FIM

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POV. JASON

Estou sentado em uma poltrona de couro preta no canto da sala de estar da casa do meu pai lendo um dos livros antigos que encontrei perdido nas prateleiras. Estou aqui há treze dias e já quero arrancar meu braço com uma faca de manteiga só pra ter algo com o que matar o tempo. A casa é incrível e os terrenos são enormes, mas não encontro a disposição pra fazer algo sozinho e vazio do jeito que estou.

Albany, a elfa doméstica entra pela sala fazendo um barulho estridente. A casa está tão vazia e silenciosa que o mero barulho da colher de prata tremendo na bandeja parece ficar dez vezes mais alto. Ela vem trazendo uma xícara com um líquido preto grudento que identifico como café e uma carta.

- Muito obrigado, Albany - eu agradeço com carinho e bebo o líquido horrendo na xícara de porcelana francesa. A elfa é super dedicada e amorosa, além de ser boa em muitas coisas, mas seu café é quase um crime - Está uma delícia - eu minto porque nada a deixa mais feliz do que elogios à sua comida.

- É tão bom tê-lo em casa, senhor Jason. Seu pai não é a companhia mais animada, se me permite dizer - ele diz e solta um risinho contido.

- Sinto dizer que também não sou a melhor pessoa pra se ter por perto ultimamente, Alby - eu comento cansado.

- Algo está te angustiando, senhor. O que aconteceu? - ela pergunta com preocupação verdadeira.

- Problemas pessoais, uma garota pra ser mais específico - eu solto uma risada falsa.

- Problemas com garotas são sempre os mais difíceis - ela diz como se soubesse exatamente o que aconteceu mesmo que eu não tenha contado nada - O senhor a ama?

- Mais do que qualquer coisa - eu digo sem hesitar porque é a única coisa de que tenho certeza.

- Se me permite um conselho, lute por ela. Insista, mas saiba também quando desistir.

- Eu gostaria de saber o que fazer - eu comento.

- Poucas pessoas sabem o que é amar de verdade, criança. E acredite em mim quando digo que nada dói mais do que o arrependimento de ver o amor da sua vida escapar entre seus dedos. O senhor é um garoto esperto, vai descobrir o que fazer - ela diz enigmática e se retira da sala com outro risinho contido.

Decido abrir a correspondência antes de voltar a remoer minhas frustrações e me deparo com um postal da minha mãe. Ela está em uma reserva de criaturas mágicas raras no meio da floresta amazônica estudando as lesmas de fogo brasileiras. A foto no postal é dela no meio da mata acenando animadamente. Observo mudanças significativas desde o último postal há alguns meses, seus cabelos castanhos antes longos estão cortados acima dos ombros e ela parece estar muito mais bronzeada, com algumas queimaduras ocasionais pelo corpo que eu suponho ter sido causadas pelas lesmas de fogo. A mensagem é curta e carinhosa, me convidando para uma visita em agosto.

Uma onda súbita de energia invade meu corpo e sei exatamente o que fazer.


POV. ANNA

Estou no sofá da casa dos meus pais no campo, assistindo um programa estúpido na televisão enquanto minha mãe pinta furiosamente em uma tempestade de inspiração, tem tinta roxa em seu cabelo ruivo e a tinta azul em sua bochecha me lembra do azul dos olhos de Jason. Ele tem invadido minha mente todos os dias desde a conversa no trem e ainda não me decidi sobre o que fazer.

Estou absorta nos meus pensamentos e tentando ignorar o programa trouxa horrível e completamente sem graça que está passando quando uma coruja completamente branca entra voando pela janela e quase mata minha mãe de susto. Ela derruba um envelope perolado na mesa de centro e balança as penas aparentemente cansada da viagem. Eu coloco um pouco de água e pouco da ração da Hope perto dela e me ponho a analisar o envelope.

É um envelope simples, mas o selo de cera verde com um D adornado me diz imediatamente quem enviou aquela coruja. Abro a carta e me deparo com um cartão postal de uma casa no campo, junto do postal há uma carta com a letra fina de Jason:

"Não consigo parar de pensar em você. A cada nascer e pôr do sol, a cada brisa que sopra pela janela, a cada batida do meu coração só existe você. Nunca conheci alguém me fizesse acreditar que eu era bom o bastante, saber que alguém como você pode me amar mesmo que por um breve período de tempo me permite acreditar que há algo em mim que vale a pena. Você é a luz em meio a completa escuridão. Nada me dói mais do que a possiblidade de nunca mais sentir seu cheiro ou o gosto de sua boca, nunca mais poder ouvir o som da sua risada ou ver o olhar em seu rosto quando eu digo algo sem sentido. Espero que seja completamente feliz cada segundo da sua vida e espero estar com você pra isso. Sei que vai decidir o melhor pra você. Por favor venha me encontrar no meu aniversário, assim saberei que ainda há esperança. Se não aparecer, entenderei o recado e te deixarei em paz. Pra sempre seu, Jason Delacrox".

A delicadeza do gesto me comove e sinto as lágrimas brotando nos meus olhos. Cada fibra do meu corpo quer acreditar que ainda há uma chance pra nós, mas meu cérebro implora para que eu ouça a voz da razão e me poupe de mais sofrimento. Mesmo que tudo que ele disse seja verdade, não há garantias de que nós daríamos certo. Provavelmente não.

Minha mãe se senta ao meu lado no sofá e passa o braço pelos meus ombros - O que aconteceu querida?

- Eu tenho que tomar uma decisão e qualquer uma das opções acaba comigo devastada - eu digo aninhada em seu colo.

- Então escolha a que o seu coração mandar, não dê ouvidos ao seu cérebro, não vai te fazer feliz. Somente as escolhas feitas pelo coração tem a capacidade de nos proporcionar felicidade verdadeira - ela diz com carinho - Só se vê bem com o coração.

- O essencial é invisível aos olhos - eu completo a frase do livro que ela costumava ler pra mim todas ás noites.

- Tenho certeza que vai descobrir o que fazer, meu amor - ela diz e volta a sua pintura.


POV. JASON

Passei meu aniversário agitado e ansioso, pareço um fugitivo do ministério. Recebi algumas cartas e presentes de amigos e familiares e Albany até fez um bolo de aniversário pra mim, mas nada foi capaz de aplacar o aperto em meu peito que se intensiva a cada hora que passa.

Já passa das sete e está caindo uma tempestade lá fora, estou jogado derrotado no sofá ao lado da janela. Estou no processo de aceitar a derrota e entender que ela não vem, mas esse pensamento queima como ácido no meu estômago. O barulho da chuva embala minha derrota e eu encaro o vasto terreno pela janela perdido em meus pensamentos. Uma perturbação no ar lá fora atrai minha atenção e me deixa confuso por alguns segundos.

Vejo uma figura se materializar no lado externo da casa, mas não consigo distinguir nada por causa da chuva. Me dirijo pra porta da frente enquanto uma esperança fraca toma conta do meu peito, enquanto meu cérebro se ocupa em me relembrar que provavelmente é só meu pai voltando mais cedo ou até nada. Abro a porta e todos os pensamentos fogem da minha mente.

Tudo que consigo ver é uma figura ruiva se aproximando em meio a chuva. Ela veio. Me apresso pela porta da frente e corro pela grama molhada antes que ela desapareça de novo. Vejo seus olhos verdes me encarando enquanto um sorriso travesso se instala em seu rosto e sinto meu coração bater descontroladamente. Nossos corpos se chocam e eu envolvo seu corpo em meus braços em uma tentativa desesperada de provar que ela é de verdade e não somente um fruto da minha mente perturbada. Nossas bocas se encontram e nossas línguas se entrelaçam em um beijo cheio de pressa e saudade. Tudo que passamos nos levou a esse momento, todo o resto foi apagado e só existe esse momento. Esse beijo cheio de significado na chuva.


Eiiiii lindezas! Espero que tenham gostado do desfecho desse casal que ganhou meu coração e acho que o de vocês também. Deixem suas opiniões nos comentários e não se esqueçam de votar e compartilhar a história.

Foi um prazer escrever essa história com vocês, muito obrigada de todo o coração. Vocês são leitores incríveis. Beijinhossss <3!

Obs.: Não se preocupem, já tem outra história saindo do forno pra vocês. Algo um pouco diferente dessa vez.

Uma História em HogwartsOnde histórias criam vida. Descubra agora