093

1.7K 156 10
                                    

KATRINA

Ela deu um longo suspiro e depois virou, para me encarar.

-Aceita algo? –Sophia perguntou sorrindo.

-Não quero ser indiscreta... Mas aceito sim! –Falei fazendo careta. –Matheus praticamente me arrastou pra cá, e nem me deu chance de comer nada. –Falei e Sophia sorriu.

-Matheus sempre gentil. –Sophia falou irônica. –Fique a vontade, vou providenciar algo pra você, ok?

-Obrigada. –Sorri.

Ela então andou em direção da casa, eu fiquei observando enquanto isso.

Era um dia quente, não ao extremo, estava até que agradável, e olha que eu não era adepta aos "adoradores do sol". Sentei em uma das cadeiras perto da piscina, enquanto observava o céu, minha mente ia longe... Não deixava de pensar no que Matheus iria fazer, ou o que fariam com ele.

Sophia chegou minutos depois, com algo preso no braço enquanto tentava equilibrar uma bandeja prata, ela vinha sorridente e as vezes soltava um gritinho quando a bandeja ameaçava de cair, corri para ampará-la, pegando a bandeja.

-Ah, obrigada... –Ela suspirou aliviada. –Quase seu suco entorna. –Ela falou.

Observei o que ela trazia agora nas mãos, se aparentava com uma agenda, caderno... Algo do tipo. Ao ver que eu estava observando, Sophia sorriu e abriu, revelando um álbum da cor azul, cheio de fotografias.

–Trouxe para você ver. –Ela falou, respondendo minha duvida. –Fotos de família... Quase todas do Theus. –Sorri ao escutá-la chamando o Matheus daquela maneira... “Theus”, até o deixava mais vulnerável só de pensar, nem parecia ser o apelido de um marmanjo de quase dois metros, loiro e pra lá de chato!

Levei a bandeja sobre a mesa e sentei, Sophia fez o mesmo. Enchi meu copo com suco e inclinei a cabeça para o lado da Sophia, que manuseava o álbum de família com cuidado, de cara vi uma foto de um bebê loirinho, provavelmente uma das coisas mais lindas que eu já vi.

-É o Matheus? –Perguntei sorrindo.

-Sim. –Ela falou. –Não era lindo? –Falou orgulhosa. Assenti e arrastei minha cadeira mais próxima dela.

Quando virou, mostrou uma foto dela e do Matheus, os dois deveriam ter seus três anos, e assim foi uma grande sequencia, até chegar a uma foto de três crianças, duas crianças loirinhas e um garotinho moreno com os olhos claros... Henrique.

–Esse é o Henrique. –Ela falou. Assenti outra vez, só que agora com a feição mais séria.

Fiquei admirada ao ver uma foto do Matheus com seu pai, que tinha o nome de Hugo, era loiro também, apesar de ter seus trinta e poucos anos, era muito bonito, barba grande, olhos tão azuis quanto os do Matheus, e a pele bronzeada, e claro, tinha a mesma cara de antipatia com um sorriso debochado no canto dos lábios... Tal pai, tal filho.

-São idênticos! –Falei abismada.

-Até demais... –Sophia riu. –Matheus é a copia fiel do meu pai. –Sorri e balancei a cabeça.

Dentre tantas fotos uma me chamou atenção, era Matheus, e ele estava abraçado com uma menina, tinha a pele bronzeada e olhos verdes, os cabelos pretos batiam quase em sua cintura, Matheus e ela estavam abraçados, sorridentes e felizes... Uma foto incrivelmente bonita. Matheus trazia com ele um sorriso que jamais havia visto usar, um sorriso verdadeiro e os olhos carregavam alegria.

Meu sorriso se desfez ao ver aquilo, mas eu simplesmente não conseguia parar de olhar para aquela fotografia.

Sophia toda sem jeito, ao perceber tentou virar a pagina, mas eu não permiti, pus minha mão sobre a folha plastificada a segurando.

-Quem é ela? –Perguntei com certa implicância, mesmo sem ter o direito.

-Não é ninguém... –Ela virou a pagina rapidamente. –Eu realmente não sei porque não joguei essa foto fora. –Ela falou envergonhada.

-É uma bela foto. –Falei até mesmo com certa inveja.

-É... Mas é passado. –Ela falou, tentando deixar o assunto por encerrado. –Agora ele está com você, não é? –Comigo? Haha! Se ela soubesse pelo menos 1% dessa sujeira toda. Fiquei em silêncio. –E faz tempo que eu não o vejo dessa forma, tão bem... Foram anos difíceis para o Matheus. –Ela sorriu consigo mesma. –Anos? Que nada... Acho que o Matheus nunca teve uma vida fácil na realidade. –Ela sorriu tristemente. –Ele é muito forte, sabe? Passou o que passou e continua de pé, mas acho que tudo isso não apenas o fortaleceu. –Ela deu os ombros. –Sei lá, acho que isso meio que blindou contra tudo e todos, ele já não é mais o mesmo. Dizem que todos nos possuímos dois lados dentro de nosso coração, e sinto, que o lado bom do meu irmão a cada dia só piora, entende? É muito triste vê-lo assim. –Ela falou e passou a mão no rosto, tentando conter as lágrimas. –Ele é tão forte e tão frágil ao mesmo tempo. Mas ele não se permite melhorar, se isola e não deixa ninguém se aproximar. O receio dele sempre foi o mesmo... –Respirou fundo e olhou pra mim.

-E qual o motivo disso? –Falei. –Quer dizer... Pra uma pessoa se tornar tão “fria” assim, tem que haver um motivo... Não é? –Ela balançou a cabeça.

-Posso confiar em você? –Falou.

-Claro. –Balancei a cabeça.

-Matheus cortaria minha cabeça se imaginasse que estamos tendo essa conversa. –Ela falou.

-Pode ficar tranqüila, jamais irei falar nada. –Falei. –Prometo. –Ela assentiu e fechou o álbum, o colocando sobre a mesa e olhando para o chão, tentando tomar coragem.

-Sou mais velha que o Matheus... Dois anos apenas. –Assenti. –Meu pai adoeceu jovem, um câncer em fase terminal destruiu o que sempre julgamos ser uma família perfeita. Matheus tinha quatro anos, e eu seis quando as discussões entre nossos pais começaram, pouco entendíamos, mas mesmo assim sofríamos com tantos berros e discussões entre eles. Foi então que cansada, e sem coragem de agüentar ver meu pai definhar em seu quarto, decidiu abandoná-lo.

Eu a ouvia com atenção sem pensar em interromper, parecia sofrer... Era velha historia dos mesmos dramas, só que com personagens e cenários diferentes.

–Arrumou sua mala e a minha, e no mesmo dia saímos de casa. -Continuou.

EVAOnde histórias criam vida. Descubra agora