Capítulo 1

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Ele andava apressado em meio ao paddock. Suas bochechas queimavam de vergonha de que tivessem lido a matéria sobre seu encontro com Cyril. Onde já se viu, um chefe de equipe gay? Nunca seria levado a sério, perderia toda a confiança que batalhara por anos para conquistar. 

Por isso terminar foi a melhor decisão. Doía tanto que mal podia respirar; chorou, com os dedos trêmulos em volta do celular, por horas a fio. Não era justo ter que deixar o amor da sua vida por influência dos outros, por medo de perder tudo, mas a vida não era justa. 

Seria o melhor para Cyril também, por pior que fosse admitir isso. O francês nunca teve medo de se assumir, sempre teve orgulho do namorado e era o ponto confiante da relação. Por isso ele merece alguém melhor, alguém que grite ao mundo que o ama, não quem se esconde atrás de uma máscara por pura covardia.

Horner era um covarde egoísta, e sabia disso. Odiava, mas não mentia para si mesmo. Preferia manter sua mentira e seu trabalho do que colocar tudo em jogo, mas foi assim que foi criado. Nasceu para ser um homem de verdade, alguém que sustente a sua casa com um trabalho estável. Alguém que vá se casar com uma mulher incrível, com quem terá filhos e criará uma nova família.

Amar Cyril nunca esteve em seus planos. Entrar para este relacionamento nunca foi sua maior meta, mas foram, surpreendentemente, os melhores momentos que vivera em toda a sua vida. 

Porém isso havia acabado. Precisava se afastar, pelo bem dos dois. Precisavam superar o que aconteceu, deixar no passado, e Chris faria o necessário para isso.

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Ele havia fugido, era o melhor a se fazer, pelo menos por agora. Havia feito tudo que era possível para não encontrar com Cyril no paddock: chegava duas horas mais cedo, saia duas horas mais tarde, levava o seu almoço e comia dentro da sala. Tudo para que não tivesse que olhar nos olhos do francês e confirmar o término.

Não se arrependia, sabia que tinha feito o que era certo, mas faltava coragem para que se despedisse. Uma hora teria que acontecer, porém enquanto pudesse, Christian iria postergar o sofrimento de ambos. 

Já era noite, a brisa fria de Singapura abraçava sua pele enquanto se apressava pelo estacionamento vazio do autódromo. 

A lua brilhava, competindo com as luzes fortes do prédio ao seu redor. Era seu último dia no país antes de viajar de volta para a Inglaterra, tendo uma semana de intervalo até a próxima corrida. O que também significaria uma semana de intervalo de Cyril, uma semana para organizar seus pensamentos e chegar a um plano melhor do que continuar fugindo do francês até sua aposentadoria. 

Chegando ao carro, Christian guarda suas pastas com calma, pouco preocupado com o que acontecia ao seu redor. A essa hora a grande maioria dos funcionários já havia pego seus vôos e ido com pressa rever suas famílias, não haveria quem quisesse permanecer. 

Porém, quando seu corpo é puxado por mãos firmes, e ainda assim delicadas, seu coração rapidamente acelera. Christian tenta pronunciar alguma coisa, pedir para que o solte ou para que o agarre mais forte, mas tudo que consegue fazer é encarar aqueles olhos verdes. Olhos que um dia o olharam com tanta ternura e paixão, mas hoje estão escurecidos, tempestuosos como um mar aberto e decepcionados como nunca antes estiveram.

– Como você teve coragem? – o francês solta, com uma voz rouca e controlada, enquanto o pressiona contra o carro. – Como, depois de anos, você tem a coragem de terminar comigo assim? Por mensagem, e ainda fugindo de mim. Eu não merecia mais que isso?

Se seu olhar já quebrava Horner, sua voz era o que precisava para que começasse a chorar. Cyril sempre soube que não assumiriam essa relação, Horner sempre fez questão de deixar isso claro, não criar nenhuma ilusão. Porém, em algum momento, percebeu que ainda existia uma esperança nos olhos do francês como se, através de todo amor e carinho que compartilhavam, pudesse transformar seus pensamentos e ações. Christian sabia disso, sabia da esperança e deixou ela continuar por puro egoísmo. Agora deveria saber lidar com as consequências disso. 

– Me perdoa, meu amor. – Horner fraqueja, sua voz trêmula enquanto segura o choro em sua garganta. – Me perdoa, eu nunca quis que acabasse desse jeito, mas não podia deixar que descobrissem. Foi o melhor a se fazer, por nós dois. 

– Por nós dois? Como acha que pode falar o que é melhor pra mim, Christian? – Cyril se afasta com indignação, levando consigo seu calor. Uma mistura de frio e medo absorvem o corpo de Chris com sua saída. – Você me quebrou. Me mandou mensagem sem nem mesmo se dar ao trabalho de me olhar nos olhos, sem ter a decência de conversar comigo. Fugiu de mim como se eu fosse um monstro que está tentando destruir a sua vida, e se eu não tivesse te pego hoje de surpresa ainda estaria fugindo.

Não havia o que responder. Seja lá o que tentasse falar, só pioraria a situação. Ao mesmo tempo que gostaria de ajoelhar e implorar pelo seu perdão, Christian gostaria de entrar em seu carro e nunca mais olhar para o francês. Gostaria de fugir para um lugar distante e fingir que nunca escolheu deixar seu amor. 

– Fale comigo, Christian! Grite, me bata, me xingue, mas diga alguma coisa! – Cyril grita, se aproximando novamente, com mais brutalidade que da primeira vez. – Me trate como alguém que já amou, alguém com quem você pensou em ter futuro. Pelo menos me mostre que não sou só um amante qualquer como me fez pensar, que pode ser dispensado de qualquer forma depois de algumas noites bem dormidas. Me mostre que eu mereço mais respeito do que me deu. – as lágrimas teimosas começam a descer pelos rostos de ambos. A vida era injusta, nada disso deveria estar acontecendo. 

Em um ato de desespero, querendo um último toque de seu amante, Horner agarra a camisa de Cyril, trocando suas posições e prensando-o à porta do carro. Suas bocas se encontram em agonia, as lágrimas se misturando e dando um gosto salgado ao beijo. Queriam marcar esse momento, decorar as sensações de suas línguas se encontrando e o sabor de suas bocas. 

Porém é um beijo que acaba rápido demais. 

- Não faça isso, ma vie.- os olhos de Cyril ainda estavam fechados, suas testas coladas enquanto aproveitavam suas últimas lembranças.- Não me deixe, eu faço o que você quiser. Só não me deixe.

– Eu te amo, Cyril, mais do que vou amar qualquer pessoa que possa entrar em minha vida. – Horner diz, já se afastando do francês, que o olha ainda tentando processar o beijo e as palavras do parceiro. – Você merece muito mais. Por mim, procure alguém que te ame com tanta intensidade quanto eu te amo, mas que seja corajoso o suficiente para admitir isso. 

E com o gosto das lágrimas em sua boca ainda dormente e o peso da covardia em suas costas, Christian entra em seu carro e parte, sem olhar para trás.

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