Prólogo

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O homem estava ofegante. Sua magia estava se esgotando e não tinha muito tempo. A inimiga mortal, que já fora sua melhor amiga, em breve acordaria. Se ela acordasse não poderia evitar que não colocasse as mãos na Caixa. Ele se sacrificaria, era o único jeito. Deveria selá-la para nunca mais acordasse, mesmo que nunca mais pudesse ver seus filhos. Ou sua esposa.

O túnel da caverna era estreito, não mais que 4 metros de largura, e se não fosse pelo brilho suave da pouca magia que restava na mulher, estaria em breu total. Ele a havia encurralado naquela parte profunda; por muita sorte, se ela não tivesse se confundido na última bifurcação, centenas de metros atrás, teria escapado. O único ruído eram as goteiras das poucas estalactites ao longo do teto. Não havia nenhuma corrente de ar, e cada minuto parecia mais sufocante.

Ele tomou fôlego, e pela última vez observou aqueles longos cabelos castanhos, tão contrastantes com os seus brancos, alterados pela magia. E olhou pela última vez para a marca em sua bochecha esquerda. A marca que mudou tudo. A marca do dia em que perderam tudo e se tornaram inimigos.
Aquele leque de escamas rosa, com lâminas nas pontas e um pequeno olho no meio, era a marca da família dela. Assim como a dele, um círculo azul com um iceberg se inclinando pra fora. A marca que surgiu no dia em que os pais dos dois foram assassinados, e seus clãs entraram em guerra mortal, pela primeira vez desde a Grande Aliança.

Lembrava, e sempre lembraria, bem daquele momento, sobre o sol morno da manhã, quando gritos ecoaram do lado da cidade pertencente aos Artésia. Estava a cumprimentando do outro lado da praça, então viu o culto do homem de capa branca, o guarda costas da família dela vir correndo, com raiva como nunca vira brilhando nos olhos. Ia em direção a ele com instinto assassino. Nem dera um passo em recuo quando seu irmão chegou, irado, ao seu lado. O guarda parou segundos antes de o centro do lugar ser engolido por um buraco que descia do céu.

Era uma benção única, ouvira dizer, os poderes de seu irmão mais próximo de distorcer o espaço e abduzir objetos, assim como expeli-los. Ouviu um "corra" é então tudo que fora absorvido agora era atirado para o outro lado, uma distração. Alguns de seus guardas o agarraram, enquanto estava imobilizado pelo choque, o irmão podia ter matado a amiga de infância dele. Já estava em movimento quando um enxame de minúsculas esferas brancas destruíram e dissolveram aquele enorme pedaço de terra e concreto. O que quer que aquilo fosse quase os alcançara, se não fosse pelos buracos no espaço que se abriram e desapareceram com eles.

Era uma benção única, ouvira dizer, os poderes de seu irmão mais próximo de distorcer o espaço e abduzir objetos, assim como expeli-los. Ouviu um "corra" é então tudo que fora absorvido agora era atirado para o outro lado, uma distração. Alguns de seus guardas o agarraram, enquanto estava imobilizado pelo choque, o irmão podia ter matado a amiga de infância dele. Já estava em movimento quando um enxame de minúsculas esferas brancas destruíram e dissolveram aquele enorme pedaço de terra e concreto. O que quer que aquilo fosse quase os alcançara, se não fosse pelos buracos no espaço que se abriram e desapareceram com eles.

O inimigo era rápido, mas eles pegaram os cavalos que estavam presos naquela esquina e dispararam para o portão da cidade. Viu o homem reunir poder, parado, e depois emitir uma onda branca enorme na direção deles. Seu irmão também se concentrava, é assim que cruzaram o portal ele começou sua defesa. Primeiro, formou um losango com as mãos, onde surgiu uma fenda, algumas distorções começaram a aparecer nos limites da cidade. Depois, puxou os polos do portal e então vários deles surgiram aonde estavam as distorções, como prismas negros no ar. Por último, empurrou o ar ao lado do corpo e... uma cúpula negra se formou ao redor do lugar que já fora seu lar.

Sabia que nada passaria dali, fosse vivo, que seria barrado, ou inanimado que seria teleportados. Perguntou o que tinha acontecido, uma pequena sensação quente coçando a bochecha, talvez pelas fortes emoções, e fora quando descobrira que seu pai tinha sido encontrado naquela manhã assassinado. E sua marca brotou na pele, como uma semente de vingança e choque entregue pelos céus.

Balançou a cabeça, de volta à caverna, para afastar a onda nostálgica que surgia. Já havia perdido tempo demais. Inspirando profundamente, mais uma vez, se preparou para seu último feitiço. Suas mãos foram envolvidas por um brilho frio, assim como a marca que adornava sua bochecha direita, e uma brisa suave de inverno percorreu o túnel da caverna. Liberando tudo que ainda havia dentro de si o gelo partiu de seus pés, fazendo uma curva suave, e levantando a mulher até que estivesse de costas contra a parede fria, onde o gelo cresceu e cresceu até só lhe restasse a silhueta do que um dia fora.

Então, ele se esgotou. Não havia mais nada daquela canção que inundava suas veias e lhe mantinha aquecido mesmo no mais rigoroso dos invernos. Tudo era emprestado. Nada daquilo fora realmente seu um dia. Como no passado lhe fora presenteado, agora, tanto magia como sua vida, haviam de ir embora.

Ele caiu de joelhos e sua pele ficou branca. Todo o calor que um dia recebeu, agora lhe era cobrado, e o frio congelou a ponta de seus dedos e o derrubou no chão, ainda tremendo. Seu símbolo perdeu o brilho, e se tornou escuro contra a pele, assim como os seus olhos, que um dia foram de um azul forte e vivo. Sua respiração foi acalmando, até que seu último suspiro se perdeu. Sua missão estava cumprida, mesmo que tivesse custado cada fôlego dos últimos 25 anos. Enfim a paz, não só para ele, mas para sua família, seu legado, e todos aqueles que viessem. Por hora.

As Crônicas de EngelhardtOnde histórias criam vida. Descubra agora