Por trás das câmeras

Capítulo 2 - O amor e o tempo

Pov Nathalia

Anos ao lado de Michelle e eu não poderia me sentir mais realizada por conquistar tudo aquilo que conquistamos juntas. Nossa família não era perfeita, mas era tudo aquilo que pedi a Deus. Os momentos de crise que vivemos apenas nos fortaleceram para seguirmos sempre juntas, lembrando que confiança e diálogo são a base de qualquer relação.

Levou algum tempo para que meu coração se curasse das mágoas que a má relação com mamãe ocasionou em minha vida. Não foi fácil compreender que quase vi minha família destruída por tanta intolerância e crueldade daquela que deveria torcer por minha felicidade, mas não poderia negar que dona Ana Tereza se esforçava para recuperar o tempo perdido entre mãe e filha. Não poderia negar também que sua relação com Ângela fazia bem para sua alma e que todos os dias minha mãe mostrava que o ser humano era falho, mas que o arrependimento e mudança eram possíveis.

Depois de um tempo, o divórcio de ambas saiu quase que simultaneamente e não foi nenhuma surpresa para nós quando Ângela fez o pedido de casamento para mamãe, que prontamente disse sim, permitindo-se finalmente ser feliz.

Com a união de Ângela e mamãe, tornamo-nos uma grande família, onde Ana Flávia se tornou como uma tia para meus filhos, especialmente para o Benjamim, que nutriu pela outra um bem querer admirável. Muitos chegavam a perguntar para mim e Michelle se tínhamos ciúmes da relação do nosso filho com Ana Flávia, mas sem dúvidas alguma nossa resposta era sempre a mesma... ela era um anjo em nossas vidas, não existia outro sentimento por aquela mulher que não fosse gratidão e amor.

O tempo passava, nossos filhos cresciam e a chama do amor reacendia em nossos corações diariamente, como se todos os dias fossem a primeira vez, o primeiro beijo, o primeiro de muitos sim que daríamos uma para a outra. Não importava o tempo que passasse, em meu coração eu sabia que Michelle seria o meu para sempre, o único medo era que o para sempre chegasse ao seu ciclo final.

Ao lado de Michelle, assisti com alegria o crescimento dos nossos três filhos, mas pasmem, descobri que não importa a fase da vida, mães e filhos vivem em uma eterna troca de lições e aprendizados. Precisamos ser muito sábias para lidar com a adolescência de Gustavo, Benjamim e Sofia, cada um com suas próprias confusões, emoções e maneira de lidar com as descobertas da vida, porém era inegável que Benjamim sempre foi o mais arteiro. A nós? Bom, só nos cabia buscar paciência e deixar que o amor de mãe soubesse como conduzir toda e qualquer situação.

Michelle sem dúvidas era a mãe mais ciumenta que eu conhecia, principalmente quando o assunto era Sofia. Afinal, uma das principais características da nossa pequena era a doçura e sentimentalismo aflorado. Sofia não teve receio de assumir sua sexualidade para nós aos dezesseis anos de idade e sempre se mostrou ser uma garota que se apaixonava fácil, porém Michelle sempre disse que nossa filha tinha o dedo podre para escolher por quem se apaixonar e, apesar de sempre apoiar nossa filha, minha esposa tomava a dor da mais nova para si. Infelizmente, foram incontáveis as vezes que Sofia recorreu ao nosso colo para chorar pelo tão temido amor machucado.

Ao contrário da irmã e de Gustavo, que sempre foi extremamente cuidadoso e cavaleiro quando começou com seus namoricos, Benjamim não aquietava com uma garotinha por muito tempo, mas a verdade era uma só... Nosso Ben sempre foi apaixonado por Cecília e eu poderia jurar que o único motivo para a filha de Cristina e Manuela ter dito não ao pedido de namoro do meu filho era o fato de Ben não ter conquistado sua confiança como deveria, afinal a menina flagrou meu filho com uma das suas melhores amigas em plena festa de aniversário de quinze anos. Não tem jeito, por mais que o tempo passe, coração adolescente guarda mágoas eternas e as feridas não são as mais fáceis de cicatrizar. Se Benjamim ainda sonhava em conquistar Cecilia e recuperar o tempo perdido, ele precisaria amadurecer e provar que se tornara um homem de verdade.