Capítulo 2

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Minha mãe tentava me acalmar em meu quarto enquanto eu berrava de dor, eu sentia meus ossos se quebrando e se juntando novamente, eu sentia meu sangue borbulhar em minhas veias. Aquilo era insuportável, sangue saía de minha pele enquanto eu a sentia ser rasgada por algo que nem mesmo eu compreendia.

Não sabia o que estava acontecendo comigo, não sabia o que era aquela dor que me fazia berrar deitada na cama. A única coisa que eu tinha certeza era que doía, doía muito.

- Faça isso parar! - Eu gritava e esperneava, me contorcendo nos lençóis antes brancos, mas manchados com meu sangue.

- Tente se acalmar Ela, logo isso irá acabar. - Mamãe passava pano em meu corpo junto com minha tia.

Minhas lágrimas escorriam como cachoeiras de meus olhos e eu sentia meus ossos antes quebrados voltarem ao seu devido lugar, meu sangue parar de queimar minha pele e um suspiro de alívio passou por meus lábios rachados pela diminuição da dor.

- Shh, shh. Durma minha filha, durma.

Mamãe passava seus dedos em meus fios escuros e eu relaxei de cansaço pela dor de segundos atrás. Eu estava exausta e não conseguia nem ao menos falar. Minha garganta doía e estava seca, meu corpo encharcado de sangue era limpo pela minha mãe e pela minha tia, eu respirava com dificuldade pela pequena dor e ardência que causava em meus pulmões.

Aos poucos minha visão foi escurecendo e minhas pálpebras fechando, me rendi a total escuridão que me foi proporcionada.

Eu corria desesperada pela floresta, meu pés eram machucados pelos galhos e pelas folhas pontudas, meus cabelos estavam grudados em minha nuca pelo suor que saía de meus poros. Meu pulmão doía e meu coração batia fortemente em meu peito, meus braços e pernas eram judiados pelos insetos e pelas árvores da floresta que eu corria.

O Sol estava se pondo e eu corria como se aquilo dependesse de minha vida, deveria fugir, não sabia o porque, apenas que deveria correr para me salvar. Meu colar ardia e brilhava em meu pescoço, queimando um pouco minha pele a cada movimento que ele fazia quando meus pés batiam no chão.

Avistei a silhueta de um homem mais a frente, seus cabelos negros balançavam com o vento, seus ombros eram largos e sua pele nem tão branca e nem tão morena contrastava com a luz do Sol que reluzia em seus brincos. Meu coração se encheu de alívio por algum motivo que não sabia dizer e eu corri ainda mais para alcançá-lo.

- .....! - Levantei minhas mãos para que o alcançasse.

Meu grito o fez me encarar sobre seus ombros, quando seus olhos se encontraram com o meu, meu coração deu uma batida forte, que me fez cair no mesmo lugar. Meu peito doía a cada batida que o órgão cardíaco fazia sobre ele, eu o sentia caminhando até mim e a cada passo mais dor.

Não conseguia ver seu rosto direito, mas sabia que ele sorria e quando ele abriu sua boca para falar sua voz inundou meus ouvidos, me fazendo gritar de dor.

- Vagará eternamente pela Terra, vivenciará todos os pecados do homem e não conseguirá fugir desse destino. A maldição só será quebrada quando o sangue da rainha for derramado, junto com seu último suspiro.

A dor se tornava insuportável e junto com ela marcas surgiam em meus braços, tatuagens vinham dos meus ombros e se mexiam até as pontas dos meus dedos que ficaram negros como a noite, como se uma espécie de luva preta cobria minhas mãos. O homem havia se transformado em uma mulher, ela vestia um vestido negro que cobria seu corpo todo e caía até o chão, se mesclando com a terra.

O Último Caçador de BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora