Prólogo

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Recentemente, James Potter havia desistido daquele ano, ao menos no quesito casamento. Apesar dos esforços hercúleos da Sra. Euphemia Potter em apresentar ao filho todas as debutantes mais lindas e interessantes da temporada, e embora ele estivesse sinceramente tentando acompanhar as investidas da mãe, foi inevitável perceber que conforme o penúltimo baile do verão se aproximava, ele não tinha o mais remoto interesse em nenhuma das suas opções.

James Potter era um jovem de vinte e cinco anos. Recentemente completara seus estudos e estava de volta a Londres sob as asas de sua família tradicional. O ano era 1820. Ele amava seus pais, os respeitava, e acima de tudo sabia que, sendo o único filho do já idoso casal formado por Euphemia e Fleamont Potter, era esperado que começasse a se acostumar com o fato de que, gostando ou não, logo teria de assumir as rédeas da organização familiar. Afinal, eles eram responsáveis pelo Ducado, e ele seria, em um futuro não muito distante, o Duque de Somerset.

E com os encargos da vida adulta não vinham só muita papelada, responsabilidades e riquezas. Talvez mais importante do que tudo isso, era esperado – e por mais gente do que ele ousava imaginar – que James Potter encontrasse uma esposa ainda naquela temporada. Um futuro duque precisa de sua duquesa; Já é preciso começar a pensar em sua descendência, Sr. Potter; Está na vantagem, pois neste ano simplesmente todas as debutantes disponíveis caem aos seus pés, James, foram alguns dos comentários que recebera recentemente.

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Lily Evans tinha também vinte e cinco anos. Ela já não era mais tão jovem para uma moça, e não havia sido o diamante da temporada nem mesmo em seu auge aos dezoito anos, de certa forma pelo fato de que vinha de uma família mais humilde, mas especialmente devido a alguns traços de sua personalidade. No ano de 1820 então, nem se fala. Sua irmã Petunia, dois anos mais velha, havia noivado ainda em seu primeiro ano de debutante. Ela não era estonteante, mas chamava atenção devido aos seus longos cabelos loiros e postura altiva. Fora fisgada pela riqueza do assombroso – palavras de Lily – Vernon Dursley, futuro Visconde, com quem se casara no ano seguinte. A mãe de Lily e Petunia, Geraldine Evans, nunca pressionara as filhas diretamente, mas era sugestiva de que seria interessante que se casassem. Sua família não tinha grande fortuna e seria difícil manter o nível de vida com duas filhas eternamente solteiras.

Porém, Lily estava já com vinte e cinco anos, e ainda nada de casamento. Recebera três propostas, era verdade, todas dentro dos seus dois primeiros anos de debutante. Gideon Prewett, Rodolphus Lestrange e Severus Snape. Recusou todas sem titubear, uma vez que preferiria permanecer eternamente solteira a atar-se a qualquer um deles, por diferentes razões. Gideon era um charme, rico e atencioso, mas Lily era esperta demais para não saber que um casamento com ele seria a receita do fracasso – ele queria uma boda de aparências para que pudesse continuar na libertinagem, e ela jamais lhe daria isso. Rodolphus Lestrange e sua família eram a pura representação dos ideais de superioridade das grandes linhagens inglesas, e ela nunca consideraria se juntar a eles. De fato, era estranho que ele sequer tivesse considerado casar-se com ela, mas imaginou ter sido provavelmente uma de suas últimas opções, já que ele estava passando dos trinta anos. Severus Snape, por fim, havia sido um amigo de infância de Lily, visto que as mães eram muito próximas, o que poderia ter sido um bom começo. Contudo, seus valores haviam destoado dos dela fortemente ao longo dos anos, afastando-os, e ela em tempo algum poderia passar por cima disso, nem mesmo em nome de um casamento de sucesso.

A melhor amiga de Lily era Alice Longbottom (née Fawcett), casada com Frank Longbottom. Eles se casaram logo após a primeira temporada de debutantes de Alice e Lily. De certa forma, podia-se dizer que eram apaixonados um pelo outro desde a infância. Os curtos três anos de diferença em idade foram determinantes para que sempre estivessem próximos, e quando Alice finalmente completou dezoito anos e Frank tinha vinte e um, nada mais estava em seu caminho. Eles casaram antes mesmo que o rapaz terminasse a universidade. Aquela história de amor tão próxima despertava em Lily sentimentos contraditórios. De um lado, era genuinamente feliz pela melhor amiga, agora mãe de um menino chamado Neville e uma menina que atendia por Charlotte, vivendo feliz ao lado do marido dedicado. Por outro lado, sentia-se contrariada – seu coração ainda se subdividia entre alguém que sonhava profundamente em encontrar o amor, e outro alguém que repetia para si mesma que a felicidade não seria encontrada em outra pessoa, mas em si mesma.

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Sirius Black e Remus Lupin eram os melhores amigos de James Potter. Sirius era um primo distante de James, mas praticamente vivia na casa dos Potter, apesar de ter família. Os Black moravam em um local remoto no interior do país, onde eram extremamente tradicionais, religiosos e rigorosos. Sirius era já na adolescência um rebelde, dificílimo de lidar, e batia de frente com sua família em absolutamente tudo. Quando, há muitos anos, Euphemia ofereceu-se para manter os olhos nele para uma temporada em Londres, foi com alegria que a mãe Walburga Black despachou-o na primeira carruagem. Ele nunca mais retornou. Com sua beleza tradicional, sorriso malicioso e facilidade de encaixar-se em qualquer círculo, ele logo tornou-se um excelente partido. Mas seguia tendendo mais à libertinagem do que ao casamento. Ou pelo menos era o que ele gostava de fazer parecer – mais detalhes sobre o assunto em breve.

Remus Lupin era filho de pequenos fazendeiros, pessoas ainda mais simples do que a família Evans. Porém, sua inteligência excepcional, um bocado de sorte e os contatos certos o haviam garantido um lugar em uma escola de prestígio, e posteriormente em Cambridge, onde conheceu James e Sirius, e tornou-se muito popular por suas pesquisas em química. Atualmente era o protegido de um rico cientista solteiro e sem filhos, o Sr. Albus Dumbledore, o qual prometia deixar-lhe toda sua herança quando se fosse, apesar de Remus sempre sorrir e polidamente recusar. De qualquer forma, assim ele havia também se tornado um solteiro relativamente cobiçado pelas mães mais modernas.

O que nem as mães modernas – e, francamente, nenhuma pessoa em Londres – poderiam imaginar, no entanto, era que Sirius e Remus tinham um relacionamento próprio, digamos assim. James Potter era a única outra pessoa que sabia do grande segredo que guardavam – eram amantes, obviamente de forma não oficial, rigorosamente escondida sob os tetos das grandes casas senhoriais dos Potter e de Dumbledore, e ocasionalmente outros locais. Afinal, estamos falando do início do século XIX, onde a homossexualidade não era apenas vista com maus olhos, mas como um grande crime contra a natureza, passível até mesmo de pena de morte dependendo da situação em que os envolvidos fossem encontrados.

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