Cap 9: Anéis

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Os dois caíram em uma rotina. Chegavam cedo no set, gravavam as cenas da manhã, aproveitavam pra conversar e cochilar durante as pausas, as vezes sozinhos, mas a maioria das vezes juntos. Gulf se perguntava quando foi que começou a gostar de tanto contato físico, mas se viu cada vez mais confortável entre os braços de seu Phi. Desde os pequenos abraços durante o dia-a-dia, até dormir juntos.. ele não só passou a se sentir confortável como também sentia falta do contato quando estavam longe.

Mas é lógico que ele não ia contar isso pra ele, se não ia ser zoado pra todo o sempre.

Eles também saíam pra jantar quando precisavam gravar à noite, as vezes acompanhados de outras pessoas, mas a maioria das vezes sozinhos. Eles não conversavam sobre essa preferência que davam pros seus momentos a sós, ou sobre como Gulf parecia estar muito mais confortável quando P'Mew estava ao seu lado, ou sobre como Mew parecia abdicar de tudo pra garantir que seu nong estivesse feliz.

Mew agora já tinha certeza de que seus sentimentos não se limitavam somente à uma amizade e, pra falar verdade, tinha ficado em pânico por algum tempo. Ele até pensou em limitar um pouco os toques e as saídas juntos, mas logo desistiu quando percebeu que iria ter que abdicar, acima de tudo, de uma das melhores amizades que já fez em sua vida.

Com o passar do tempo o pânico se foi. Agora era como se seu sentimento estivesse.. estável. Por mais que ele estivesse se apaixonando, ele priorizava a amizade que tinham e não queria perdê-la por nada, já que Gulf passou a ser uma das pessoas mais importantes em sua vida e se tornavam cada dia mais próximos. Ele queria proteger o amor que tinham um pelo outro, seja lá de qual natureza for.

Porém existiam momentos de fraqueza: olhares, toques e falas de seu nong que faziam Mew se perguntar se o mais novo poderia estar sentindo alguma coisa também.

Talvez ele só saberia se contasse a verdade.

Ou se Gulf descobrisse.

(...)

''Esse aqui é o ré'' Mew disse, ajoelhado na frente dele e movendo o indicador de seu nong para a 3ª corda do violão.

Gulf sorriu e passou os seus dedos pra baixo nas cordas do violão. Felizmente os seus dedos eram longos então ele teve facilidade pra manter o acorde pressionado.

''Eu sou muito bom nisso aqui'' Gulf disse, agora tocando o violão no mesmo ritmo que uma criança de 6 anos tocaria. ''Um talento natural''

Mew soltou uma risadinha e começou a trocar os dedos de seu nong pro próximo acorde. Os dois ficaram em silêncio enquanto Mew fazia a ação, Gulf olhando pras mãos de seu phi atentamente.

''P'Mew?''

''Hmm?''

''Por que você usa um anel no dedão?''

Mew olhou pro seu nong por um momento e sorriu com a expressão de curiosidade do garoto, mas logo retornou seu olhar pro que estava fazendo.

''Me ajuda com minha ansiedade'' Mew terminou de colocar os dedos no próximo acorde. ''Esse acorde é o sol''

Gulf estava em outro planeta e do nada tirou os dedos do violão pra segurar a mão de P'Mew e trazer mais pra perto de seu rosto, observando o anel. Mew não teve nem tempo de ficar com raiva da falta de foco do mais novo, pois amoleceu com a fofura dele acariciando seus dedos.

''Eu acho bonito''

Mew piscou uma, duas vezes. ''É?''

''Sim'' Gulf sorriu. E entrelaçou as suas mãos. Esses momentos de intimidade tornavam-se cada vez mais frequentes quando os dois estavam sozinhos.

Mew engoliu seco e tentou ignorar a súbita vontade de beijar todos aqueles dedinhos que pressionavam firmemente contra os seus. Gulf desceu suas mãos entrelaçadas, botando-as em seu colo.

''Não sabia que phi ficava ansioso assim'' Gulf disse, agora olhando e passando os dedos nas cordas do violão devagarinho, com uma mão só. ''Você é tão confiante''

Mew riu. ''Nem tanto assim, todo mundo é inseguro. Eu só sei esconder bem''

Gulf olhou pra ele. ''Inseguro.. por quê?''

Mew passou o seu polegar pela mão de Gulf, fazendo carinho. ''Não sei..'' uma pausa. ''.. medo das pessoas não gostarem tanto de mim o quanto eu gosto delas''

Gulf franziu o cenho. ''Por que não gostariam?'' Gulf desfez o entrelace de suas mãos e se levantou para colocar o violão no suporte. ''Você é quase uma divindade, não tem nada de errado em você''

Mew riu e se ajeitou na posição, agora sentado no chão. ''Você sabe que isso não é verdade''

Gulf voltou e se sentou na frente de seu phi, voltando a segurar sua mão e observando seus outros aneis.

''Talvez você devesse gostar de quem gosta de você mesmo com os seus defeitos'' Gulf disse, baixinho, ainda olhando pra mão de seu phi. ''As outras não merecem a sua atenção''

Mew sorriu. Ele já tinha aprendido essa lição, mas era mais difícil de colocar ela em prática. Ele admirava essa capacidade de seu nong (de ignorar quem não gosta dele) e as vezes parece que as qualidades entre os dois se equilibravam de uma maneira bizarra, assim como os defeitos.

Depois de alguns segundos de silêncio, Gulf olhou pra frente e viu o sorriso doce do mais velho pra si, o que fez com que nong corasse.

''O que foi?''

''Nada''

''P'Meeeeeww'' Gulf implorou.

O sorriso de Mew se alargou. ''Isso quer dizer que você gosta até dos meus defeitos?''

Gulf deu um sorrisinho e revirou os olhos, corando ainda mais. Ele começou a tentar se levantar, porém Mew tirou proveito se suas mãos entrelaçadas pra puxá-lo mais pra perto, arrancando risadas do mais novo, que continuou tentando sair.

Os dois continuaram por um tempo, rindo da situação, até que de alguma forma os dois se encontraram com os dois rostos a centímetros um do outro, respirando o mesmo ar. As mãos de Mew estavam na cintura do mais novo e Gulf segurava os ombros do mais velho.

Os sorrisos se desfizeram pouco a pouco a medida em que se encaravam e a expressão de desejo era obvia no rosto dos dois. A tensão era elétrica e a impressão era que o tempo tinha parado e que todo o resto não importava mais. Mew desviou o olhar para os lábios de Gulf e o mais novo sentiu o seu corpo arrepiar dos pés a cabeça, sua nuca e orelhas agora vermelhas como um pimentão. O mais novo se aproximou involuntariamente, sentindo uma força invisível o puxando para cada vez mais perto de P'Mew. O mais velho, por sua vez, não conseguia nem registrar o que estava acontecendo, seu coração quase pulando pra fora do peito.

Três batidas na porta tiraram os dois do transe, que se desvencilharam como se o toque um do outro queimasse a pele.

Gulf olhou pra porta aberta e seus olhos se arregalaram como nunca haviam antes.

''Por que você ta aqui?'' Mew nunca ouviu esse tom saindo da boca de seu nong. Raiva?

''..Você não respondia minhas mensagens''

Mewgulf The SeriesOnde histórias criam vida. Descubra agora