Capítulo 3

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Meus olhos estavam esbugalhados com a nova informação que foi me entregue de bandeja, eu estava estática com o conteúdo presente nela. Aquilo era muito para digerir em poucos minutos, por isso eu precisava de um tempo para conseguir ligar os pontos e finalmente a ficha cair daquilo que eu realmente era.

Mamãe me olhava com pena e minha tia tentava me confortar com seus finos dedos em meus ombros, que apertava com delicadeza para me passar segurança. Eu olhava fixamente para minha mãe que estava com um semblante triste, eu percebi que ela estava segurando as suas lágrimas assim que desviou de meu olhar.

- Mas pense no lado positivo, você irá comandar toda a Grande Convenção assim que treinar seus poderes o suficiente e.. - Minha tia tagarelava.

- Eu não quero comandar nada tia. - Esbravejei. - Não quero ser a rainha das bruxas, não me importo com nada disso! 

- Elena! - Minha mãe me repreendeu. - Isso lá é jeito de falar com sua tia? 

- Chega mamãe! - Respirei fundo para tentar me acalmar e senti algo quente descer por minhas bochechas. Estava chorando. - Deu, por favor. Você esconderam coisas de mim por dezoito anos, me fizeram passar por um momento doloroso sem ao menos me avisar. A senhora me proibiu de ir a escola e de ter amigos, de sair dos muros da mansão, e tudo isso para que? Para que eu fosse rainha das bruxas? Para que eu fosse controlável e fizesse o que a senhora quer? 

As duas mulheres a minha frente ficaram caladas enquanto eu desabafava e era nítido a real intenção delas todo esse tempo. Elas não estavam preocupadas comigo quando me proibiram de me relacionar com o mundo exterior. Estavam preocupadas com o nome delas, com elas mesmas. 

- Eu posso ser a reencarnação de Victória, mas eu não tenho nada haver com isso e nego fazer parte de todo esse plano. - Me levantei. - Estou saindo de casa, não irei sujar minhas mãos com isso. 

- Está traindo seu próprio sangue?! - Minha mãe levantou berrando. - Irá fazer igual a sua avó fez?!

- Você me traiu primeiro! - Gritei mais alto que ela, assustando as duas. - Você me traiu a partir do momento que me escondeu coisas sobre a minha vida e sobre quem eu sou. - Estava ofegante. - Pelo menos minha avó não criou a filha para fazer o que ela bem quisesse. 

Despejei todo o meu veneno e me virei, saindo daquela sala de forma rápida. Subi as escadas para o meu quarto e peguei uma mala, colocando tudo aquilo que eu iria precisar: roupas práticas, joias para que eu conseguisse dinheiro, meu arco e sua aljava eu escondi em uma mochila, juntamente com adagas e uma faca.

Eu já não chorava de tristeza, mas de raiva com tudo aquilo que estava acontecendo. Troquei meu vestido pelas roupas que eu treinava, onde uma calça de couro preta me permitia maior mobilidade e conforto juntamente com uma regata e uma jaqueta também pretas e um coturno marrom. 

Saí batendo a porta e caminhei rápido até a entrada, olhando para minha mãe que estava parada na escada com os olhos vermelhos. A encarei com desprezo, eu sentia nojo da pessoa que ela era e não queria mais ter contato algum com a mulher que me deu a luz.

- Se sair por essa porta Elena, saiba que não será nunca mais bem vinda. - Sua voz saiu arrastada e acompanhada de um soluço inconsequente. 

- Ótimo, não pretendo voltar. - Voltei meu olhar para a porta, mas antes de sair a encarei pelo ombro. - Faça outra filha, quem sabe assim seu plano não concretiza.

Bati a porta de casa e andei rapidamente até chegar pelo enorme portão. Tentando conter a ansiedade eu atravessei e não ousei olhar para trás, mesmo sentindo o olhar de Meredith em minhas costas, seguindo todos os meus passos. Aquela antiga vida era passado agora.

O Último Caçador de BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora