Capítulo 16 - Perfeita Harmonia

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Julie estava sentada sozinha em um banco na loja do Klaus.

Em poucos segundos havia se arrependido amargamente de ter convidado a Bia e Leo, seu novo namorado. Não podia acreditar que sua melhor amiga seria capaz de deixá-la de lado por causa de um garoto fresco. E ainda assim, lá estava ela.

Estava com tanto tédio que, por um minuto, pensou que preferia estar jogando dardos com o Daniel, mesmo que também fosse bem chato.
E então, quase como se tivesse lido sua mente, ele apareceu, assustando-a como sempre.

– Você acha isso divertido? - Daniel debochou - Ficar sozinha na loja enquanto sua amiga fica ouvindo música com o namorado?

– Se papai não estivesse em casa a gente podia tocar - ela suspirou.

– Eu tenho uma ideia do que a gente pode fazer - disse ele.

– Dardo não - disse Julie, pensando que era isso o que ele tinha em mente.

– Não é dardo - disse Daniel, sorrindo de lado.

Ele se encaminhou para a entrada da loja. Julie olhou para os fundos da loja para ver Bia e Leo curtindo uma música. Correu até Daniel. Eles não sentiriam sua falta.

Andaram um pouco até uma antiga loja de música. O sol já havia se posto e agora a lua brilhava no céu.

– É aqui - disse Daniel, indo até a entrada.

– Mas... tá fechada - disse Julie, constatando o óbvio.

Daniel revirou os olhos e suspirou, aparentando impaciência diante da lerdeza de sua acompanhante.

Ele atravessou a porta de vidro trancada e sumiu dentre os instrumentos musicais.
Julie ficou sozinha do lado de fora e, depois de um tempo, começou a ficar preocupada. Preocupada de estar sozinha à noite e também imaginando se algo teria acontecido a Daniel.

– Daniel - chamou - Daniel.

Ela ouviu o barulho de uma janela se abrindo. Se virou e viu Daniel se apoiando contra o parapeito de uma das janelas da loja.

– Tem certeza de que está fechada? - ele zombou.

– E se tiver alarme? - perguntou Julie, preocupada.

– Eu já desliguei o alarme - disse Daniel, confiante - Vem.

Julie olhou em volta, para ter certeza de que ninguém veria quando ela invadisse uma loja no meio da noite.

Então ela escalou a parede até chegar à janela, e Daniel a ajudou a passar, segurando-a num abraço apertado para que ela não caísse e se sentisse segura.
Assim que ela passou, Daniel fechou a janela e se encaminhou para o fundo da loja.

– Que lugar incrível - disse Julie, admirando o local.

– Essa loja existe desde a minha época - disse ele, nostálgico - Eu sempre vinha aqui. Depois de morrer eu até morei aqui por um tempo.

– Sério?

– Uhum. Eu vinha para cá... dormia ali naquele canto - disse Daniel, apontando - Quando a loja fechava, pegava os instrumentos e tocava a noite inteira.

Julie o olhava, encantada de finalmente ouvir uma de suas histórias.

– Tinha um funcionário que jurava que a loja era mal assombrada - disse ele - Mas ninguém acreditava nele.

Julie riu.

– Depois de um tempo... eu voltei para a edícula e, sei lá, perdi a vontade de tocar, sabe? - Daniel desabafou - Eu fiquei trinta anos sem encostar em uma guitarra. Até que você apareceu.

E se...?Onde histórias criam vida. Descubra agora