Teya o acordou na escuridão da caverna parecendo renovada. Pelos poucos fiapos de luz que escapavam entre pedras que preenchiam a antiga passagem, ao longe, não deveria passar das 10 horas da manhã. Bom, muito bom. Tinham muito a andar e não podiam exagerar no tempo dormindo. Eles fizeram uma refeição rápida composta de sanduíches e água, e jogaram pequenos pedaços para Kiki que pulava atrás deles grasnando baixinho, e os olhando com a cabeça inclinada. Ave comilona, tinha certeza que se não prestassem atenção teriam um sanduíche arrastado para fora da mochila.
Eles levantaram, se esticaram, e pegaram tudo que tinham, penteando os cabelos com as mãos, tirando o pó das calças e enrolando os cachecóis habilidosamente. Depois partiram. Ele ainda está demorou um pouco mais para apagar o mapa personalizado na neve, só por precaução, e então seguiram por mais 10 minutos até que achassem a primeira bifurcação. Forçou os olhos contra o escuro, farejou o ar procurando cheiro de fumaça ou enxofre, e tocou o piso e as paredes, verificando se um deles era mais úmido e levava a alguma fonte segura de água.
Nada. Não havia nenhuma diferença aparente, nem mesmo o menor dos ruídos. Se assim fosse, teria que ser do jeito antigo. Uma luz fraca brilhou sobre o tecido que envolvia seu pescoço, e e sentiu os olhos fixos de sua irmã sobre si. 14 anos e ela ainda ficava maravilhada com suas habilidades. Ele bateu o pé na direção do túnel da esquerda, e o punho fechado contra a parede do que levava a direita.
As ondas viajaram pela caverna e retornaram a ele.
-Na esquerda parece haver um abismo no meio do caminho. Na direita do túnel continua por mais algumas dezenas de metros, depois acho que tem uma ponte. Não consegui ver muito além dela, mas espero que seja seguro.
-Direita então.-concluiu sua irmã- E quando pararemos por almoço?
-Já com fome? - perguntou Kay, ela deu de ombros e continuou.
-Gosto de ter uma noção do tempo que estamos aqui. Essa escuridão toda me tira a noção de tempo. Aliás, não deveríamos acender uma luz?
Ele não tinha percebido quando saíram da iluminação fraca dos últimos raios do Sol para o breu da caverna. Estava tão distraído, que se esquecera de sua irmã por um minuto, e do medo dela pelo escuro. Não era culpa dela afinal, sempre tivera pesadelos horríveis, e acordava no meio da noite só pra descobrir que seus poderes causaram destruição, e que não tinha controle sobre eles.
Não se importava muito com o escuro pessoalmente. Se acostumara a passar muitas noites em claro vigiando-a dormir, e cantando e contando histórias que ouvia no quartel. Parecia ser a única coisa que acalmava, e que lhe permitia dormir noites inteiras. Talvez porque uma presença familiar a acalmasse, mas talvez fosse uma pitada de magia que punha na voz, para tornar os contos ainda mais épicos e desejando e, de fato, induzindo-a ao sono. De qualquer forma, os poderes da irmã eram mais ativos no escuro, e em um lugar fechado como aquele poderiam ser mortal para os dois.
Ele se ajoelhou e colocou a mochila na sua frente, abrindo o zíper e tirando uma lamparina. Se virou e deu a sua irmã, que a acendeu rapidamente, tentando esconder o leve temor que brilhava em seus olhos. A luz se acendeu, e ele piscou para ajustar para os olhos. A expressão dela agora estava mais suave e tranquila, mesmo com os esforços dela para que ele não percebesse, a conhecia bem demais para ser enganado.
Antes que pudesse fechar a mochila, Kiki voou para dentro e se aninhou. Ouvira pequenos passinhos durante a noite, mas achava que tinham sido camundongos. Agora, percebia que Kiki os vigiara, pronto para crocitar, caso algum perigo se aproximasse. Devia ter herdado o zelo pela segurança do antigo dono, Winston tinha olhos e ouvidos atentos até quando comia.
Deixaria então uma abertura pequena no topo, para que não faltasse ar e não ficasse muito claro, e delicadamente pões a mochila de volta nas costas. Então seguiram pelo longo corredor da direita. Teya agora andava a frente, olhando para trás e dando pulinhos enquanto caminhava. Ela devia estar ansiosa, talvez com medo de algo? Mas não havia nada naqueles túneis, havia? Ele não sentira nada quando usara sua magia, e ainda não sentia, mas se apressou mesmo assim.
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As Crônicas de Engelhardt
FantasíaTeya e Kay Engelhardt são dois irmãos que passaram os anos fugindo e se escondendo na Cordilheira Pievar. Mais uma vez eles são descobertos, os espiões do rei os encontraram no seu último esconderijo. Deveriam fugir, para longe, o mais longe possíve...