Capítulo 2

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Quatro dias após o baile, James e Sirius encontravam-se no escritório do segundo andar da mansão dos Potter. James sentava-se na cadeira principal, por detrás da imponente mesa de carvalho trabalhado, cheia de documentos espalhados. À sua frente, Sirius esparramava-se em uma poltrona, os sapatos sobre o apoio de pés e um copo de uísque na mão. Estiveram ali por alguns minutos, como geralmente faziam à noite.

"Que tal aquela sua pequena aventura com a caçula dos Evans?" Sirius perguntou, sugestivo. Uma súbita vontade de irritar o amigo surgia em sua mente.

James rolou os olhos, mas sorriu de volta. Bebeu do seu próprio copo, afastando alguns papéis para depositá-lo em um canto da mesa.

"Ela tem a mesma idade que nós, Sirius." Desconversou, focando em uma parte da pergunta.

Sirius bateu com o copo na mesa em falsa irritação.

"Você sabe muito bem o que eu quis dizer."

James tomou outro gole de seu copo antes de responder, sem pensar muito.

"Eu gostei dela. É uma jovem muito agradável, espirituosa, elegante e honrada." Foi sua resposta contida. Sirius revirou os olhos.

"E muito bonita e interessante também, vamos lá. Pode dizer para mim. É claro que você gostou dela." Sirius frisou, debochado. "Nunca vi você parecer tão animado com uma dança", e completou, um segundo depois. "Digo, duas danças. Suas únicas danças da noite, aliás."

James riu. Sirius tinha que ser a pessoa mais inconveniente em todas as horas. Onde havia arrumado um melhor amigo daqueles?

"Bom, sim, duas danças. Achei no mínimo adequado limitar minha interação com a senhorita Evans a um discreto interesse, visto que mal a conheço." Ele explicou, simplesmente.

Mas Sirius não deixou barato. "Discreto interesse, huh?" foi seu comentário.

Nesse momento James corou – levemente, mas era possível reparar.

"O que quer que eu diga?" perguntou ao amigo.

"Nada." Sirius se defendeu, levantando-se e finalizando seu último gole. Colocou o copo de volta no bar onde ficavam as bebidas. Dirigiu-se para a porta do escritório, voltando-se para James antes de sair. "Só acho que você está tão cego pelo costume de recusar as mulheres a quem sua mãe desesperadamente o apresenta, que não consegue enxergar quando está obviamente atraído por alguém. Conheço você, sei que tem pensado nela", deu de ombros e fechou a porta, mas não sem antes soltar um último comentário. "E, a propósito, vocês dariam um belo casal."

James encarou a porta fechada por onde Sirius saíra por um longo tempo. Ele não estava errado. James sabia ser extremamente discreto – uma habilidade aprimorada ao longo dos anos, especialmente considerando os amigos que tinha e os segredos aos quais tinha acesso. Mas na mesma medida em que James era reservado, Sirius era perspicaz. Além disso, era seu melhor amigo há muitos anos. Ele obviamente seria o primeiro a perceber qualquer sentimento que James tentasse esconder.

Não era mentira que desde o momento em que dera de encontro com aquela jovem ruiva e cheia de personalidade, ele não conseguira afastá-la de seus pensamentos.

Lily parecia personificar diversas características que curiosamente nem James sabia que procurava. Ele a conhecera há poucos dias, era verdade, e não a havia visto novamente desde a noite do baile dos Malfoy. Mas de certa forma achou que já podia pensar em uma pequena descrição dos seus atributos. Era decidida e cheia de opinião, não tinha medo de falar o que pensava, parecia ter apreço pela integridade, era astuta e sarcástica na medida certa, tinha um discurso inteligente, além de uma beleza distinta e intrigante.

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