anhimeln

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Minha palma esquerda está pousada sobre a bancada, o mindinho separado dos outros dedos. Ele começará pelo dorso.

— Sempre quis tatuar você — confessa o que já sei. — Os desenhos que fiz no seu corpo nunca foram suficientes.

A agulha começa a costurar em sangue minha carne. E meu namorado está certo. Incomoda. Mas não é nada em comparação às saudades que sinto de tudo que Taehyung significa na minha vida.

— Lembra-se de quando desenhei as asas que me pediu naquele seu aniversário?

Eu confirmo, absorto na linha escarlate que ainda é pequenininha. Ciente de que o que faço é maldade. De que tanto quanto lembro do som da risada dele agora e isso me dilacera, Taehyung nunca mais conseguirá me apagar da memória. Eu estou nos machucando.

E preciso fazê-lo.

— Nunca quis tanto te marcar de forma definitiva, Park Jimin — não é um flerte, se fosse sua voz dificilmente soaria tão frustrada.

Aquilo me arranca uma risadinha enquanto suspiro porque a agulha já está pontilhando há tempo o bastante diretamente sobre meu osso. Ou porque lembrei da primeira vez em que Taehyung chorou na minha frente e nós dois decidimos juntos não gostar de uma pessoa.

— Você admite então que sou um anjo? — tento soar engraçadinho.

— Não é sobre o desenho — ele admite e, surpreso, eu vejo o vinco que se forma entre suas sobrancelhas.

Mas Jungkook para aí.

E eu conheço meu namorado, sei quando ele está tentando evitar uma conversa interessante. Por isso o incito a prosseguir:

— Sobre o que é então?

Ele demora a falar. Fica calado por tempo o bastante para que eu ache que não dirá nada. Mas então volto a chorar. O silêncio não tendo relação com a primeira lágrima, mas sendo entendido dessa forma por Jeon.

Conforme o traço se alonga sobre a parte superior da falange, preciso levar até a boca o punho que segura o anel para morder minha mão fechada.

Me vingar da pessoa que sempre tentei proteger me enche de uma satisfação errada e junto dela vem a inquietação na pele que soa como reação alérgica.

Mordo ainda mais meus dedos porque agora requer esforço continuar ali. Eu não quero que Jungkook veja isso. Não quero que ele me ache capaz de uma maldade dessas.

— Ou você para de se machucar ou eu guardo tudo — ele me repreende. Há tanto carinho por mim naquele olhar que quase peço desculpas. Jeon não me acha cruel pelo que estou fazendo a outra pessoa. O incomoda apenas que eu precise me ferir no processo.

Está aí. A constatação de que ele escolheu, sim, um lado. Eu não sei como tratará Taehyung quando encontrá-lo, mas agora Jungkook parece mais interessado que eu em dar um basta naquilo.

Meu namorado tem razão sobre a dor aqui dentro. Ela só não é pelo que tive com outra pessoa.

venere tracce 🖌️ jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora