Capítulo 25

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- que nojo - Matheus comentou afastando o potinho de iscas

- são apenas minhocas - falei pegando o potinho e passando a mão entre ela - aqui - peguei uma que se debateu entre meus dedos - usa essa é bem gordinha

- que cruel - disse emburrado - eu não vou assassinar uma minhoca

- mas você quer comer o peixe não quer?- falei exatamente o que meu pai dizia - se não tiver uma boa isca não tem um bom peixe e já que não temos uma boa isca enfia logo essa minhoca no anzol

- isso é muito psicótico - reclamou - já disse que não vou fazer isso

- aqui, pega essa vara - falei trocando a minha que já estava pronta e em um piscar de olhos passei a minhoca pelo anzol a vendo se debater na ponta - sabe fazer o resto?

- colocar a vara na água?- ele perguntou obvio

- isso, mas é bom dar uma pressão nela pra pegar distância - fiz o movimento - faz você agora

- é sério que precisamos fazer isso? Não tinha algo mais interessante para fazermos, seila um shopping?

- você parece um garoto mimado - eu disse obvia - anda enquanto mais rápido conseguirmos um peixinho mais rápido conseguirmos um peixe maior

- eu estou tentando entender a lógica - disse fazendo o mesmo movimento que fiz anteriormente 

- você vai entender - dei um tapa no rádio a satélite da canoa, um ótimo rádio inclusive era do meu avô e nunca falhou na missão

Logo Di Paullo e Paulino começou a tocar deixando o silêncio menos constrangedor

- entediante - Thuler reclamou

- relaxante - discordei

- acho que eu senti um movimento aqui - ele disse jogando a vara na minha direção

- espera puxar mais forte - eu disse ignorando seu movimento e assim que vi um puxe aconselhei - puxa

Assim que ele fez um pequeno

- é uma tilapiazinha que fofa - eu disse me esticando para tirá-la do anzol

- quantas dessas vamos precisar pegar pra poder ir embora?- Thuler perguntou e eu tirei da minha bolsa um canivete

- acho que nenhuma, tem isca o suficiente em um peixinho desse pra conseguir um peixão - entreguei minha vara de pesca na mão do garoto e estiquei meu braço para fora do pequeno barco

- não faz isso - pediu virando o rosto enquanto eu abri o peixe o limpando ali mesmo na água para usar além do sangue a carne como isca para atrair peixes maiores - cara se foi criado por uma família de primatas?

- eu fui criada por uma família que precisa lutar pra comer, é diferente - respondi substituindo as antigas iscas

- lutar pra comer?- perguntou aparentemente confuso e eu neguei alguns segundos enquanto pensava no que responder

- tem um ditado que diz que quem não caça não come, bom quando minha família estava na merda era assim - sorri sem jeito - meu avô trazia eu e meus irmãos para cá, nos ensinou a pescar desde sempre para que nós nunca precisassemos voltar para casa sem a mistura do jantar

- deve ter sido uma barra - comentou sem saber o que dizer

- não muito, ensina a gente a ser forte e a se virar - assumi sincera - eu com 13 anos já pilotava essa canoa e lutava literalmente com os meus irmãos pela melhor vara de pescar

- quantos irmãos exatamente você tem?- ele perguntou interessado observando a movimentação da água sobre sua isca

- eu tenho três, três irmãos mais velhos - contei e ele virou o rosto me encarando de um jeito estranho

- e você é muito apegada a eles? Não pareceu na casa de sua mãe - puxou assunto

- Breno é o mais velho, ele sempre sempre foi um paizão pra gente - comecei a contar - meu pai saia pela manhã e voltava tarde da noite pra manter a cada, ele era o tal "homem da família" que todos diziam para que ele não surtasse, mas ele não superou bem a ideia de eu ir embora e a gente brigou feio - observei a água com atenção - não me lembro da última vez que nós falamos após isso, talvez nunca tenha acontecido

- e os outros dois?- tentou um tom mais sarcástico como quem espera uma história mais feliz

- Caique tá no exército, em alguma fronteira por aí - sorri me lembrando do meu irmão protetor, o único que mantenho frequente contato - e o Samuel sendo o homem livre que sempre quis ser trabalhando com turismo, na cachoeira que vamos amanhã inclusive

- então você é a filha caçula, a garotinha da família?- Matheus confirmou - eu devo desde já ter dó do seu futuro namorado?

Sorri achando graça

- porque acha que minha mãe te tratou tão bem?- expus - ela acha que te dando apoio eles não vão te assustar

- então eu devia realmente ter dito que não vai rolar?- brincou virando o rosto para encerrar o meu

- Exatamente - comentei sem jeito com seu olhar encarando ainda água

- merda - Matheus comentou chamando minha atenção de volta pra ele

- o que?- perguntei sem entender

- tá puxando - contou

- puxa de volta - orientei

- não dá - disse se levantando para pegar mais jeito e eu fiz o mesmo para ajudar

Uma péssima ideia, um puxão mais forte e eu pude sentir a água gelada bater contra meu corpo

Desconexos - Matheus thuler (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora