A casa dos tios era grande, de dois andares, confortável, aconchegante e familiar. No hall havia fotos da família penduradas na parede. A sala, assim como o resto da casa, era alegre, cheia de vida, com plantas, tapetes, almofadas e um sofá laranja... Tudo era muito harmonioso e reconfortante, mas mesmo assim, Vanessa não conseguia se sentir em casa.
Seus tios a ajudaram com a mudança. Empacotaram suas roupas e muito de seus pertences, enquanto Vanessa se dedicava a recolher as fotos da parede e guardá-las em uma caixa de papelão. Também guardou alguns “tesouros” de seu pai, coisas que iriam fazê-la se lembrar dele.
Decidiu doar todas as roupas que pertenceram a ele, também jogou fora o que não prestava, mas mesmo assim, lhe dava um aperto no coração ver os pertences de seu pai indo para o lixo. Quando pegou sua caixa de fotografia, para colocá-la no carro, pensou se algum dia aquelas fotos, assim como a câmera, sairiam dali... Era difícil saber.
Tia Monique havia decorado um dos quartos da casa para que a sobrinha pudesse se sentir mais acolhida, mas pelo jeito, nada conseguia tirar a tristeza daqueles olhos. Talvez com o tempo a vida se encarregasse disso, mas por enquanto...
Duas semanas se passaram desde que se mudou para aquela cidade vizinha a que morava antes. A cidade era um pouco mais pacata, os vizinhos eram gentis e tinha até gramado na frente de cada casa. Vanessa sempre falou para o pai que queria morar em uma casa com gramado, como a dos tios.
Desde a infância passava, pelo menos, duas semanas de suas férias na casa dos tios, com o pai. Adorava aquele lugar, adorava o tempo que passavam juntos. Sempre se divertiam muito, viajando para a praia, velejando, fazendo piqueniques e participando de acampamentos. Não sentia falta de seus poucos amigos quando estava em férias, pois tudo o que queria eram aqueles momentos em família, mas agora iria morar ali por tempo indefinido e não passar somente as férias. Isso a assustava.
Durante as duas semanas após a morte de seus pai, Vanessa não fez nada, a não ser ler ou observar a vizinhança pela pequena sacada de seu novo quarto. Monique e Steeven faziam de tudo para agradá-la, mas Vanessa continuava deprimida e os esforços dos tios não eram bem recebidos.
Sábado pela manhã, enquanto Vanessa tomava seu café, Monique chegou à cozinha sorrindo e bem vestida. Ela sempre estava bem vestida.
- Bom dia minha flor – a tia cumprimentou lhe dando um beijo na cabeça.
- Bom dia – respondeu Vanessa passando manteiga na torrada.
- Tenho novidades hoje. – Monique olhou para a sobrinha um tanto receosa e então sorriu, pegando a torrada que Vanessa tinha acabado de passar manteiga – Adoro isso!
Vanessa tentou sorrir, estava acostumada com essa atitude da tia, pois ela sempre fazia isso para irritar seu pai, quando passavam as férias ali.
- Novidades? – questionou Vanessa pegando outra torrada.
- Sim! – exclamou a tia, respirando fundo. – A partir de hoje, você irá trabalhar comigo e seu tio na livraria.
A livraria ficava a 15 minutos da casa. Sua tia a abriu havia alguns anos e o lugar virou o ponto de parada para muitas pessoas, pois além de venderem livros, eles também os emprestavam e, como se isso não bastasse, a livraria também contava com um pequeno espaço reservado para um café, onde os clientes podiam não apenas comprar e emprestar os livros, mas também, tomar café ou comer algum lanche. A “Bookstore coffee” abria cinco dias na semana e era um sucesso desde sua inauguração.
- Na livraria? – Vanessa olhou para sua tia, surpresa.
- Isso. Eu e seu tio achamos que é uma boa idéia, pois irá te distrair um pouco.