois não queria falar sobre o triste dia com ninguem. Resolvi tomar banho e me trancar no quarto, colocando uma plaquinha de "Don't disturby" na maçaneta da porta. Era uma das regras sagradas: se tinha aquela plaquinha, sabemos que só nos veríamos no outro dia.

Que foi exatamente o que aconteceu. Anabely tomava café quando entrei na pequena cozinha.

─  Bom dia ─ saudei-a com certo desânimo.

Talvez, com sorte, ela concluisse que era apenas desânimo matinal.

─  Bom dia, Fré ─ respondeu animada, sorrindo como sempre. ─ Que vai fazer hoje?

Ao Estilo de FrésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora