Capítulo 5

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Tudo estava branco. A primeira coisa que Madara Uchiha notou quando abriu os olhos era na forma como que tudo estava níveo. Então ele piscou mais algumas vezes e sua vista melhorou: era apenas o teto.

Assim que se acalmou, foi a hora em que a dor escolheu para lhe cumprimentar. Todos os seus ossos doíam, e tinha a vaga noção de ter as pernas penduradas e um dos braços também. O outro ele conseguia notar o peso largado ao lado de seu corpo. Já sua cabeça doía bem menos do que o resto, e isso foi um alívio, pois precisava tentar descobrir onde estava.

Virando o pescoço para o lado, encontrou a porta. Pôde observar também que as paredes eram claras também. Olhando para o outro lado encontrou um sofá e as janelas. Próximos a esses dois estava uma bancada e no alto da mesma parede, uma televisão pequena.

Fechando os olhos um pouco, concentrou-se na dor que sentia e tentou lembrar-se do que havia acontecido. Não conseguiu, sua mente latejou com força como se houvesse uma barreira ali que quisesse impedi-lo de entrar.

Abrindo os olhos, encontrou ele. Ele estava irritado. O rosto geralmente tão bonito estava distorcido em raiva. Ele gritava, mas Madara não conseguia ouvir. Nem queria.

Ele gritou por longos minutos, e tudo que o Uchiha ouvia eram os zunidos chegando ao longe, como se ele estivesse ouvindo de dentro de um poço. Então uma mulher abriu a porta e ele a abraçou. Ela tentava acalmá-lo e ele apenas a ignorou, continuando a dizer mais uma dúzia de coisas inaudíveis.

Então ele chutou a lata de lixo e saiu de mãos dadas com ela. A audição de Madara voltou no momento em que a porta se fechou com força, deixando-o sozinho naquele quarto tão branco.

Olhando para a parede por sabe-se lá quanto tempo, imprecou quando o gosto salgado de suas lágrimas chegou em sua boca e todo o quarto foi de branco para o mais assombroso tom de vermelho.

Acordando num sobressalto, Madara tremia da cabeça aos pés, sua respiração era profunda e frenética. Sentando-se, passou a mão no rosto e notou que estava molhado. Olhando os próprios dedos, suspirou ao notar que eram só lágrimas. Toda vez que tinha esse pesadelo, mesmo que fosse o mesmo pela vigésima vez seguida, ele sempre tinha o medo irracional de encontrar tudo manchado de vermelho.

Levantou-se, indo para a cozinha, servindo-se de um copo de água gelada e bebendo-o em um gole só. Em seguida foi para a janela da sala, abrindo-a e sentindo o vento frio da madrugada ajudando a deixá-lo mais sóbrio.

Esticando o braço e pegando um maço de cigarros e o isqueiro que ficavam agora em cima da mesinha de canto, acendeu-o, agradecendo instantaneamente pelo sabor em sua boca. Era muito melhor que as lágrimas.

Olhando a cidade que dormia, Madara lembrou-se dele. O rosto dele no sonho era exatamente como o tinha visto pela última vez, e poderia jurar que depois de vinte anos, ele teria mudado muito pouco. Nunca saberia, sequer gostaria.

Olhando para o pulso que segurava o cigarro, encarou a pequena cicatriz em seu pulso. Esta era apenas o resquício da plástica. Madara havia removido a marca que ele lhe deixara, como se além de um coração partido e de uma vida com medo, ele também merecesse deixá-lo fisicamente maculado.

Não, Madara não lhe daria isso. Por isso operou assim que encontrou um médico que lhe passasse confiança — quatro meses antes de começar a lecionar na faculdade.

Tragando mais um pouco, fechou os olhos e sua mente traiçoeira lhe levou direito para o momento em que acordou dentro do carro. Ele estava de cabeça para baixo, havia sangue por todos os lugares, incluindo o rosto de Madara. E o sangue gotejava por algum lugar como uma maldita torneira ligada, era tudo que ele conseguia ouvir além do som de sirenes.

Falling BlossomsOnde histórias criam vida. Descubra agora