Capítulo 1 - Descobrindo a maternidade

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Pov Beatriz

O amadurecimento é algo que vem somente com o tempo, sempre como resposta das nossas atitudes e escolhas. Quando somos jovens rebeldes, é do nosso ser natural agirmos por impulso sem pensar nas consequências que nossas atitudes ou escolhas vão trazer para nós mesmos e também para aqueles que estão ao nosso redor. O problema é que, as consequências sempre virão, sejam elas boas ou ruins, mas isso não é algo do qual podemos fugir, pois parte da tarefa de crescer consiste em nos tornarmos responsáveis por tudo aquilo causado pelo nosso comportamento.

Falar sobre vida é algo complexo e, somente com o passar do tempo, somos capazes de compreender que estamos eternizados a viver entre erros e acertos, descobertas e conquistas, vitórias e derrotas, calmaria e tormenta... Olhar no espelho e encontrar um reflexo onde o rosto é marcado pelas rugas que a vida nos reserva deixa apenas a certeza que a juventude é passageira e ela leva parte daquilo que fomos deixando como resultado apenas o amadurecimento, aprendizado e o desejo daquilo que queremos ser para o resto de nossas vidas.

No entanto, parece que, quanto mais ficamos velhos, mais rígidos ficamos. Temos mais dificuldades em abrir nosso coração para as tantas outras novas descobertas que a vida pode nos oferecer. Não devia ser o contrário? Ao sermos conquistados pelo amor e amadurecimento, não deveríamos sentir como se fôssemos adolescentes de novo, porém tendo a experiência ao nosso favor?

O tempo passou e a Beatriz Mendes que um dia tanto sentia-se capaz de desafiar todos e tudo parece não mais existir. Tudo pareceu mudar quando minha maior preocupação tornou-se ser exemplo para os meus bens mais preciosos. Família! Contudo, às vezes sinto que em meu coração que falhei em algum momento, hoje eu deveria ser ainda mais forte, alegre e, principalmente, saber os caminhos que desejo seguir sem medo das consequências que minhas escolhas vão me trazer. Queria ter todas as respostas e soluções, mas a verdade é que me sinto frustrada, todos os dias, ao olhar no espelho e ver o quanto cansado é meu reflexo... O motivo? Pietra Mendes Vasconcelos e Enrico Mendes Vasconcelos, meus dois filhos.

Meus filhos são tudo para mim e apesar de por muitas vezes serem difíceis de lidar, o lado amoroso e carinhoso são o que alimentam minha alma. Mas descobri que quando nos tornamos mães o coração deixa de bater somente para nos manter vivas, na verdade, passamos a viver por eles, nossos filhos. Por isso é tão difícil aceitar que ainda podemos errar, porque o erro não causará danos somente a nós, mas também refletirá neles e naqueles valores que queremos ensina-los a seguir.

Lembro-me do nervosismo estampado no rosto de Clara, quando em uma noite estrelada, após um jantar romântico, ela relatou seu desejo de ser mãe. Era visível que ela temia minha reação e confesso que a principio senti um choque momentâneo se apossando do meu corpo, pois, apesar do nosso casamento está na melhor fase e Clara todos os dias me fazer a mulher mais feliz do mundo, eu nunca tinha parado para pensar a respeito de como seria aumentar a família. Ser mãe não era uma das coisas que ansiava em meu coração ao longo da minha vida, mas me surpreendi quando senti o meu coração aquecer com a possibilidade de ter filhos com aquela que era o motivo dos meus melhores sorrisos. O problema é que somente com o tempo entendi que ser mãe não é algo que aprendemos com um manual de instrução.

Passamos a sonhar juntas com o momento que teríamos um resultado positivo para alimentar nossos planos. Nossas conversas eram, na grande maioria, (horas) em torno dos planos que fazíamos para nós três. Nomes, decoração de quarto, viagens... Suspirávamos juntas sonhando com nosso bebê. Porém, nos esquecemos de uma coisa muito importante... Bebês crescem e uma mãe jamais voltará dormir tranquilamente, principalmente quando chega a temida fase hormonal. Agora eu entendia!

O resultado do teste de gravidez não foi positivo de imediato. Fizemos três tentativas e, todas elas nos levavam a um longo e exaustivo processo de expectativas e frustrada as quais eram difíceis de superar. Em todas elas, a sensação era a mesma, ou seja, a dor de perder um filho que sequer chegou a existir. Clara já não queria mais tentar. Segundo suas palavras, "sentia-se uma mulher inútil, que sequer podia me dá um filho". Eu até quis tentar, mas por questão de saúde não podia. Por um longo período, minha esposa entrou, naquele que eu descrevi, como sendo o maior inferno já vivido em nosso casamento: a depressão. E foi ai que percebi que muito do que eu fui um dia já não existia mais em mim, eu já não era a mesma Beatriz intolerante e impulsiva de antes. O tempo e os acontecimentos ao longo do nosso casamento me fizeram uma nova mulher, uma mulher dedicada à família, ao companheirismo e compreensão. Uma mulher que com todo amor e carinho estava sempre ao lado da esposa para segurar sua mão e fazê-la perceber o quão especial ela era e que, juntas, éramos capazes de superar todos os negativos que recebíamos.

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