Capítulo 2

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Madara Uchiha tinha uma vida normal e pacata. Levantava todos os dias as cinco e quarenta da manhã, preparava seu café, tomava banho, trocava de roupa, buscava sua bolsa e saía. Tinha um carro igualmente regular, um que não era grande, nem bebia muito combustível.

Ele ia para a faculdade, dando sua primeira aula as sete e cinquenta. Tinha uma pausa no almoço ao meio dia e retomava para mais aulas até as cinco horas da tarde duas vezes na semana, nas outras três ficava até as sete horas da noite.

Então pegava o mesmo carro e voltava para casa, onde lavava as roupas, tomava banho, esquentava algo no microondas e se sentava no sofá, pronto para corrigir trabalhos ou apenas zapear pela televisão sem de fato assistir a nada.

Normalmente nesta etapa seus três gatos — um laranja, um preto e um malhado já estariam em seu colo, ronronando e lhe dando todo o calor e carinho que poderia desejar.

E era por isso tudo que ele não aceitava muito bem a tempestade chamada Hashirama Senju, que caiu sobre sua vida, enfiando-o direto no olho do furacão, balançando toda sua rotina e todos os seus sentimentos.

Havia quatro meses que levantar às cinco e quarenta da manhã vinha junto de uma leve ansiedade e nervosismo. Que estacionar seu carro normal e tedioso na mesma vaga normal e tediosa não era mais tão mundano assim.

Quatro meses que entrar na sala de aula após o almoço lhe deixava a beira do vômito, pois o único calor que queria sentir era o do corpo de Hashirama e não os de seus animais e do seu cobertor importado.

Isso era completa e irrevogavelmente errado, no entanto Madara não conseguia mais respirar nada que não fosse o mais novo. E se odiava por isso. Havia dezoitos anos que sequer beijava outra pessoa, quem dirá tocar da forma como ele vinha lhe tocando.

Lembrava-se como se fosse ontem de há quase duas décadas atrás ter seu coração tão massacrado que achou nunca mais conseguir andar sozinho tamanha dor que sentia fisicamente por todo seu corpo.

Ante a vergonha, ao embaraço e a humilhação, Madara Uchiha jurou nunca mais se envolver com outra pessoa. Nunca procurou por, nunca sequer sentiu falta de contato humano.

Quando seu sonho precisou ser interrompido no auge dele por conta de sua sexualidade, Madara jurou nunca mais cometer o mesmo erro. Nunca mais confiaria em ninguém. Sendo assim, se mudou, indo morar numa cidade há dez horas de distância de seu passado. Deixou a escrita para trás. Pegou seu diploma e fez jus a ele. Começou a lecionar graças à ajuda de uma amiga querida, e de claro, seu nome, que felizmente conseguira se manter intacto no meio do fogo que foi o pequeno escândalo.

Muito dinheiro comprara aquele silêncio, e ele ficava grato por isso. O motivo de sua maior dor tendo tanto poder — social e aquisitivo, lhe deu essa oportunidade. O furdúncio sendo muito pior para ele do que para si. Madara apenas se calou e partiu.

E mais uma vez, por tudo isso; por tudo que deixou para trás; para todos os juramentos que fizera consigo mesmo conforme pensava se deveria ou não cortar os pulsos e deixar literalmente tudo para trás, que a presença de Hashirama era como uma chuva de verão.

Ele chegou sem aviso: não teve nuvem escura, não teve rajada de vento. Ela simplesmente aconteceu.

Quando aqueles olhos escuros e brilhantes encontraram os seus e ele lhe sorriu como se Madara fosse o próprio sol, o mais velho sentiu um calor passar por atrás de seu coração, como num sopro nervoso de alguém que deseja manter a fogueira acesa.

Hoje em específico era mais um dia qualquer, teria aula até mais tarde, o que apreciava já que a faculdade costumava ficar mais vazia, e assim ele podia caminhar sem chamar muita atenção até o pátio do estacionamento.

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