Capítulo 2

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O senhor o encarava com firmeza, enquanto Horner tentava manter uma postura confiante. Sabia que aquele momento iria chegar, já havia ensaiado mil e uma mentiras diferentes para que pudesse explicar as fotos, mas não achou que as perguntas seriam tão diretas. 

– Christian, você é gay? – Helmut Marko questionava com claro desgosto em suas feições. Toda essa situação só comprovava sua teoria: assim que sua orientação sexual fosse conhecida ele perderia o emprego. Sem questionamentos ou confiança em seu trabalho. 

– Não, senhor. – por milagre, e anos de treino, sua voz saía clara e firme. Seu rosto relaxado para demonstrar tranquilidade, mesmo que por dentro sua alma estivesse em pura agitação. 

Helmut o estuda por alguns segundos, para então voltar a tomar seu café. 

– Que bom, não aceitaria mariquinhas em nossa equipe. Precisamos de homens aqui, que aguentem a pressão e trabalhem direito. Não gostaria de me desfazer de você, Christian. – os esforços de Horner aumentavam para que não batesse no idoso. Em que seu amor interferia no trabalho? Isso o fazia menos competente? 

Não importava. Dentro da equipe ele era um subordinado como qualquer outro. Devia abaixar a cabeça e ouvir o que quer que o senhor a sua frente quisesse dizer a seu respeito, caso desejasse manter o emprego. 

– Não precisa se preocupar com isso senhor, sou muito confiante quanto a minha sexualidade. – e ainda mentia com tamanha facilidade que chegava a se assustar. Devia ser a pessoa mais insegura quanto a sua orientação dentro de todo o paddock.

– Pois então, acredito que entenderá minha decisão. – afirma Marko, se inclinando em direção ao outro. – O motor Renault vem causando grandes problemas na temporada. Nossos pilotos já abandonaram corridas demais por falhas nos motores, e mesmo quando não abandonam, não é o suficiente para competirem com a Mercedes ou com a Ferrari. Viemos testando os motores Honda, eles tem funcionado muito bem na equipe júnior e recebemos ótimas propostas para aplicá-los no ano que vem. É o cenário ideal atualmente, faria bem para a equipe de todas as maneiras, melhorando nosso carro e limpando sua situação.

As implicações por trás da fala do chefe incomodaram Christian mais do que gostaria de admitir. Já havia cortado suas relações pessoais com Cyril, agora teria que cortar no trabalho também? O motor realmente vinha causando problemas, mas depois de anos de parceria com a fornecedora, eram mesmo os problemas técnicos a sua maior motivação para a troca? 

Novamente questionamentos irrelevantes. Não importava quantas teorias da conspiração fizesse sob Marko, a decisão estava tomada, cabia a ele aceitar. 

– Claro chefe, o que for melhor para equipe. – diz já se levantando. A sala em que se encontravam parecia cada vez menor, mais sufocante. Queria sair de lá o mais rápido possível. – Se não se importa, tenho alguns problemas a resolver com os pilotos antes da qualificação.

– Claro, já terminei o que tinha para falar. – Helmut fala com um leve sorriso, como se seu dia estivesse feito depois dessa conversa. 

A raiva sobe por Christian, porém ele a contém com a mesma rapidez com que a deixou surgir. Aquela não era a hora e nem o lugar, devia controlar sua cabeça e manter a postura. Não importava o que acontecia em sua vida pessoal, o seu trabalho era o foco, e assim deveria continuar.

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– Daniel, seu desempenho não vem sendo muito satisfatório nas últimas corridas. – Horner fala com calma, olhando para o piloto sobre a mesa do restaurante. – Sei que o motor está muito envolvido nisso, mas também sinto que há algo pessoal.

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