Grávida do Alfa
Capítulo 39
Narração da autora
Aceitação
- Vou pegar mais suco de laranja. - digo.
Me sinto no piloto automático. Não tenho controle dos meus movimentos. Arrasto a cadeira ruidosamente no chão de madeira gasta e me levanto. Pego a jarra do suco com as duas mãos e agarro ao peito, mas não sinto seu peso e nem suas gotículas geladas molharem meus braços descobertos. Desvio da cadeira de mamãe encostada na parede.Finalmente chego à cozinha, mesmo que perto, parecia a uma eternidade de distância. Coloco a jarra no balcão, mas sou incapaz de soltar ou deixar de encarar o recipiente quase vazio. Me sinto como a jarra. Pequena e desgastada. Vazia, pois tomaram tudo de mim. Apenas um objeto pros homens que estão esperando na sala de jantar.
Não posso fazer isso. Não posso me casar. Não estou preparada. Isso sequer é legal, uma menina de 16 anos casar? Ainda mais com alguém mais velho. Pode não ser tão mais velho, mas, 3 anos, pra quem viveu só 16, é muito. E casar com o Felipe? Ele não é um príncipe encantado, mas não temos nada, ele não é pra mim.
Quanto mais penso no assunto, mais aumenta minha tremedeira, minhas mãos já não param quietas.
Preciso encher a jarra de suco e voltar, mas como voltar para o jantar? Não estou em condições de encarar essa situação. Como me jogam uma bomba dessas? Não posso me casar.Abro a geladeira em busca do galão de suco e o despejo na jarra, mas, minhas mãos me traem ao tremer e derrubo um pouco do suco fora do bucal, acertando o chão e o balcão. Com os pensamentos a mil por hora procuro um pano para limpar essa sujeira. Assisto o tecido seco chupar o excesso de líquido laranja lentamente do chão enquanto o passo, enxáguo o mesmo e passo um produto onde antes estava o suco, restaurando, assim, a ordem dentro da cozinha. Depois de limpo, deixo o pano de lado.
Encaro a jarra por alguns minutos, falta algo, mas não imagino o que seja.
Olho em volta da cozinha e me perco em pensamentos novamente. "Será esse o resto da minha vida? Ficar dentro de uma cozinha? Porque esse será meu futuro se me casar com Felipe, ele não quer alguém para amar, quer uma empregada."
Não suporto a ideia de passar o resto de meus dias presa dentro de uma casa, tendo que agradar Felipe. "Uma relação sem amor, que será mais fria que o gelo... Gelo! Isso que falta no suco."
Abro o freezer e encontro poucas pedras de gelo, "isso não será o suficiente", penso, "mas o suco já estava na geladeira, não fará diferença".Coloco as pedras no suco e fecho a tampa do recipiente. Mantenho a mão em cima da tampa, "todo esse tempo na cozinha não me trouxe uma luz sobre a situação. Quer dizer, não é bem assim, já previ meu futuro se seguir o que eles dizem, mas o que fazer pra sair disso? É o filho do Alfa que eu to recusando, mais do que isso, o primogênito do chefe, o herdeiro, o futuro Alfa. Não só isso, estou desonrando um compromisso que papai assumiu, além de trazer mais desgosto. Mas não escolhi nascer menina, se pudesse, nunca decepcionaria papai assim." Olho pra cima, em direção ao teto, buscando uma solução.
Penso em mamãe "Ela sabia disso? O que ela me diria pra fazer? Logo ela, que desobedecia papai sempre, que fazia de tudo pra me ver feliz." Me lembro do que mamãe me disse uma vez "Não precisa responder, deixe pensarem o que quiserem, e no final, você faz o que quiser"
"É isso, não preciso responder."Volto com esse pensamento para a sala de jantar, porém não consigo olhar no rosto de ninguém. Passo pela cadeira de mamãe e a agradeço mentalmente, mesmo sem tê-la presente, ainda consigo lembrar de seus sábios ensinamentos.
Posiciono a jarra em seu lugar na mesa e me sento na cadeira, só então consigo levantar minimamente o olhar. Reparo que todos já terminaram o jantar e estão na sobremesa, "É, acho que demorei um pouco pra pegar o suco."
Volto a encarar meu prato, com resto de comida fria. O enjoo que se apossa da minha barriga me impede de continuar comendo. Levanto o olhar só para encontrar o olhar gélido do Alfa.
"Será que ele percebeu minha reação negativa?", penso, "É claro que percebeu, Emma"