Sentado em meu apartamento pequeno e confortável comecei a fazer a lista de suspeitos sendo eles o primeiro e mais provável sua esposa a Sra. Pulman, mas porque? O que ela ganharia com a morte do marido além de um longo período de viuvez precoce!
É fácil apontar culpados o difícil é descobrir o que o levou a tal ato. O fato é, Sr. Pulman foi assassinado em uma mansão nada convencional ao estilo vitoriano cujo somente de funcionários ele tem em torno de duzentos e todos podem ser seu possível assassino. É como encontrar uma agulha em um palheiro, mas até mesmo a maldita agulha pode ser encontrada após esvaziar cautelosamente o palheiro e é exatamente o que irei fazer.
Ao amanhecer do dia seguinte fui até a gigante mansão Pulman, e diferente do que achei que encontraria tudo estava completamente vazio, não existia uma única alma viva dentro dos enormes corredores e tudo que conseguia ouvir era o barulho do vento ecoando sob os corredores iluminados apenas pelas enormes janelas.
- Olá? - Gritei ouvindo minha voz se propagando pelos corredores da mansão.
Minha interação com o vazio foi inútil e logo percebi que estava completamente sozinho na mansão Pulman, aproveitando esse momento quase que enviado por Deus subi as escadas até o local onde havia deixado o corpo na noite anterior e ao entrar no banheiro deparei-me com o inexplicável, uma limpeza impecável havia tomado conta do cenário do crime e se não tivesse visto com meus próprios olhos o corpo na banheira jamais iria dizer que um dia alguém foi morto naquele lugar.
Não havia corpo, whisky e muito menos um único rastro do crime. Tudo estava por fim apenas na minha memória e ali permaneceria até a conclusão do caso.
- Detetive Gump? O que faz aqui?
- Detetive Spilmann, o que aconteceu com a cena do crime? - Perguntei perplexo.
- Crime? Não existe crime detetive, a perícia encerrou o laudo hoje de manhã. O Sr. Pulman morreu após ter um ataque do coração. O caso foi encerrado e agora todos estão no velório, provavelmente o enterrando neste exato momento! - Retrucou o detetive Spilmann.
- Não podem, estão cometendo um terrível erro. - Gritei o deixando no banheiro.
Desci as escadas pelo corrimão e entrei em minha carruagem informando o destino ao qual queria chegar rapidamente. Morte natural? Caso encerrado? Isso não poderia acontecer, não com um assassino em pune andando livremente pelas ruas.
Assim que a carruagem parou, desci como uma bala de canhão sendo conduzido até a multidão que lamentava falsamente a morte do senhor Pulman, enterrado, sim, minha perturbadora viagem rápida até o local do velório não foi rápida o suficiente para impedir que meu cadáver fosse colocado em um buraco e tapado com terra recém cavada. Uma lástima, odeio cemitério porém terei de passar a madrugada escavando um corpo que deveria estar em uma banheira, meu pedaço de presunto gordo não poderia permanecer de baixo da terra, não até concluir a minha autópsia e descobrir o que realmente aconteceu com o Sr. Pulman.
Assim que o enterro acabou eu notei muitas pessoas indo embora em suas carruagens, como por exemplo a irmã do falecido e sua mãe ( ao que parecia ser), primos, vizinhos e até mesmo alguns selecionados amigos que desfrutaram de sua ilustre companhia, porém senti a falta de alguém que deveria estar presente, afinal é o dever de uma esposa comparecer ao funeral do marido mas a nossa convidada principal decidiu não comparecer.
Tudo estava repentinamente estranho, nem ao menos mantiveram o corpo guardado em sua casa durante alguns dias, simplesmente o embalaram e enterraram quase que no mesmo dia que ele veio a falecer.
Enfim, só tem um jeito de descobrir e para isso vou precisar de uma pá e um bom disfarce.
- Ei, você! - Disse apontando para o coveiro.
- Eu? - Perguntou o coveiro.
- Sim, venha aqui. - Respondi sorrindo, ele aproximou-se curioso e sem muita enrolação disse o que precisava ser dito - Quem cuida do cemitério?
- Eu, quero dizer, sou o único que vigia o local. Afinal hoje em dia alguns loucos roubam até mesmo cadáveres. - Respondeu o coveiro.
- Lhe dou três moedas de ouro para deixar o cemitério sobre meus cuidados essa noite. - Disse a ele sem rodeios.
- O que pretende fazer aqui? - Perguntou o coveiro meio assustado com minha proposta.
- Cinco e esquecemos a parte em que eu respondo suas perguntas. - Sorri para ele tentando não parecer um maníaco - Sete e fechamos?
Ele sorriu pegando as moedas e disse:
- Seja lá o que está planejando o cemitério está por sua conta essa noite, seja feliz fazendo sabe lá o que.
(Não estarei fazendo nada além de roubar um grande presunto gordo, porém vou enterrá-lo antes do sol nascer sem muita bagunça. Certamente você nem irá perceber que estive aqui a noite toda cavando). - Isto sou eu em meu pensamento sorrindo cinicamente para o senhor que me olhou assustado e foi embora com as sete moedas de ouro me deixando completamente pobre porém totalmente contentado com minha troca de sete moedas por um cadáver.
Existe algo pior do que ter insônia, um coração partido ou até mesmo o dia seguinte após uma embriaguez descontrolada, sem dúvidas esperar o dia passar sem estar fazendo nada é a coisa mais tediosa que existe. Decidi tirar um cochilo para tudo passar depressa e ter forças o suficiente para permanecer acordado durante uma noite toda.
O dia finalmente acabou e a noite começou a reinar trazendo diversão para mim. Com uma pá na mão comecei a cavar, cavar e cavar, após uma hora finalmente cheguei ao meu enorme e pesado cadáver. Comecei a realizar a autópsia abrindo as costuras em seu peito apenas com uma vela para iluminar a noite escura e quanto mais eu procurava mais respostas eu encontrava.
Aquele pedaço de presunto era sem dúvidas de primeira categoria. Certamente seu coração estava explodindo, mas aquilo não havia sido a causa da morte, ao observar suas vias respiratórias notei um certo bloqueio e ao examinar sua faringe sua coloração era a mesma que o líquido encontrado abaixo da banheira onde o Sr. Pulman foi encontrado morto.
Como já mencionado anteriormente não existia sinais de luta ou agressão, isso indica muitas coisas interessantes pois talvez a vítima conhecesse e confiasse em seu próprio assassino.
- Ei você, sequestrador de cadáveres mãos para o alto! - Gritou uma voz masculina forte.
Neste momento milhares de lamparinas iluminaram meu rosto e então eu vi o coveiro e muitos dos meus parceiros de trabalho observando minha autópsia completamente horrorizados.
Sem dúvidas estou completamente ferrado! Mas agora ninguém poderá dizer que ele morreu por causas naturais, ao menos não para mim pois não irei acreditar em uma única palavra.
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Charlie Gump
Mystery / ThrillerEm 1880 na era Vitoriana um detetive corre para desvendar os terríveis assassinatos cometidos no País de Gales. Dinheiro, poder, família e hierarquias sociais, existe um motivo melhor para matar além do dinheiro? Charlie Gump é um honorário detetive...