Um tempo depois, fugindo daquelas coisas, o monstro apareceu.
A verdade é que, apesar de completamente assustadora, a situação de extrema adrenalina fazia Letis se sentir mais viva do que se sentia há muito tempo. Não pensava mais "e se..." ou em possíveis coisas ruins que poderiam acontecer. Ela apenas vivia o momento, e se sentia uma guerreira inabalável. Ben não estava nada diferente. Ele sorria, enquanto batia com um taco de beisebol nas aranhas enormes que se aproximavam dele. Era um pesadelo de Letis, mas ela estava ocupada espirrando spray de pimenta nos corvos e nos capangas do Cupido.
Quando Carlota surgiu pelo arco, atrás do monstro, Letis correu até ela, sem hesitar, e Ben para Hugo.
As crianças estavam atrás do monstro, que olhou para os dois mais velhos com aqueles olhos escuros e enormes, e pela primeira vez, ninguém teve medo. Mesmo com aquela pele estranha com tentátuculos. Talvez fosse verdade, tivessem alcançado a coragem. Pelo menos por mais aquele dia. No dia seguinte haveriam outros pesadelos, e outros medos. Mas estava tudo bem nisso.
E o monstro fez que sim com a cabeça, como se compreendesse. Olhar para ele não fazia mais Letis ter pesadelos, como vinha sendo quando ele surgia em seu quarto a noite.
Talvez Cupido tenha falado a verdade: As pessoas gostam de encarar os medos pois só assim podem ser maiores do que eles.
O monstro então foi até o antigo Cupido que o encarou, se levantando da mesa num pulo, parecendo bem assustado.
- Acho melhor irmos embora – Letis disse para os três.
E então correram sem olhar para trás, pelos corredores até que ouviram as risadas e viram o Sol do lado de fora da casa, através da porta de entrada. Tudo estava como devia, e isso causou um alívio imensurável nos quatro.
- Desculpa não ter contado. Ele não era mau. Mas comecei a ficar com medo, pensei que tivesse machucado você... - Carlota disse com cuidado.
Letis amava aquela menina tanto quanto a si mesma. Queria protege-la de tudo.
- É obvio que eu te desculpo. Eu te amo.
E os quatro então, não sabiam de novo o que fazer, assim como antes de entrar.
Hugo então tomou frente, gaguejando e engolindo seco se pronunciou:
- Carlota, você quer sair comigo?
E Letis segurou a risada. Não era nada romântica, e tudo aquilo parecia fofo e meloso demais, principalmente para as roupas ridículas dos dois.
Carlota, por sua vez, toda corada, disse mais alto do que precisava:
- Sim.
E os dois saíram, caminhando pelo parque, muito nervosos.
- Todo mundo é estranho assim quando está apaixonado? – Letis perguntou para Ben.
- Olha, visto o que a gente passou lá dentro...
Ela soltou uma gargalhada. Se sentia cansada e pasma. Pasma por tudo o que aconteceu.
- Aquilo aconteceu mesmo?
- Ou sim, ou o parque é realmente muito bom com os efeitos visuais.
- É... – a menina ainda sorria.
Depois de um tempo de silencio, ele falou, com um jeito tímido:
- Você é a pessoa mais corajosa que já conheci.
- E você é a mais mentirosa.
E ele riu, sinceramente, e alto. O que causou um frio na barriga de Letis.
- Ei... Você vai rir de tudo o que eu falo? É tão fácil assim?
- Se você for sempre tão boa...
E então foi a vez dela rir.
E os dois se sentaram aos pés da casa, juntos, admirando aquela tarde tão linda e alegre.
O monstro nunca mais os visitara, embora a espiral de pensamentos ainda voltasse eventualmente.
Letis se sentia feliz. Foi assim que ela se apaixonou.
O Halloween não era tão ruim assim.
616 palavras.
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Horror à Primeira Vista
FantasyLetis pensava que sua semana não podia ficar pior, até entrar naquele parque. Obrigada a levar a irmã mais nova no "Parque dos Esquecidos" no dia 31 de outubro, a garota conhece Ben, um rapaz bonito e simpático. Mas uma estranha sensação a persegue...