capítulo dois

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Noah Urrea

- Nossa, cara. Você tá um lixo. - Josh disse assim que entrou em meu apartamento.

- Estou me sentindo melhor agora, valeu - minha voz era puro sarcasmo.

Fechei a porta e me voltei até o sofá, me jogando sobre o mesmo. Ouvi Josh suspirar e se afundar na minha poltrona.

- Cadê meu remédio? - perguntei com os olhos fechados.

Ele me ignorou e começou uma de suas palestras.

- Eu sei que deve ser difícil para você lidar com a perda de seu pai, mas você só está se afundando, faz uma semana que você não vai para a faculdade e não sai desse apartamento, que aliás, também está um lixo. - Ele faz uma pausa antes de continuar. - Você não pode continuar trazendo garotas para cá e as mandando embora no dia seguinte. Você acha que ele iria querer isso? - Eu afundei meus dedos na almofada atrás de minha cabeça. Josh não poderia saber o que ele queria. Josh não podia ler a porra de sua mente. Aliás, ele estava morto. - Que você se isolasse do mundo? Acho que nós dois sabemos a resposta, você só tem que parar de agir feito um garotinho assustado. Você já é um homem, porra. Aja como um.

Josh era o tipo de amigo super protetor, eu admirava pra caralho essa característica nele, mas isso me irritava profundamente algumas vezes.

- Eu sei.

É tudo que eu falo.

Não quero começar uma discussão, sei que ele está certo, mas não foi ele que perdeu o seu melhor amigo, eu e meu pai éramos muito próximos, se havia algum vestígio de bondade em mim, era por causa da forma que ele me criou, completamente pacífica. Não me lembro de ele ter me batido, ou gritado comigo. Ao contrário da mulher que eu insistia em chamar de mãe, ela era o verdadeiro Diabo, em sua forma mais esnobe e fútil possível.

Ouvi ele estalar a língua e se levantar.

- Você tem alguma bebida por aqui? - ele perguntou e eu quis dar risada.

- Esquece. É claro que você tem, é de Noah Urrea que estamos falando.

Abri os olhos e observei enquanto ele ia até a cozinha e voltava com uma garrafa de cerveja em suas mãos.

- Vai rolar uma festa hoje de noite - ele comentou casualmente.

Eu fiquei em silêncio, o ignorando. Eu não estava no clima para movimentação e barulho hoje.

- Da Diarra, cara - completou com um sorriso malicioso em seus lábios.

- E daí?

- E daí que ela é a garota mais gostosa da faculdade - seu tom de voz era como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo e eu um idiota.

- Eu não costumo ficar com a mesma garota por mais de uma vez.

Liguei a tevê e Josh praticamente engasgou com sua cerveja e me fitou com os olhos verdes arregalados.

- Que inferno. - Ele passou a mão pelo queixo, limpando o líquido. - Como assim não repete?

- É isso aí, cara - respondi observando o programa de culinária que estava passando na tevê, até que não era tão ruim assim.

- Só um maluco rejeitaria Diarra Sylla! - ele exclamou indignado.

Sorri torto.

- Então devo ser um maluco - respondi dando de ombros e observando a mulher da tevê cortando alguns legumes e jogando numa enorme panela com água quente.

- Preciso de cafeína, vamos à cafeteria do Dimmy. As garçonetes de lá são quentes como o inferno e eles ainda servem o melhor café da cidade.

Apenas mais uma - NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora