𝑼𝒎 𝒏𝒐𝒗𝒐 𝒄𝒐𝒎𝒆𝒄̧𝒐... 𝒐𝒖 𝒕𝒂𝒍𝒗𝒆𝒛 𝒏𝒂̃𝒐

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   Ambulâncias correndo, viaturas da polícia e até mesmo o grande caminhão vermelho dos bombeiros, foram as últimas coisas que ela vira antes de partir. Uma decisão difícil, mas que se tornou fácil graças a pressão que vinham lhe fazendo. Yun-Hee agora se tornaria uma nova pessoa, com novos objetivos e novas preocupações.
   Enquanto dirigia para a sua mais nova moradia em Sokcho, ela ouvia uma de suas músicas favoritas com um enorme sorriso no rosto.

— Finalmente! Já me sinto livre só de pensar que agora, eu vou poder recomeçar.— Murmurou sorrindo. Suas mãos no volante estavam firmes, a pequena adrenalina que passava por suas veias apenas aumentava, assim como a velocidade do carro.

   Depois de longas, mas animadas três horas, ela chegou a sua nova casa. Era pequena, porém estilosa, a aparência mais rústica e antiga, em curtas palavras, simplesmente perfeita! O bairro era calmo, e logo ao final da rua tinha uma lindo parque, repletos de grandes e belas árvores, também havia flores, de várias espécies, mas a que mais lhe chamou atenção foi a incrível peônia branca, só de vê-la já podia sentir o adorável aroma da flor.

   Depois de apreciar um pouco mais a rua e suas qualidades, pegou a chave, abriu a porta e entrou. Os móveis –assim como o estilo da casa– eram rústicos e de aparência antiga, mas ao mesmo tempo pareciam ter acabado de sair da loja.

— Hoje vai ser dia de faxina! Vou por tudo em ordem pra dar uma volta naquele parque.— Falou incentivando a si mesma, então sem demora pegou os produtos e objetos de limpeza, por mais que a casa estivesse empoeirada possuía uma aura relaxante, diferente da sua antiga moradia.

   Ela começou a limpar primeiramente seu quarto, ele era pequeno e tinha uma organização impecável, o que facilitou a limpeza. Em seguida foi para o seu banheiro, e novamente começou a limpar, ela cantarolava baixinho enquanto lavava o chão. Pensando bem, cantar ainda era seu passatempo favorito, porém ele fazia ela se lembrar do passado não tão distante que ela vivia.

   Ao final da faxina ela sorriu satisfeita consigo mesma, a casa agora cheirava a lavandas, os móveis brilhavam e Yun-Hee estava suada, depois de tudo isso, era a vez dela se limpar, com um relaxante banho de espumas. Dirigiu-se ao banheiro e devagar tirou suas vestimentas, colocando-as no cesto de roupas sujas. Ao entrar debaixo d'água, gemeu baixinho sentindo os músculos de seu corpo relaxarem com o toque da água morna. Pensar que agora, absolutamente tudo, todo seu crescimento na carreira, aprendizado e mais, foram em vão, porém não é isso que a deixa intrigada, o fato é que saber que todos acham que você estava morta pode ser perturbador. Mas agora já está feito, e ninguém vai mudar isso.

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   Após finalmente acabar de se vestir, ela apagou todas as luzes da casa, afinal seria um desperdício deixar tudo ligado sendo que ninguém estaria ali. Então, se dirigiu até a porta e segurou na maçaneta, mas ao invés de abrir ela olhou para trás, para a sala arrumada, para a cozinha em conceito aberto, para tudo que havia ali e então, ela se deu conta de que realmente seria uma vida diferente. Sorriu satisfeita e depois de tanto pensar, abriu a porta e saiu, trancando logo em seguida. Enquanto andava até o parque pode perceber mais detalhes da rua, talvez pelo fato de estar fascinada por ser apenas a sua segunda vez ali –a primeira foi quando veio fechar contrato com o dono da casa– ela não vira nenhum defeito, em seu pensamento era tudo perfeito.

   Ela sentou em um dos grandes bancos de madeira que tinham na praça. A madeira estava desgastada, claramente porque muitas pessoas já sentaram, pisaram e sabe-se lá mais o que fizeram nesse banco. Ela olhou em volta, tinha um casal em um banco um pouco distante, mas perto o suficiente para que Yun-Hee conseguisse ver, o homem estava com uma calça preta larga, blusa cinza com algumas frases escrita e um tênis da marca Nike, a mulher estava com um cropped vermelho, short jeans brancos e um tênis All Star preto, eles pareciam discutir, a mulher estava aparentemente vulnerável com tudo que o homem lhe dizia, mas estava quieta, com a cabeça abaixada e o olhar caído. O que será que esse homem tão cruel está falando pra essa jovem moça? Por mais que ele não esteja agredindo ela, as palavras machucam, as vezes até mais do que tapas e socos. Uma simples frase pode fazer uma pessoa tomar decisões que realmente não são boas. Mas e se a mulher tiver feito algo ruim? Será que esse é um motivo para o homem levantar a voz dessa maneira para ela? Uma traição talvez? Porém isso não é um motivo tão concreto para isso. Talvez... Tudo se baseia no talvez. Talvez ela tenha feito algo, ou talvez não. Talvez ele esteja errado, ou talvez não...

   Enquanto o homem continuava lá, murmurando coisas que Yun-Hee não podia ouvir, a garota começou a olhar em volta a procura de algo que fosse bom e como esperado, encontrou. As lindas flores que havia visto assim que chegou, estavam mais belas agora que vistas de perto. Ela se levantou e começou a andar em direção as flores, passou ao lado do banco em que o casal estava discutindo e pode sentir dois olhares gélidos em si, além disso ouviu um soluço de choro vindo da mulher, porém ignorou, aliás talvez fosse apenas algo da sua cabeça.

   Assim que chegou no pequeno canteiro de flores se abaixou, sorrindo ao sentir aquele aroma doce. Ela então pensou, olhou para trás e então arrancou delicadamente uma pequena flor. A vontade de Yun-Hee era ir até lá e entregar a flor para a mulher, mas ela não podia, nem a conhecia! Então apenas colocou a flor atrás da orelha e olhou em volta novamente, dali de onde ela estava, avistou três rapazes a alguns metros de distância, um estava lendo, e os outros dois jogando bola. A garota então sentou em um banco que estava ali perto do canteiro e ficou observando de longe, ora prestava atenção no casal, ora nos três garotos, porém em certo momento se distraiu olhando o céu, o pôr do Sol se aproximava, a noite estava para chegar e ela ainda estava ali, parada, apenas observando acontecimentos da vida de outras pessoas. Assim que se desligou do seu mundinho para voltar para o mundo real que percebeu, mas não deu tempo de fazer nada, a bola já havia alcançado seu rosto.

—Porra!— Falou baixo assim que a bola caiu após bater em seu rosto que, obviamente estava vermelho agora e com pequenos vestígios de grama.— Eu não levo uma bolada dessa desde o ensino fundamental!— Disse para si mesma tapando o rosto com as mãos, essa sensação de dor e ardência, era horrível! Seus olhos lacrimejaram e algumas lágrimas caíram, mas assim que tirou a mão do rosto percebeu que os três garotos estavam na sua frente, o que de primeira a assustou.

— Desculpa moça... Eu não fiz por querer...— Um dos três rapazes Murmurou sem graça, coçando a nuca  envergonhado. Ele dos três era o mais baixo, seu cabelo castanho tinha pequenas e quase imperceptíveis mechas rosas.

— Você está bem?— Outro falou, a olhando preocupado. Esse era o mais alto, tinha cabelo preto e ondulado.

— Não culpe eles por favor, eu podia ter evitado isso se estivesse os vigiando como deveria.— Falou o que estava com um livro nas mãos. Ele dos três estava com um olhar culpado, porém também tinha certa curiosidade. Seu cabelo era fofo, estilo algodão doce.

— Não se preocupem, eu estou bem.— Ela disse e sorriu gentil, passando a mão no rosto para tirar a grama.— E não se culpe, isso acontece mesmo, é normal.

— Que bom que está bem, então.— O mais baixo sorriu falando e olhou para o mais alto.— Vem, vamos voltar a jogar, eu ainda estou ganhando.— Ele deu uma risada baixa e fofa antes de sair correndo com a bola.

— Mas logo logo vai perder!— O mais alto saiu correndo atrás dele, rindo baixinho. Ela voltou o olhar para frente, o outro continuou ali parado observando ela, suas bochechas –que já estavam vermelhas, assim como o rosto, graças ao impacto da bola– queimaram em vergonha.

— Eu.. vou atrás daqueles dois.— Sorriu gentilmente, mas parecia confuso e assustado com algo, como se... Como se estivesse vendo um espírito. Contudo ele não falou nada e apenas saiu, deixando a garota só novamente.

   Isso foi estranho, por que ele a olhava dessa maneira? Os outros dois pareciam normais... Mas ele com certeza estava estranhando algo em Yun-Hee. A garota logo após ele sair se levantou e foi andando rapidamente para casa. A ideia de que esse garoto sabia quem ela era começou a rodar em sua mente. Talvez seja isso... Ou talvez não.

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𝑬𝒈𝒐𝒊𝒔𝒎 𝑶𝒓 𝑳𝒐𝒗𝒆 •𝑪𝒉𝒐𝒊 𝒀𝒆𝒐𝒏𝒋𝒖𝒏•Onde histórias criam vida. Descubra agora